Venda bilionária da Paramount avança após acordo com Trump

Por - 25/07/2025 - 08:11

Donald TrumpDonald Trump - Foto: Reprodução/ Instagram @realdobnaldtrump

A venda da Paramount Global para a Skydance Media, anunciada há mais de um ano, enfim recebeu sinal verde da FCC (Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos). A autorização ocorreu somente após uma série de concessões feitas ao governo Trump e a integrantes do Partido Republicano. A operação, avaliada em US$ 8 bilhões (R$ 44,1 bilhões), agora segue para formalização.

Gil do Vigor fica indignado com Donald Trump e faz alerta

Um dos principais entraves para o negócio envolvia um processo judicial movido pelo próprio Donald Trump contra o grupo, por conta de uma entrevista concedida por Kamala Harris ao programa 60 Minutes, exibido pela CBS.

O conteúdo da reportagem teria incomodado o ex-presidente durante a campanha eleitoral. Para se livrar do embate nos tribunais, a Paramount concordou em pagar US$ 16 milhões (R$ 88,3 milhões), encerrando o processo de forma extrajudicial.

A aprovação da venda logo após o pagamento reacendeu suspeitas sobre interferência política. Ainda assim, Brendan Carr, presidente da FCC, negou qualquer relação entre os fatos. Em nota enviada à imprensa, no entanto, ele adotou um tom provocativo ao justificar a decisão.

Skydance promete limpar’ a CBS

Ao defender a liberação da venda, Carr afirmou que os norte-americanos “não acreditam mais na mídia tradicional para noticiar a verdade de forma justa”. De acordo com ele, a Skydance firmou compromisso formal para transformar a CBS em um canal com “diversidade real de visões políticas”, afastando a imagem liberal que a rede cultivou por décadas.

A promessa foi um dos fatores decisivos para a aprovação do negócio. Carr destacou ainda que a nova gestão deve “expurgar a parcialidade” que teria afastado o público da imprensa. Ele também citou o desejo de enfraquecer políticas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão), consideradas por ele como práticas “invejosas”.

“Esses compromissos, se implementados, permitirão que a CBS opere dentro do interesse público e foque em coberturas justas, imparciais e baseadas apenas na verdade. Fazer isso inicia o processo de recuperação da confiança dos norte-americanos”, afirmou. Carr também garantiu que a decisão da comissão representa “um avanço contra distorções ideológicas no jornalismo tradicional”.

O discurso indica que a nova fase da CBS tende a se afastar da abordagem crítica ao trumpismo, possivelmente aproximando-se do tom mais conservador adotado pela Fox News.

CBS cancela Colbert, renova South Park e redesenha perfil

A decisão da FCC coincide com mudanças estratégicas dentro da programação da CBS e do portfólio da Paramount. Uma das primeiras medidas foi o cancelamento de “The Late Show with Stephen Colbert”, talk show noturno de maior audiência nos Estados Unidos.

Receba as notícias de OFuxico no seu celular!

A decisão se deu dias após o apresentador criticar Trump com veemência, incluindo ataques diretos ao acordo extrajudicial.

Embora o programa permaneça no ar até maio, por obrigações comerciais, Colbert intensificou as críticas nas últimas edições. Em uma delas, usou termos fortes ao comentar o caso, dizendo, sem rodeios, que Trump poderia “se f*der”. A fala repercutiu em todo o país e alimentou ainda mais as especulações sobre censura velada.

Em contraste, a Paramount reafirmou sua parceria com Trey Parker e Matt Stone, criadores da série South Park. O contrato renovado prevê um investimento de US$ 1,5 bilhão (R$ 8 bilhões) para a produção de novas temporadas do programa, conhecido por sua abordagem politicamente incorreta.

Logo na estreia da 27ª temporada, a animação já causou nova polêmica. Em uma das cenas, os criadores exibiram um deepfake de Trump nu, com genitália diminuta, em uma crítica direta ao presidente. A resposta da Casa Branca veio rapidamente. Em comunicado, o governo afirmou que South Park “não é relevante há mais de 20 anos”, tentando minimizar os impactos da sátira.

A nova fase da Paramount Global, portanto, começa com contradições marcantes: enquanto promete pluralidade, adota medidas que favorecem um viés ideológico específico e afeta diretamente a liberdade editorial de suas produções.

Tags:

É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino