Lázaro Ramos diz que fazer TV ‘é uma força-tarefa’
Por Redação - 17/09/12 às 08:14
Lázaro Ramos transita com facilidade pelos lados alternativos e comerciais da profissão de ator. Isto fica evidente ao analisar seus trabalhos mais recentes, como a atual novela global das seis, Lado a Lado, e o longa independente Amanhã Nunca Mais, de Tadeu Jungle. Satisfeito com a liberdade artística que conquistou ao longo de sua trajetória, ele acredita que foram os personagens que recusou que definiram o ator que é hoje. E entrega que antes de acertar sua participação em algum projeto, recorre ao mesmo critério do início da carreira, quando era integrante do Bando de Teatro Olodum.
"Preciso me emocionar ao ler o texto. Além disso, ter uma equipe integrada. Meu trabalho só funciona porque tenho a ajuda de uma série de pessoas nos bastidores", justifica o ator, que encontrou os dois quesitos em Lado a Lado.
Porém, mesmo encantado com o projeto da novela, ele demorou a aceitar o convite para viver o simpático barbeiro Zé Maria.
"Tevê é uma força-tarefa, que dura, no mínimo, um ano. Tive de parar com os outros projetos que estava desenvolvendo. Afinal, ainda prezo muito pela minha vida pessoal", contao ator, aos risos.
Em seu primeiro folhetim de época, o ator fala com entusiasmo sobre as aulas de História e o workshop promovido pela Globo para integrar todo o elenco à trama escrita por João Ximenes Braga e Claudia Lage, ambientada no Rio de Janeiro do início do Século XX.
"A novela se passa logo depois da Abolição da Escravatura, no momento onde o Brasil queria ser a França. É uma época que ainda não tinha sido abordada pela teledramaturgia", destaca o ator, que empolgado com o contexto de Lado a Lado, contratou um professor particular de História.
Outro ponto importante da composição de Zé Maria é que além de barbeiro, o personagem é um exímio capoeirista. Não é a primeira vez que Lázaro precisa utilizar os passos da capoeira para um papel. Ele teve algumas aulas para dar vida ao personagem-título de Madame Satã – premiado longa-metragem de 2002, dirigido por Karim Aïnouz –, mas precisou voltar aos treinos para encarar as inúmeras cenas de ação do folhetim.
"Não é só lutar, tem toda uma coreografia. São sequências bem trabalhosas. Trabalho com um dublê, mas faço a maioria das cenas", gaba-se Lázaro, que desde julho, tem o auxílio dos mestres Cocoroca e Fumaça nos treinos e na concepção dos movimentos.
A reflexão social sobre o apartheid entre raças e classes sociais aproximam Lázaro da trama. Baiano, negro e ator, ele traça um paralelo entre a história de Lado a Lado com a origem de seu interesse pelas artes cênicas.
"Fiquei nove anos no Bando de Teatro Olodum. Nossas peças sempre buscavam a origem desse Brasil que estamos vivendo agora. Por isso, a identificação com meu personagem e com o contexto foi forte", valoriza.
Depois de sair do grupo teatral, Lázaro foi para Recife trabalhar com o diretor João Falcão na peça A Máquina, de 2000. Ao mesmo tempo, entrava com força no disputado circuito de cinema nacional, com papéis importantes em filmes como Carandiru, O Homem Que Copiava e Cidade Baixa, além de tímidas participações na tevê, nas séries Pastores da Noite e A Grande Família. A estreia em novelas foi em Cobras & Lagartos, de 2006, na pele do ambíguo Foguinho.
"Gosto de personagens que fogem do maniqueísmo. Isso enriquece a trama e me dá mais vontade de fazer tevê", avalia.
Outro personagem controverso foi o conquistador André, de Insensato Coração. Na mesma linha, o ator também enxerga contradições em Zé Maria, que mesmo à favor das igualdades raciais, exibe uma faceta machista em relação à sua amada Isabel, de Camila Pitanga.
"Zé Maria não admite que a mulher seja mais bem-sucedida que ele. Não chega a ter um desvio de caráter, mas também não é um mocinho politicamente correto", analisa.
Todas as maneiras
Atuar é a prioridade de Lázaro Ramos. Mas ele também gosta de se expressar artisticamente em outras frentes. Em 2005, estreou como diretor no especial Retratos Brasileiros, do Canal Brasil. No filme e na série Ó Paí Ó, mostrou seu lado cantor. E mais recentemente, em 2010, a faceta escritor veio à tona com o lançamento do infantil A Velha Sentada. Grande parte desta personalidade múltipla do baiano é reflexo do trabalho de Lázaro no Bando de Teatro Olodum, onde além de atuar, também chegou a escrever algumas peças. Uma em especial, As Paparutas, volta ao circuito teatral 12 anos depois da primeira montagem, agora no Rio de Janeiro.
"É uma peça sobre autoestima. Estou feliz com essa remontagem. Atualizei a história e foi como voltar no tempo", emociona-se.
Entre tantos trabalhos paralelos, Espelho, programa que apresenta no Canal Brasil, tem atenção redobrada. Em sua sétima temporada, o apresentador já recebeu nomes como Wagner Moura, Nelson Motta, Elke Maravilha, entre outros. Na pauta está sempre a subjetiva relação entre a arte e seu criador.
"Tenho muita curiosidade sobre meus entrevistados. E aproveito o programa para mostrar as minhas opiniões. Sem a roupa de nenhum personagem, é onde sei que estou dando a minha cara a tapa", filosofa.
Instantâneas
# Por sua atuação como o anti-herói Foguinho, de "Cobras e Lagartos", Lázaro Ramos foi indicado ao Emmy – prêmio promovido pela Academia Internacional de Artes & Ciências Televisivas –, em 2007.
# No longa "Ó Paí, Ó", de Monique Gardenberg, o ator empresta sua voz para msicas conhecidas do cancioneiro baiano como "É D'Oxum", "Protesto do Olodum" e "Vem Meu Amor".
# Assim como em "Insensato Coração", em "Lado a Lado", Lázaro volta a fazer par romântico com Camila Pitanga. "Por ser uma novela de época, não me preocupo em me repetir. São personagens e histórias distintas", avalia.
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