Jornalista da Jovem Pan é demitido após comentário sobre estupro
Por Redação - 04/11/20 às 19:00
Nesta quarta-feira (4), Rodrigo Constantino fez uma live em seu canal no Youtube e deu algumas declarações bastante polêmicas.
O jornalista da Jovem Pan pegou como gancho o caso de Mariana Ferrer. A jovem foi estuprada em 2018 e até hoje busca por justiça.
Na última terça-feira (3), o acusado foi absolvido por "estupro culposo", quando não há intenção de estuprar. Esse termo nem mesmo existe nas leis atuais.
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"Eu não entrei no aspecto específico desse caso. Pelo pouco que eu vi, há boas razões para defender a decisão do juiz. A decisão do juiz fala em ausência de provas ou evidências. Não houve provas de que foi um ato à força", começou ele.
Em seguida, ele afirmou que estava debatendo o tema em linhas gerais.
"Não estou falando desse caso. O que eu vou falar aqui é usando como gancho esse caso, como poderia ser qualquer outro, para falar de um tema mais genérico que é a banalização do conceito de estupro".
Rodrigo também comparou a situação ao fato de dirigir alcoolizado.
"Se for estupro mesmo precisa haver ausência de consentimento e uso de coerção, força. Se ela consentiu, bêbada, a analogia é válida à direção. Ela não pode dizer que não consentiu. Se não, temos que aceitar que se ela pegar um carro, é inimputável. Ela não escolheu pegar o carro. É isso que as feministas estão dizendo".
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O comentarista também contou o que faria se um caso parecido acontecesse com a sua filha.
"Se minha filha chegar em casa e falar: 'Fui estuprada'. Me dá as circunstâncias. 'Fui para uma festinha eu e três amigas, tinha 18 homens, nós bebemos muito, eu estava ficando com dois caras, acabei dormindo lá e fui abusada'. Ela vai ficar de castigo e eu não vou denunciar um cara desse para a polícia. Eu vou dar esporro na minha filha porque alguma coisa ali, ela errou feio. É um comportamento condenável. Existe mulher decente e piranha. Se beber, não fique em um ambiente com muitos homens ou pessoas que você não confia", opinou.
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Demissão
As declarações de Constantino foram muito criticadas nas redes sociais e a Jovem Pan tomou a decisão de desligar o profissional.
"O Grupo Jovem Pan tem como premissa a liberdade de expressão e o amplo debate entre seus comentaristas. Diante do ocorrido nesta quarta-feira (4) em uma live independente, promovida fora de nossas plataformas, por um de nossos comentaristas, a Jovem Pan esclarece que desaprova veementemente todo o conteúdo publicado nos canais pessoais e apresentado nessa live. Reafirmamos que as opiniões de nossos comentaristas são independentes e necessariamente não representam a opinião do Grupo Jovem Pan. No caso de Mariana Ferrer, defendemos que a vítima não deve ser responsabilizada pelos atos de seu agressor, apesar do respeito que todos nós devemos ter às decisões judiciais. Em consequência do episódio, na tarde desta quarta-feira, Rodrigo Constantino foi desligado de nosso quadro de comentaristas", dizia o comunicado, publicado no site do Grupo Jovem Pan.
O jornalista também comentou sobre o caso em sua conta no Twitter.
"Vocês venceram uma batalha, parabéns! A pressão foi tão grande sobre a Jovem Pan, distorcendo claramente minha fala, que não resistiram. Não os culpo. É do jogo. Quem me conhece e quem viu de fato sabe que eu jamais faria apologia ao estupro! Mas desde já estou fora da Jovem Pan. Sou muito grato por tudo que a Jovem Pan fez, pelo espaço livre, pela confiança. Foi um período de trabalho intenso, muitas conquistas e crescimento", escreveu ele.
Entenda o caso de Mariana Ferrer
Na terça-feira (3), o Brasil se viu indignado com o resultado do julgamento do caso Mariana Ferrer, com o acusado André de Camargo Aranha sendo absolvido após sua defesa argumentar que a situação seria um “estupro culposo”, ou seja, “sem intenção”.
O caso aconteceu no Café de la Musique, em Florianópolis, em 2018, na qual por meio de um vídeo vazado na internet, a influenciadora foi vista nitidamente alterada subindo escadas com André e descendo seis minutos depois. Apesar de tal vídeo vazado, a polícia só solicitou as gravações das câmeras locais meses após o ocorrido, com o estabelecimento afirmando que exclui os vídeos após quatro dias.
Em seu depoimento na polícia, Mariana afirmou ter tido um lapso de memória e acredita ter sido dopada, afinal, a única bebida alcóolica em seu nome na noite foi uma dose de gim. De acordo com o site The Intercept, que chegou a liberar um vídeo da defesa de Aranha humilhando Ferrer, ele foi inocentado no mês de setembro, e o promotor do caso disse que durante o ato sexual, o empresário de futebol não tinha condições de saber se a relação foi consentida, e por isso não “existiria a intenção de estuprar”.
Por “estupro culposo” não ser algo previsto em lei, André não pode ser condenado.
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