Jonathan Azevedo: ‘Eu era muito machista, não repetiria os erros que tive com as mulheres’
Por Redação - 22/08/20 às 18:00
O anúncio da reprise de A Força do Querer, que volta a ser exibida na Globo logo que Fina Estampa chegar ao fim, aguçou a curiosidade sobre vários atores do elenco, atualmente. A trama de Glória Perez, exibida no horário nobre em 2017, revelou muita gente e consagrou nomes já conhecidos. Um dos destaques da história, ambientada no Rio de Janeiro, foi o Sabiá, papel de Jonathan Azevedo. Na sinopse inicial, ele morria, num confronto. Mas o personagem cresceu tanto e caiu no gosto popular, graças ao talento do ator carioca, que ficou até o final e fez história.
Passados três anos, Jonathan seguiu em ascendente carreira, mostrando também que é fera declamando poesias e soltando a voz, como fez no Popstar, e se revelando um ás na dança, na Dança dos Famosos, no ano passado, ficando em terceiro lugar. Deu lugar ainda ao projeto O Canto do Sabiá, no qual encantou multidões com seu dom de declamar.
Pai babão, Jonathan Azevedo diz que 'pum do filho é cheiroso'
Ainda no ano passado, o ator carioca de 34 anos se viu diante de uma realização: a paternidade. Com uma amiga, ele se tornou pai de Matheus Gabriel, de dez meses. Feliz filho adotivo do casal Sérgio e Sildéia, Jonathan procurar passar ao pequeno todo o amor que recebe ainda hoje.
Neste período de pandemia, com limitações de trabalho, o artista se dedicou à sua produtora, a Carta Preta, focada em ações publicitárias para a inserção de negros. E um dos trabalhos, virou esquete de sucesso em suas redes sociais. Jonathan incorpora a secretária do lar Kraudinha e, em meio a muita risada, passa lições sociais e muita autoestima.
Jonathan Azevedo comemora mesversário do filho
Num bate-papo aberto com a reportagem de OFuxico, ele destacou sua relação com Glória Perez, que abriu para ele a oportunidade de se ampliar seu talento, contou que seu filho ainda não conhece o mar por conta do “novo normal” e falou sobre seus arrependimentos.
Confira a entrevista:
OFuxico – Como nasceu a ideia desses vídeos da Kraudinha? Apesar do humor, cada um deles tem uma bela lição. Você sempre teve essa preocupação e essa facilidade de dialogar? São inspirados em alguém especial?
Jonathan Azevedo – Foi um conjunto de fatores que juntou toda essa questão da pandemia e no meio disso tudo, eu sempre fui muito ligado a minha madrinha que fazia o serviço de secretária do lar em algumas casa, e sempre teve uma visão muito otimista da vida. Conversando com ela, comecei a trazer essas reflexões que ela trazia aqui pra dentro de casa. Junto com isso, comecei a trabalhar na Carta Preta com meus dois roteiristas e trouxemos a ideia de trazer essa reflexão do que uma secretária do lar passa. Não podemos mais utilizar de doméstica por conta da expressão escravo domesticado. Toda essa reflexão, esse novo olhar, do mundo que está mudando, está sendo citado não só para a Kraudinha mas para o mercado publicitário, para que personagens que surgirem daqui pra frente tenham esse cuidado com o todo, com a história, com o passado, o presente e o futuro.
Jonathan Azevedo exibe, orgulhoso, seu filho durante passeio
OF- A paternidade tem nos mostrado um Jonathan ainda mais comprometido com valores, morais, pessoais, sociais e, sobretudo, afetivos. O que você, hoje, pai, deixou de fazer, na sua rotina (sem pandemia, claro), por conta disso?
JA – Queria muito ir à praia com Mateus, ele já está com 10 meses, vai fazer 11 e não consegui curtir uma praia com ele, não fui numa praça com ele. Graças a Deus, nesse momento delicado da pandemia, não estou trabalhando tanto e com isso estou convivendo mais com ele, aprender mais com ele, mas ao mesmo tempo não posso sair pra leva-lo num cinema, até com meus pais ele não pode ficar muito, Está sendo muito difícil mas prazeroso porque estou tendo a oportunidade de curtir a melhor fase do meu filho, essa fase incrível dos primeiros meses do meu filho, ao mesmo tempo dar um auxilio pra mãe dele.
OF- Quais as lições que mais pretende passar ao seu filho?
