José Loreto: “Quero ter a chance de ampliar meu repertório”

Com uma personalidade marcada pela tranquilidade, José Loreto surpreende quando começa a falar sobre sua vida profissional. Seu discurso ganha contornos intensos, de quem é visivelmente apaixonado pelo que faz. Não é à toa que o lema de sua carreira seja "nunca parar de atuar, sempre continuar reciclando".

Atualmente no ar na pele do aluado Candinho de Flor do Caribe, ele acredita que, ao longo dos oito anos em que trabalha com televisão, as pequenas participações que fez em diversas produções foram suas grandes oportunidades de crescer como ator. Tanto por lhe dar mais visibilidade no meio artístico, quanto pelas experiências adquiridas a cada personagem novo.

"Eu fiz o último episódio da série Separação?!, o primeiro episódio de Macho Man e por eles fui chamado para fazer o teste para Avenida Brasil. Porque me empenho em cada participação como se fosse ganhar um prêmio", enfatiza.

Foi com Avenida Brasil, inclusive, que Loreto começou a ser reconhecido pelo grande público. Com apenas uma temporada de Malhação – seu primeiro trabalho na tevê – e algumas pontas em outras produções como Os Mutantes – Caminhos do Coração e Força-Tarefa no currículo, ele enxergou no descontraído Darkson sua chance de ganhar mais espaço. O papel, que a princípio era pequeno, cresceu ao decorrer da trama. Em parte, pela entrega do ator à sua construção, que exigiu dele um laboratório pesado no Saara centro comercial popular do Rio de Janeiro para assimilar os trejeitos dos locutores de porta de loja, profissão de seu papel na novela de João Emanuel Carneiro.

"Era um personagem com um universo rico, mas muito distante de mim. Então, tive de me dedicar, buscar referências para criá-lo", explica.

Mas formar um triângulo amoroso no folhetim com Marcos Caruso e Débora Nascimento também o ajudou bastante. Durante as passagens de texto, os atores trocavam ideias para deixar as cenas mais cômicas. Um dia, pouco antes da gravação, Loreto sugeriu que Caruso mandasse seu personagem "piscar o peitinho" em uma das sequências. O intérprete de Leleco topou com entusiasmo. Resultado: a fala caiu nas graças do público e ganhou as ruas.

"O Caruso dá a mão mesmo e levanta qualquer pessoa que contracene com ele", garante.

Antes mesmo de Avenida Brasil terminar, Loreto foi chamado para integrar o elenco de Flor do Caribe. O fato de Candinho ter sido escrito, a princípio, para ser interpretado por Matheus Nachtergaele, que já tem experiência com o universo lúdico de Ariano Suassuna no qual o papel se inspira, deu ao jovem ator a certeza de que esse seria o personagem mais complexo de sua trajetória artística. Então, na única semana que teve de férias entre as duas novelas, ele mergulhou em uma pesquisa aprofundada sobre o Nordeste e suas maiores referências.

"Sinto que o Candinho é meu passaporte para ter uma maior estabilidade na Globo", acredita.

O medo da falta de estabilidade na televisão é justificado. Com uma fisionomia singular, Loreto confessa que sempre teve uma certa dificuldade para ser escalado, tanto para o teatro quanto para a tevê, por causa de seu perfil.

"Eu sempre bati muito na trave, porque todos os produtores de elenco falam que é difícil encontrar um pai ou uma mãe que se enquadre no meu perfil", resume.

Mas o obstáculo estético não desanima o ator. Loreto não apenas idealiza seu futuro na tevê, como planeja diversificar sua gama de personagens.

"Não quero ser escalado para várias versões do mesmo personagem. Quero ter a chance de ampliar meu repertório", argumenta.

Pequena artimanha
A interpretação entrou na vida de Loreto quase por acaso. Quando estava no terceiro ano do segundo grau, perto de prestar vestibular, ele participou de um espetáculo teatral amador no colégio. A experiência em cima do palco o encantou. E, mesmo decidido a seguir a carreira artística, ele acabou sendo persuadido por seus pais. Receosos quanto ao futuro do filho, eles o convenceram a cursar Economia. Mas permitiram que Loreto se aprimorasse nas Artes Cênicas paralelamente à faculdade.

"Apesar de ter começado o curso de Economia, eu já sabia que, na verdade, queria mesmo era atuar", conta.

Para driblar os pais, ele procurou uma solução pouco convencional. Decidiu fazer um programa de "work experience" nos Estados Unidos, onde trabalhou como segurança de celebridades, como o cantor Stevie Wonder e a banda de rock Linkin Park. Já com independência financeira, Loreto fez uma chantagem emocional com seus pais. Ou voltava para o Brasil e se dedicava à atuação ou ficaria por Hollywood estudando teatro por lá. A família, é claro, o queria por perto.

"Foi assim que consegui seguir apenas a carreira de ator", resume a história, aos risos. 

Instantâneas
# Além de ser formado em Artes Cênicas pela CAL – renomada escola de interpretação do Rio de Janeiro –, José Loreto também concluiu o curso de Cinema na Universidade Estácio de Sá.

# Ele faz parte de um grupo de teatro chamado Proposta A6, que formou quando ainda estava na faculdade.

# Loreto precisou perder 5 quilos para interpretar o Candinho de Flor do Caribe.

# O ator teve de fazer um laboratório meses antes da novela estrear para aprender a conviver com a cabra Ariana, com quem contracena no folhetim de Walther Negrão.

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