Jô Soares: ‘Meus pais me criaram com rara liberdade’
Por Redação - 24/11/17 às 09:15
Em O Livro de Jô – Uma Autobiografia Desautorizada – Volume 1, escrita em parceria com Matinas Suzuki Jr e recém-chegado às livrarias, Jô Soares abriu o baú de fotos e recordações de sua vida. O artista, que no dia 16 de janeiro completa 80 anos, relembra fatos curiosos de sua infância, passada entre o Copacabana Palace e o Jockey Club, no Rio de Janeiro, e se emociona ao lembrar do filho, Rafael, morto em 2014, aos 51 anos.
Jô, que na infância era chamado de Zezinho, nasceu quando a mãe, Mercedes, já estava com 40 anos. No aniversário de 4 anos, em 1942, ela fez uma festa inovadora: os meninos deveriam se vestir de cozinheiro e as meninas, de camareira. Entre os convidados, estava a futura atriz Joana Fomm. Para ficar parecido com um autêntico chef, dona Mercedes foi até a cozinha do Copa para reproduzir chapéu, calça e até o lenço usado no pescoço.
Jô garante que, mesmo temporão, não se sentia superprotegido.
"Meus pais me criaram com rara liberdade e independência".
Num Natal, ele pediu a Papai Noel uma estrela de xerife, igual às que via nos filmes de caubói. Depois de rodar as lojas do Rio, a mãe soube de uma promoção de sabonete, que oferecia o item com brinde. Comprou várias quantidades do produto, mas nada do prêmio. Até que foi bater na fábrica, para explicar o que estava acontecendo. Só arredou pé quando o fabricante, já cansado, cedeu uma peça. O pequeno quase desmaiou de emoção quando viu a estrela em cima da árvore.
Acima do peso, ele sofria para subir a ladeira íngreme que dava acesso ao tradicional e rígido Colégio de São Bento, no Centro do Rio de Janeiro, onde estudou. Num piquenique na praia, ele passou o dia inteiro debaixo do sol, sem camisa. Muito branco, ficou com queimaduras de segundo grau por todo o corpo. A família só sossegou quando ele conseguiu fazer xixi, sinal de que o rim não havia sido lesionado.
"Parecia cerveja preta, mas todo mundo achou bom".
Durante alguns dias, ficou dormindo sentado, na beira da cama, pois não conseguia encostar a pele no lençol.
Aos 12 anos, ele acompanhou a Copa de 50 e relata a emoção de ver o Brasil golear a Espanha, com o espetacular placar de 6 x 1. Jô conta que, em determinado momento, as pessoas que estavam no Maracanã começaram a cantar a marchinha "Touradas em Madri", numa explosão de felicidade. Jô também esteve na final, quando o Brasil perdeu o título para o Uruguai.
"O trauma da derrota apagou da minha mente boa parte daquele jogo".
Sempre discreto em relação ao filho Rafael, ele conta no livro todo o drama que viveu. Filho de seu primeiro casamento com a atriz Theresa Austregésilo, em 1959, Rafinha nasceu em 1963. O apresentador revela que viveu 40 segundos de alegria, até ouvir o médico dizer.
"Ele nasceu com hipospádia, um problema genético".
Tempos depois, os pais descobriram que ele também era autista. Jô viveu essa dor em silêncio. A mãe largou a carreira de atriz para cuidar do filho, que morreu em 2014, aos 51 anos, depois de uma batalha contra o câncer.
Outra passagem emocionante do livro se passa em 1977, quando – ao descer de um táxi – Jô ouviu uma frase surpreendente do motorista, que se recusou a receber o pagamento.
"Fui eu que matei a sua mãe".
Dona Mercedes havia morrido atropelada em 1968, aos 70 anos. Abismado com a surpresa que o destinho preparou, Jô falou.
"Você não matou a minha mãe, foi um acidente".
O taxista continuou.
"Faz anos que não consigo dormir. Só vou conseguir se o senhor me perdoar. Seu Jô, acho que foi Deus quem arrumou este nosso encontro".
"Você está perdoado", disse o apresentador.
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