Netflix compra Warner e vira Hollywood de cabeça para baixo
Por Flavia Cirino - 06/12/2025 - 09:14

A Netflix decidiu avançar sobre um território que, até pouco tempo atrás, parecia distante de seu modelo de negócios. A empresa fechou a compra da Warner Bros. Discovery e movimentou Hollywood de forma rara. Dessa forma, agora une o maior serviço global de streaming pago a um estúdio clássico, que atravessou quase um século de transformações na indústria.
O passo, anunciado na sexta-feira, 5 de Dezembro, coloca a gigante do streaming diante de um ecossistema amplo, repleto de marcas culturais e propriedades valiosas. Assim, amplia disputas por audiência, atenção e poder.
Sob os termos divulgados, os acionistas da Warner Bros. receberão US$ 27,75 por ação em dinheiro e em papéis da própria Netflix. Desse modo, leva o valor total da operação para US$ 72 bilhões. Além disso, a transação avalia a empresa adquirida em aproximadamente US$ 82,7 bilhões. Antes do fechamento, previsto para ocorrer em até 18 meses, a Warner Bros. concluirá o já planejado spin-off de sua divisão de canais, responsável por redes tradicionais como CNN, TBS e TNT.
A cisão deve acontecer no terceiro trimestre de 2026 e entregará à Netflix um grupo mais enxuto, voltado principalmente para cinema, TV premium e streaming.
A movimentação repercutiu no pré-mercado em Nova York. As ações da Netflix recuaram 2,3%, enquanto os papéis da Warner Bros. registraram alta de 1%. As oscilações refletem dúvidas, expectativas e o impacto direto de uma integração que promete reconfigurar modelos de produção e distribuição.
Impactos da guinada estratégica
A compra marca a maior aquisição já realizada pela Netflix. A empresa cresceu primeiro com licenciamento de terceiros e, depois, com conteúdo próprio, mas sempre manteve distância de estruturas gigantescas de estúdios.
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A absorção da Warner Bros. altera essa lógica e entrega ao streaming um portfólio de peso: HBO, séries históricas como The Sopranos e The White Lotus, franquias como Harry Potter, além do catálogo de Friends e dos estúdios localizados em Burbank, na Califórnia.
No comunicado, Ted Sarandos afirmou: “Juntos, podemos oferecer mais do que o público gosta e ajudar a definir o próximo século de histórias”. O executivo reforçou que a Netflix pretende manter operações-chave da Warner Bros., inclusive o compromisso com estreias exclusivas em cinema — ponto sensível para Hollywood, já que o streaming, por anos, demonstrou desapego a janelas tradicionais.
Além disso, a empresa afirmou que a fusão permitirá ampliar a produção nos Estados Unidos, fortalecer investimentos em conteúdo original e criar empregos, enquanto projeta economias anuais entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões a partir do terceiro ano. O potencial desse corte reflete a disputa cada vez mais intensa por rentabilidade no setor, que vive um momento marcado por retração na TV tradicional e reorganização de negócios.
Disputa nos bastidores e alerta regulatório
A venda da Warner Bros., iniciada em outubro, atraiu grupos interessados como Paramount Skydance e Comcast. O processo evoluiu rapidamente e, segundo informações de bastidores, gerou atritos.
A Paramount chegou a acusar a rival de conduzir negociações de forma desigual. Para assegurar o acordo, a Netflix aceitou pagar uma multa de rescisão de US$ 5,8 bilhões caso o negócio não avance por motivos regulatórios ou desdobramentos internos.
O apetite da empresa surge em um momento de declínio acelerado da TV paga. A divisão de canais da Warner Bros. registrou queda de 23% na receita mais recente, pressionada pela fuga de assinantes e pelo encolhimento do mercado publicitário.
Enquanto isso, a Netflix fechou 2024 com receita de US$ 39 bilhões, aproximando-se de uma escala antes dominada apenas por conglomerados tradicionais. A Warner Bros., fundada nos anos 1920, também ultrapassou US$ 39 bilhões no mesmo período.
Operação já provoca reações políticas
O republicano Darrell Issa encaminhou uma nota a reguladores americanos, alegando risco ao consumidor. A Netflix, por sua vez, argumenta que sua concorrência direta inclui plataformas como o YouTube.
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O acordo deverá enfrentar amplo escrutínio antitruste nos EUA e na Europa, já que o impacto sobre a oferta de conteúdo, preços e diversidade preocupa autoridades e entidades ligadas ao setor.
O avanço sobre Hollywood também reacende debates sobre a relação da Netflix com o cinema. A empresa, conhecida por priorizar lançamentos globais diretos em streaming, verá sua estratégia se confrontar com a tradição da Warner Bros., que valoriza estreias robustas e campanhas longas no circuito comercial.
Pelos termos finais, os acionistas da Warner Bros. receberão US$ 23,25 em dinheiro e US$ 4,50 em ações ordinárias da Netflix. A operação conta com assessoria financeira da Moelis & Co., Wells Fargo, BNP Paribas e HSBC, além de Allen & Co., JPMorgan Chase e Evercore no lado da Warner Bros.
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino

























