Gilberto Gil diz que Gal sempre foi coadjuvante para Caetano
Por Redação - 28/01/12 às 15:13
Em entrevista ao jornalista Júlio Maria, do jornal O Estado de S. Paulo, Gilberto Gil discorre sobre carreira, projetos, exílio e morte. Uma espécie de balanço, já que completa 70 anos em 26 de junho deste ano.
O cantor diz que, diferente de Caetano e Chico Buarque, que considera artistas em pleno processo evolutivo de linguagem, ele quer a calma dos recantos, a serenidade. Atualmente Gil prepara o lançamento de um novo CD, C2+Música, um álbum só de sambas e que terá como parceiro um sambista, cuja identidade ainda é mantida em segredo. Também na bela entrevista, o baiano diz que “ Gal sempre foi uma coadjuvante importante para Caetano, desde Domingo.” E revela ter sido apaixonado por Elis Regina, em silêncio.
Leia as principais citações da entrevista:
"Meu filho disse: 'É gozado alguém ter orgulho do pai ter sido preso, mas eu tenho orgulho de você'"
“Caetano diz que quem não morre fica velho. E quem fica velho amadurece, passa a ter mais escopo, mais visão, mais clareza, quietude.”
“Olha, para lhe ser sincero eu até gosto mais hoje, eu me preparei para a velhice. Eu venho ficando velho há muito tempo, me preparo para a velhice, me preparo para a morte, coisas que não interessam a muita gente.”
“Eu, Caetano, Chico, Edu Lobo, Vandré, Gal, Rita Lee… Vá botando nome nisso aí. A gente tinha de criar os simulacros disso e daquilo, as metáforas, a gente tinha que ficar ali fazendo o trabalho que o publicitário faz. Como é que doura essa pílula, como é que fala da revolta sem dizer o nome dela, como falar da indignação sem levantar suspeitas?”
“Quando me exilei, aquilo tudo foi-se embora também, foi comigo para o exílio. Exilou-se comigo. Eu não era como os meninos da militância política, para quem o exílio era classicamente exílio. Eu era um artista e minha militância era um episódio de minha vida de artista, não era a essência, não era meu ofício militar.”
“Ontem mesmo meu filho disse para mim: ‘É gozado alguém ter orgulho de o pai ter sido preso, mas eu tenho um orgulho danado de você ter sido preso, pai’. (Em 1976, Gil foi preso por porte de maconha). Ser contra a ditadura era um ato heroico, era grandioso. O exílio carimbou um passaporte para mim.”
“Eu era atraído por Elis, sonhei em ser namorado dela, me apaixonei, mas nunca disse nada. Eu participava com ela daquela coisa cívica, em defesa da brasilidade, tinha aquela mítica da guitarra como invasora, e eu não tinha isso com a guitarra, mas tinha com outras questões, da militância, era o momento em que nós todos queríamos atuar. E aquela passeata era um pouco a manifestação desse afã na Elis.”
“ Caetano não quis participar porque aquilo tinha um resultado negativo, negava uma série de coisas que a ele interessava afirmar naquele momento. No meu caso, eu saí desse jogo. Não quis fazer esse jogo, se eu fosse colocar como termo da equação essas questões e tirar a Elis da equação eu não teria ido. Mas eu fiz o contrário, eliminei todos os outros termos da equação e deixei ali só a Elis. Determinei meu ato, pautei meu ato por aquela questão. A questão era ela. Eu não tinha nada contra a guitarra elétrica.”
“A Gal sempre foi uma coadjuvante importante para Caetano, desde Domingo. Na turma baiana, esse par se fez logo, Gal e Caetano são uma parelha. Caetano não tem inibição nenhuma em colocar a Gal nesses trabalhos de coadjuvância.”
“O disco novo do Chico Buarque, que é de progressão de uma proposta. Chico e Caetano estão em progressão. Eu sou outra pessoa. Ao menos como proposta, não estou em evolução. Estou no caminho contrário, revisitando recantos da infância, da festa nordestina.”
“Vou fazer o disco de sambas finalmente, mas já falei demais sobre isso, parece que quando falamos não acontece. Bom, posso te dizer que vou chamar o Moreno Veloso e meu filho, Bem, para produzir. E que terá um sambista importante. “
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