JA- Humildade, manter o coração aberto, ter fé, que é muito importante. Acreditar em si, construir seus sonhos a partir de uma competição com ele mesmo. Jamais se preocupar com a maneira como o outro se coloca e sim onde ele se posiciona. Eu estar presente para ver esse desenvolvimento é mais importante ainda. Não apenas ver meu filho se desenvolver, mas aprender junto com ele.
Nasceu! Jonathan Azevedo comemora a chegada do filho
OF – Pretende ser pai novamente? Planos de adoção?
JA – Pretendo sim! Faço parte desse processo de adoção e sei o quanto foi importante ter meus Sildéia e Sergio na minha vida. Com certeza quero adotar uma criança e quero ter estrutura pra dar pra ela todo amor e todo afeto que meus pais me deram. Minha mãe tem dois e eu quero seguir essa jornada, essa empreitada com o maior amor do mundo.
OF– O que não repetiria?
JA – A quarta série! Até hoje lembro, Jesus Cristo, é a única coisa que não repetiria porque tive que lidar com aquela professora que era o pesadelo pra mim, mas ao mesmo tempo era a salvação porque era educadora. Mas ela pegava no meu pé, mas foi importante para construir o Jonathan que eu sou. Mas, de resto, eu não apagaria nada não, repetiria tudo. Falando sério, não repetiria os erros que cometi com as mulheres, porque era um homem muito machista, cresci nesse sistema machista. Não repetiria todos os preconceitos que o sistema me implantou. Que não se repita!
OF – O que o anuncio da reprise de A Força do Querer despertou em você?
JA – Deu uma curiosidade boa, uma expectativa, mas, ao mesmo tempo tocou num lugar que quero ter contato com a minha arte e o Brasil novamente que é um lugar que me sinto feliz, que é interpretando. Nesse segundo momento vou poder assistir, porque estava sempre gravando. Não gosto de me ver interpretando, porque me cobro demais. A expectativa é ver como o Brasil vai reagir diante desse momento que estamos vivendo com isso tudo e espero que ele chegue com explosão de ética e traga boas reflexões pra esse momento.
Jonathan Azevedo relembra como descobriu que é adotado
OF – O que você faria diferente, na interpretação do Sabiá?
JA – Já me peguei pensando em algumas coisas que mudaria, mas agora não me vem a cabeça., Acho que ali o Jonathan Azevedo estava num momento muito bacana de construção e olhar pro mundo. Com o que eu tinha de conhecimento naquele momento, acho que fiz um trabalho muito bacana com auxílio dos meus amigos. Mas acho que o Jonathan de hoje talvez usaria mais de um lado cômico. Pode ser que não funcionasse também, mas adoraria trazer pra um lado mais comediante.
OF – Como é sua relação com a Gloria Perez?
JA – Ela é a mãe da minha liberdade e virou uma mãe, uma inspiração, uma amiga, mas a vejo muito como mãe porque sempre me trouxe conselhos e sempre que nos falamos ela me traz possibilidades e a oportunidade de ser o que eu sou e poder me dar voz nesse país com um passado escravocrata, que tem tanto preconceito. Uma pessoa como ela me dar voz, acho que é o fortalecimento dessa nova era. Ela tem uma história muito forte e sou muito grato à ela. Ver essa mulher de pé, batalhadora, escrevendo, criando, lembra muito a mulher preta, a minha mãe, a minha tia, o que mais gosto nela é a abertura nesse lugar de fala. Acho isso muito lindo nela e ela já faz parte da minha família só por ter esse olhar pra comunidade, pra todos nós, que ela apresenta nas novelas dela com esse carinho.
Jonathan Azevedo mostra o 1º banho que deu no filho. Vídeo!
OF – Como está sua produtora, a Carta Preta?
JA -Estou muito empolgado, é um novo momento da minha vida em que estou reunindo pessoas que querem também construir seu sonho e seu legado a partir de uma reflexão afroeducacional, afropublicitária, afroempreendedora. Reuni uma turma muito maneira, os meus roteiristas Pedro, Manoel e o James. Estamos construindo e amarrando nossos sonhos. Queremos levar uma publicidade que converse mais com o público da comunidade, o público afro em geral. Estamos tendo o cuidado de nos personagens cada vez mais aproximar a linguagem da comunidade com o asfalto. Trazer esse bate-papo, essa coisa orgânica, trazer o negro para a publicidade brasileira, inclusive mostrar os números: o quanto o negro consome, o quanto o negro quer ser feliz, precisa s sentir representado em todas as áreas. A Carta Preta está vindo pra revolucionar o mercado em temos de audiovisual nessa visão do negro, da mulher preta. Muita luz na caminhada!
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