Karol Conká: Até que ponto traumas do passado interferem no presente?

Por - 30/04/21 às 00:34

Divulgação/Globoplay

"A Vida Depois do Tombo", série documental sobre Karol Conká, estreou na madrugada de quinta-feira (29) no Globoplay, e tem dado o que falar.

Dividido em quatro episódios, a produção mostra a retomada da cantora após a sua saída do “BBB21”, da TV Globo, em que ela “conquistou” a maior rejeição da história do reality show em todo o mundo.

O documentário, que tem direção de Patrícia Carvalho e Patricia Cupello e roteiro de Malu Vergueiro e Valéria Amaral, mostra os dramas pessoais, além de cenas polêmicas da passagem da artista pelo reality show da TV Globo.

Em um dos episódios, Karol chora ao falar da morte do pai e o associa ao comportamento inadequado com Lucas Penteado no "BBB21". 

“Fiquei muito irritada, mas não era com o Lucas, era com essa lembrança que odeio”, diz Karol, no documentário. Segundo ela, o pai e a cantora tinham uma forte ligação, mas a bebida alcoólica consumida por ele acabou afastando os dois. O tempo passou, eles perderam o contato e ela prometeu que iria visitá-lo quando ele estivesse sóbrio. Mas o encontro nunca ocorreu. 

Karol Conká chorou por diversas vezes durante o documentário

Conká revelou que o pai foi encontrado caído na chuva e levado para casa. Momentos depois, ele caiu ao tentar levantar do sofá e acabou ingerindo o próprio vômito, que foi aspirado pelos pulmões e causou sua morte.

“Meu pai nunca me viu cantar no palco, tinha 14 anos quando ele morreu, parece que nunca vou amenizar essa dor. Teve um momento da casa que o Lucas me lembrou muito ele, quando ficava agressivo, bebia, falava coisas desconexas e aparecia com o semblante doce no dia seguinte dando bom dia“, afirmou a rapper.

A reportagem de OFuxico conversou com a psicóloga Maria Rafart, que analisou a série documental “A Vida Depois do Tombo”', que mostrou a rapper arrependida de atitudes tomadas durante o “BBB21”.

Karol Conká chora e se desespera ao ver cenas do BBB21


Confira:


OFuxico: Ao longo do documentário, Karol alega ter traumas do passado. Até que ponto, as dores do passado justificam as ações do presente e até do futuro?
Maria Rafart:
“Muitas dores do passado podem, sim, determinar quem a pessoa se torna na vida adulta. Às vezes, o comportamento errático ou pouco acolhedor de uma mãe pode ser interpretado pela criança como se ela tivesse ‘pouco valor’. Como se ela não importasse para as pessoas que ela ama. Esta criança, na vida adulta, pode se comportar como alguém com menos valor e, portanto, pode, por exemplo, participar de relações abusivas como vítima, já que, na sua concepção, ‘não merece coisa melhor, pois nem a sua mãe se importava com ela’. No caso de Karol, provavelmente a sua estratégia de sobrevivência ao ambiente abusivo vivido na infância foi a de se sobrepor, contra-atacando quem a atacasse. Ela fala do pai alcoolista como sendo alguém que se comportava de forma violenta quando sob o efeito do álcool, e a reação que ela provavelmente desenvolveu, como defesa, foi a de se tornar uma pessoa agressiva. Contudo, é muito importante lembrar que todos podemos ressignificar as nossas atitudes; podemos nos dar conta de que este ou aquele comportamento não é mais útil naquele contexto, e podemos mudar. As mudanças no comportamento daquele que carrega uma “criança interior” machucada podem se dar por conta própria, observando os danos que as atitudes traumatizadas causam, ou através de terapia.”


OFuxico: Durante a passagem pelo BBB21, da TV Globo, Karol chocou a audiência com seu discurso de ódio, que feriram muitos participantes. Qual o caminho correto para se lidar com sentimentos como a raiva?
Maria Rafart:
“A raiva é uma emoção de sobrevivência. Um animal raivoso está nesta condição porque sabe que tem que se defender. Os seres humanos possuem, diferentemente dos animais, estruturas cerebrais como o lobo frontal, que lhe permitem discernir sobre o impacto que o meio ambiente tem sobre eles, e escolher a graduação de suas respostas emocionais.Karol mostrou ser uma pessoa “pavio curto”: ela descarrega as emoções diretamente sobre seus atos e palavras, sem antes refletir sobre as consequências dos mesmos. Pessoas impulsivas como ela tendem a ignorar os “avisos do” lobo frontal sobre as consequências de seus atos. É a típica pessoa que bate no peito e afirma ‘eu sou assim mesmo, doa a quem doer’”

OFuxico: Karol chegou a dizer que pretende cuidar de sua saúde mental, após rever suas atitudes brutais no “BBB21”. Que tipo de acompanhamento psicológico seria indicado para pessoas que sofrem com traumas passados?Maria Rafart: “O Psicólogo, devidamente registrado no seu Conselho Regional de Psicologia, é o profissional adequado para realizar tratamentos psicológicos. Há várias linhas teóricas de Psicologia, e isto vai determinar a sua forma de atuar durante o processo psicoterapêutico. O Psiquiatra, médico especialista na área, pode eventualmente tratar alguma patologia de forma medicamentosa, como por exemplo ansiedade ou depressão.Infelizmente, alguns profissionais, autointitulados terapeutas, que não possuem  estas qualificações profissionais e acadêmicas, acabam ‘tratando’ pessoas de forma inadequada, e podem, ao contrário do pretendido, causar um mal maior ainda.”

Karol Conká sobre vida pós BBB: “Nunca mais vou deixar de cuidar da minha saúde mental’

Psicóloga Maria Rafart comentou a respeito do documentário de Conká

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