Juliana Silveira: “Só se recusa um papel de mocinha por um motivo muito forte”

Por - 23/12/12 às 17:16

Jorge Rodrigues Jorge / Carta Z Notícias.

Juliana Silveira garante ser avessa a laboratórios. Mesmo diante de um papel que pode ser considerado um dos mais difíceis de sua carreira. No ar como a mocinha Isabel de Balacobaco, a atriz encabeça a parte dramática de uma novela totalmente calcada no humor. E tem, na ponta da língua, a defesa pronta para poder investir nos dramas que a arquiteta sofre em cena.

"Folhetim é melodrama. Se fosse só fazer graça, seria uma sitcom", analisa.

Acostumada com o posto de protagonista – ela já desempenhou esse papel em Malhação, Floribella e Chamas da Vida , Juliana afirma que sentiu falta de trabalhar. A atriz tinha sido reservada para uma novela que a Record produziria mas, com a decisão de levar ao ar uma versão nacional de Rebelde, o projeto foi deixado de lado. Com a decisão, ela ficou novamente disponível e engravidou. Tudo isso fez com que ficasse três anos afastada da televisão.

"Eu tinha acabado de viajar quando me ligaram da emissora. Mandaram eu voltar porque precisavam de mim para essa personagem. Peguei o primeiro voo e me concentrei nesse retorno", lembra. 

O Fuxico: Balacobaco é uma novela de humor, mas centralizada em uma série de dramas que a mocinha enfrenta. Que estratégia você usa para não se perder nesse contraste de tons da história?

Juliana Silveira: Eu sempre leio tudo que chega de texto e sigo as instruções do diretor. Às vezes, gravo uma cena em que tento ir para um caminho e o Edson Spinello chega e diz "não, faz daquela outra forma que vai ser melhor". Ele mesmo cuida dessa parte. E eu confio. Ele é experiente e está no comando, então sempre toma esse cuidado com o tom geral. Mas tem um fator que me beneficia nisso: folhetim é melodrama. Se fosse só fazer graça, seria uma sitcom.

OF:  Você chegou a fazer algum laboratório para interpretar a Isabel?

JA: A única coisa que fiz, de fato, foi aprender a mergulhar. Isso eu tinha de fazer. Foram poucas aulas porque começamos a gravar rápido e aconteceram na Baía de Guanabara. Na verdade, não foi meu primeiro contato com essa atividade. Quando eu tinha 14 anos, na época em que trabalhava com a Angélica, fiz umas 10 aulas também. Agora, peguei rápido. Sou muito cuidadosa porque tenho medo e isso é legal para quem está começando. 

OF: Analisando esses 10 anos desde sua primeira protagonista, em Malhação, você sente que ocupa hoje a posição que desejava em sua carreira de atriz?

JS:– Eu não paro para fazer essas análises. Eu nem queria ser atriz. Minha vida é uma obra aberta, como as novelas que fiz. Acho que é por isso que prefiro atuar em televisão a qualquer outra coisa. Curto esse fator surpresa. Sou mais intuitiva, não gosto de fazer laboratório. Para mim, é importante não "neurotizar" o processo. Se fosse diferente, talvez eu não tivesse conseguido mudar tanto a minha vida a partir do momento em que fui escolhida para protagonizar Malhação. 

OF: Que mudanças esse posto trouxe?

JS: Mudou absolutamente tudo na minha vida. Mas, principalmente, abriu as portas para que eu pudesse fazer Floribella, que é o meu xodó até hoje. Era um projeto voltado para as crianças e eu sou apaixonada por elas. Não tinha um dia de tempo ruim no estúdio. Era uma zona de conforto mesmo. Eu estava em um lugar gostoso, me divertindo, cantando e interpretando para uma faixa etária que gosto. Ainda fiz shows, foi um trabalho que saiu da tela da tevê e ganhou as casas de espetáculos. É o tipo de oportunidade que eu sei que nunca mais devo ter. 

OF: Já que não gosta de laboratório, o que normalmente você faz quando precisa compor uma nova personagem?

JS: O que um ator tem de melhor é sua vivência. No caso de Balacobaco, por exemplo, muitas coisas que acontecem na vida da Isabel se cruzam com a minha própria realidade. Já me separei, sei como é difícil enfrentar isso. Nunca perdi um filho, mas sou mãe e imagino como deve ser esse sofrimento. São sentimentos que me ajudam a encontrar a emoção adequada para cada momento. Nossa idade avança na mesma intensidade que a experiência. Esse é o grande trunfo do ator.

