José Loreto: “Contracenar com a cabra é muito complicado”

O perfil exótico de José Loreto já foi um obstáculo em sua carreira. Por causa de seus traços físicos singulares, os produtores de elenco sempre encontraram dificuldade na hora de escalar outros atores com aparência semelhante a sua para compor um núcleo familiar. No entanto, hoje, o ator acredita que aprendeu a usar sua imagem distinta como um artifício a seu favor. Tanto por se destacar visualmente, quanto por lhe dar a oportunidade de interpretar personagens excêntricos. Papéis esses que o estimulam a se entregar cada vez mais aos trabalhos que lhe confiam. Caso de seu personagem atual, o aluado Candinho de Flor do Caribe.

"Eu sempre bati muito na trave. Passava nos testes, mas não era escalado pelo meu biotipo. E vejo o Candinho como uma grande chance de mostrar que tenho um repertório vasto", analisa.

Na trama solar de Walther Negrão, Loreto dá vida a um rapaz ingênuo que cresceu em uma fazenda junto com sua avó Veridiana e seus dois irmãos Lino e Dadá, interpretados, respectivamente, por Laura Cardoso, José Henrique Ligabue e Renata Roberta. E mesmo a novela sendo ambientada em uma cidade fictícia do Nordeste, seu núcleo é o único que sofre, de fato, uma grande influência estética e comportamental da cultura local. Pela clara referência ao universo de Ariano Suassuna através do personagem, o autor e a direção haviam pensado, a princípio, no nome de Matheus Nachtergaele, que interpretou com maestria um papel semelhante na microssérie O Auto da Compadecida. No entanto, o ator não pôde aceitar o convite. E Loreto foi logo lembrado pelo diretor do folhetim, Jayme Monjardim.

"O Candinho é lúdico, um homem com a alma infantil. Ele é o tipo de personagem que fica na lembrança das pessoas", acredita.

Na época do convite, ele ainda estava no ar na pele do divertido Darkson de Avenida Brasil. Sem pensar duas vezes, aceitou a nova empreitada. E assim que as gravações da novela de João Emanuel Carneiro terminaram, já começou a se dedicar à composição do novo papel. Por ser um personagem conceitual, Loreto teve, desde o início, a preocupação em não deixar sua interpretação cair no caricato. Para encenar um sotaque nordestino verossímil, começou a fazer aulas de prosódia e treinava a nova pronuncia lendo livros em voz alta sempre que podia.

"Lia textos em voz alta até no aeroporto. As pessoas achavam que eu era maluco", relembra, aos risos. Já a cabra Ariana, sua fiel escudeira na trama das seis, foi um desafio à parte. Para o animal se acostumar com Loreto, eles começaram a ter contato antes mesmo das gravações começarem.

"Contracenar com a cabra é muito complicado, porque além de estar com o texto na ponta da língua, preciso estar preparado para improvisar a qualquer momento de acordo com as reações dela", explica.

A novela Avenida Brasil, inclusive, foi um trabalho marcante na carreira do ator. Após integrar o elenco da temporada de 2005 de Malhação, ele chegou a fazer algumas participações em novelas e séries, como na trilogia Os Mutantes – Caminhos do Coração, exibida pela Record, e na série de humor Macho Man, produzida pela Globo em 2011. Mas foi na trama das nove que ele despontou de vez.

"Quando recebi o roteiro, já sabia que o Darkson seria um grande personagem. Ele tinha tudo para virar um sucesso. Então, fiz laboratório no Saara (região de comércio popular do Rio de Janeiro) – com vendedores de verdade para ter essa vivência", conta.

Apesar de não conseguir mais se enxergar fora da área artística, se dedicar às Artes Cênicas nem sempre foi a primeira opção de Loreto. Mesmo apaixonado pela interpretação, ele decidiu cursar Economia por influência da família. Entretanto, antes mesmo de se formar, a vontade de atuar profissionalmente falou mais alto e Loreto decidiu desistir da faculdade e apostar na carreira de ator.

"Uma hora você tem de escolher o que realmente quer para sua vida. E eu escolhi seguir a carreira artística, que até então era apenas o meu 'plano B'", confessa.

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