Gilberto Gil entrega prêmio à mãe-de-santo de 91 anos
Por Redação - 11/04/06 às 09:26
O Ministro da Cultura, Gilberto Gil, entregou o Prêmio Camélia da Liberdade a Regina Bombuchê, uma ialorixá de 91 anos. Ialorixá é o correspondente feminino de babalorixá, ou seja, a mãe-de-santo que inicia as pessoas nos rituais afro-brasileiros.
A premiação aconteceu na noite de segunda-feira, dia 10, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e teve como apresentadores Isabel Fillardis e Luís Miranda. Criado pelo Centro de Articulação de População Marginalizadas (Ceap), o Camélia da Liberdade presta homenagem a personalidades, empresas e entidades que valorizam a diversidade e a inclusão étnica. Gilberto Gil fala da importância do evento.
“É uma forma de reconhecimento de várias áreas que não eram cuidadas antes com esse olhar, como é o caso da cultura negra mais popular. Essa diversificação é sinal de que as próprias comunidades estão tendo maior poder de mobilização, o que representa um avanço na percepção dos problemas, sejam eles de ordem racial, cultural ou o que for. Como a vida caminha sempre em dois sentidos, prova que a sociedade brasileira como um todo hoje está mais aberta às influências que fazem parte de sua base, como é caso da cultura africana”.
Na platéia do Prêmio Camélia da Liberdade várias personalidades negras que se destacam em áreas diversas, como o casal Benedita da Silva e Antônio Pitanga, além das atrizes Ruth de Souza, Zezé Motta e Maria Ceiça. Entre os artistas, incluindo os apresentadores do evento, um traço comum: a reivindicação de que ainda faltam papéis de destaque na dramaturgia brasileira para a raça negra.
Antônio Pitanga, por exemplo, citou vários nomes do que ele chama da velha guarda e na qual se inclui, que ajudaram a abrir espaços no cinema, teatro e tevê. Mas observou que, principalmente na telinha, o artista negro continua tendo espaço em novelas de época que tratam da época da escravidão.
“Ainda é muito corriqueiro um papel de destaque para o artista negro. Tirando a Camila (sua filha Camila Pitanga), a Taís Araújo, a Isabel Fillardis, a Maria Ceiça pode-se contar nos dedos os homens e mulheres negros com personagens de peso na nossa dramaturgia. Pertenço à velha guarda e continuo na luta, querendo que a minha raça esteja presente nos palcos, da mesma forma que está nas praças, nas ruas, nas praias, porque a raça branca é retratada dessa maneira e, por isso, sempre tem mais espaço”.
Ruth de Souza diz que ainda falta muito para os negros terem igualdade de condições no meio artístico e em outros setores da sociedade brasileira.
“Por isso acho importante um prêmio como o Camélia da Liberdade que valoriza tanto a nossa raça quanto aqueles que já não fazem distinções entre negros, amarelos ou índios. Na minha área de atuação, por incrível que pareça, acho que a dificuldade é igual. Viver de arte no Brasil é difícil tanto para o negro quanto para o branco”.
Maria Ceiça defende que o espaço do negro na dramaturgia brasileira ainda caminha devagar.
“Ainda precisamos ter personagens com mais voz”, cita a intérprete da Marília da novela Prova de Amor, da Record, personagem de destaque na trama.
Os mestres-de-cerimônia Isabel Fillardis e Luís Miranda reconhecem que a luta para os negros conseguirem se destacar em qualquer área ainda é grande. E defendem que não se pode ficar de braços cruzados.
“Temos que correr atrás de nossas conquistas, de nossos direitos. Eu, particularmente, não posso reclamar do mercado de trabalho. Mas reclamo por aqueles profissionais negros, artistas ou não, que não conseguem se destacar, e a gente sabe bem o motivo. O pior no nosso país, é o preconceito. Minha filha Analuz, por exemplo, é a única negra na escolinha dela. Sinto falta da história da nossa raça nos livros escolares. Com muita luta, a única personagem negra que hoje é estudada é o Zumbi dos Palmares. É muito pouco, para tudo o que o negro fez e faz pelo Brasil”, conclui Isabel, apoiada por Luís Miranda.
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