OF: Você já disse em outras entrevistas que gostaria de interpretar uma vilã e, após Floribella, chegou a sonhar com um programa infantil. Ainda pensa nisso?

JS: Na época de Floribella, eu estava mesmo muito envolvida. Então, cogitei, sim, ter um programa. Mas hoje é diferente, esse tempo passou. Não penso mais. O que eu sinto muita falta é de fazer cinema, de fazer uma vilã, de mexer em lados diferentes da interpretação. Não sei por que ainda não aconteceu, mas tem um fator que conta: eu faço mocinhas e as pessoas já viram que funciona. Talvez não tenha chegado a hora de experimentar um papel de má. Até porque cheguei a ser escalada para fazer uma vilã. Mas a novela foi cancelada para produzirem a versão nacional de Rebelde. Com isso, engravidei. 

OF: Interpretar sempre tipos bons dificulta sua construção? Em vários aspectos, por exemplo, sua mocinha de Balacobaco se assemelha à que você interpretou em Chamas da Vida. 

JS: Protagonistas são sempre um pouco parecidas na hora em que você é chamada e lê a descrição. Mas quando vai fazer mesmo, vê que pode fazer diferente. Não existe mais aquele modelo de mocinha de antes. Agora, as mulheres centrais são mais heroínas, sempre com muita ação ao redor delas. Eu gosto dessa função.  

OF: Interpretar só mocinhas nos últimos anos foi uma estratégia para manter boa receptividade com o público de Floribella, que era infantil?

JS: Não teve estratégia aí. Agarrei as oportunidades que surgiram. 

OF: Mas você recusou o convite da Globo para fazer Paraíso Tropical e o papel acabou nas mãos da Isis Valverde…

JS: Não assinei com a Globo porque me ofereceram uma personagem que era prostituta e eu não podia fazer. Ainda tinha mais um ano de contratos de merchandising de produtos infantis ligados à Floribella. A novela tinha acabado, mas essa parte comercial, não. Era uma questão contratual e não de querer ou não querer. Ainda perguntei se não teria outro papel e disseram que não. Logo depois, assinei contrato longo com a Record. E antes que ele terminasse, renovamos.

Por acaso

Chega a ser curioso ouvir Juliana dizer que não sonhava com a carreira artística. Sua estreia aconteceu ainda na adolescência, aos 13 anos, quando foi escolhida para ser uma das assistentes de palco de Angélica, na época em que a apresentadora comandava programas infantis. Mas Juliana tem na ponta da língua a resposta de como isso aconteceu mesmo sem ela planejar.

"Eu era muito fã da Angélica. Fui ao programa dela e me chamaram para fazer um teste. Já brincava de imitá-la e fazer as coreografias. Quando um produtor me perguntou se eu topava participar de uma seleção, claro que disse 'sim'", recorda. 

Na questão das artes cênicas, a situação foi semelhante. Depois de quatro anos trabalhando ao lado de Angélica em diversos programas da Manchete e, posteriormente, do SBT, Juliana recebeu uma proposta que a deixou pensativa em relação ao futuro.

"Me convidaram para tentar uma vaga na Oficina de Atores da Globo. Não tinha nada a perder, então achei que era válido. Fiz o teste e entrei", conta ela, que antes de protagonizar Malhação, atuou também em Pecado Capital, Laços de Família e O Quinto dos Infernos na emissora.

Cara nova

Quando começaram a pensar no visual de Isabel em Balacobaco, a primeira ideia foi que Juliana usasse cabelos longos. Mas, assim que viu a caracterização, a autora Gisele Joras – que é formada em Arquitetura, assim como a mocinha de sua trama – não aprovou e sugeriu que a personagem adotasse o mesmo corte que o seu, bem curto. Uma ideia que Juliana tratou de tentar abortar. Isso porque já tinha usado esse estilo em seu último trabalho, a determinada Carolina de Chamas da Vida.

"Pessoalmente, prefiro estar com fios curtos. Mas não dava para repetir. Muita gente criaria uma associação direta com a outra novela e isso não seria bom", justifica. 

Trajetória Televisiva

# "Casa da Angélica" (Manchete, 1993) – Angeliquete.

# "Pecado Capital" (Globo, 1998) – Dagmar.

# "Laços de Família" (Globo, 2000) – Nanda.

# "O Quinto dos Infernos" (Globo, 2002) – Rosalva.

# "Malhação" (Globo, 2002) – Júlia.

# "Floribella" (Band, 2005) – Flor.

# "Luz do Sol" (Record, 2007) – Nina.

# "Chamas da Vida" (Record, 2008) – Carolina.

# "Balacobaco" (Record, 2012) – Isabel.

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