Leo Jaime sonha em ter um talk show na TV: ‘Público me aceita como sou’
Por Redação - 09/03/21 às 08:00 - Última Atualização: 6 abril 2021
O que é ser artista? “Alguém que traduz em emoções e pensamentos o que é o espírito de seu lugar e época”. Então podemos dizer que Leo Jaime faz um belo trabalho há pelo menos 30 anos como cantor, compositor, músico, ator, apresentador, jornalista. Ao pensar na carreira de Leo logo pensamos nesses refrãos, Ainda encontro a fórmula do amor/A vida não presta, que embalam muitos romances e as paradas de muitas playlists; um clássico das novelas, Bebê a Bordo, por sua linguagem e ousadia; e um programa necessário para a vida, literalmente, Amor & Sexo. Ele estava em todos.
Assim como grandes artistas, Leo também passou por altos e baixos, soube se posicionar, conquistou seu espaço ao lutar diariamente contra a pressão pela estética. É também um dos pioneiros das redes sociais, que as usa para promover reflexões sobre machismo com citações, livros e aulas de balé, que sabe lidar muito bem com os fãs e os haters, e que sonha em comandar um talk show na TV.
Ao OFuxico ele faz reflexões sobre a carreira, planos para o futuro e sobre o que produz durante a pandemia:
“O povo das TVs [diretores] nunca me viu neste lugar. Sou ator, jornalista e músico. A TV é um bom lugar para pessoas com este tipo de multiplicidade”.
Confira:
OFuxico: Você é um cara muito querido pelo público. Como analisa esse contexto levando em conta diversas mudanças de comportamento dos fãs ao longo dos últimos 30 anos, sob a influência de diversos fatores?
Leo Jaime: Eu mudei, o público mudou, a forma de comunicação mudou mais ainda. Estive no início dos blogs, do Orkut e redes sociais, estabeleci um contato direto e horizontal com o público. Acessibilidade resulta em proximidade.
OFuxico: Com mais de 30 anos de carreira, o que mudou na forma como público e artista se relacionam e que te incomoda e também gosta nesse processo?
Leo Jaime: Existe o mídia training, a vontade de não tomar posições que possam resultar em rejeição. Isto acaba por fazer com que os discursos fiquem muito uniformes. Por outro lado, você não depende de fazerem a sua imagem diante do público. Se sai algo na mídia que não é verdade você pode esclarecer na mesma hora. Menos intermediários.
OFuxico: Como lida com o assédio?
Leo Jaime: Não lido com assédio. Tem gente educada e gente sem educação, independente da sua área de atuação. O meu público é gentilíssimo. Dias destes, eu estava andando na feira e uma amiga observou: todo mundo fala contigo! Eu respondi que é porque eu sempre frequentei a feira. Mas tem o lance das pessoas se sentirem à vontade para falar. Sou daqueles que cumprimenta todo mundo na rua.
OFuxico: Um artista tem a obrigação e o dever de usar sua arte para refletir, protestar?
Leo Jaime: Obrigação ele tem de cumprir seus compromissos. A arte, de uma forma ou de outra, há de retratar seu tempo. Protesto não é dever, é opção. E algumas vezes artistas causam muitas reflexões e mudanças comportamentais sem necessariamente ter isto em seu discurso. Secos e Molhados, por exemplo, era um grupo muito revolucionário para 1973.
OFuxico: O que o Leo deseja fazer como artista e ainda não conseguiu?
Leo Jaime: Sempre achei que seria um apresentador de talk show. Um amigo me disse isso há uns 30 anos, que me via como um apresentador que falaria bem com músicos, jornalistas, escritores, cozinheiros, dançarinos, atores etc. Concordei. Só que o povo das TVs nunca me viu neste lugar. Sou ator, jornalista e músico. A TV é um bom lugar para pessoas com este tipo de multiplicidade.
OFuxico: Em algum momento pensou em parar, sair de cena, trabalhar com algo que não usasse sua imagem?
Leo Jaime: Sim. Pensar eu pensei. Sempre me senti livre para fazer o que quisesse. Mas não me vi no mundo corporativo. Eu gosto muito de tudo o que faço. E sempre tenho boas oportunidades.
OFuxico: Pelas redes sociais acompanhamos suas aulas de balé. O quanto elas têm contribuído para a sua saúde física e mental? Outros homens também estão seguindo seus passos na dança? É uma forma de combater o machismo?
Leo Jaime: É muito bom a gente ter uma atividade física que nos engaje de verdade. Não dá vontade de faltar. Acho que dar exemplo pode ser mais eficaz do que fazer discurso. Eu faço dança, posto as aulas e vejo muita gente se dizendo inspirada a fazer as coisas que tem vontade. Dançar, por exemplo. Vejo gente apoiando o comportamento livre de preocupações com idade e forma física. E de vez em quando algumas pessoas machistas debocham ou criticam. Mas o número é muito pequeno de detratores. Eles não merecem nossa atenção.
OFuxico: Em algum momento o machismo e o Leo se encontram? Está no processo de desconstrução ou o Leo é bastante antenado no assunto e sabe lidar com as mais diversas situações?
Leo Jaime: Escrevi um livro chamado Cabeça de Homem. Tenho escrito para revistas femininas há 30 anos. Capricho, Desfile, Marie Claire, e sempre com esta abordagem: o novo papel do homem diante da justíssima luta por equidade de todas as ditas minorias. Que são a maioria, de fato.
OFuxico: Bebê a Bordo é um marco na história da TV por conta da linguagem e roteiro. Do que mais sente saudade da novela?
Leo Jaime: Do Zezinho, personagem que amei fazer, e de contracenar com Isabela Garcia. Gênia!
OFuxico: E Amor & Sexo. Qual é o legado do programa que estreou há dez anos… O quanto ele agregou à sua vida? E à sociedade?
Leo Jaime: Acho que foi um marco na sociedade brasileira poder falar de sexo abertamente na TV aberta. Tenho orgulho em ter feito parte deste projeto.
OFuxico: Atuar em Malhação te colocou em contato com uma turma bem mais nova, em algum momento fez comparações com a sua juventude? O que aprendeu com eles?
Leo Jaime: Achei bacana ao ler em uma rede social um adolescente dizendo que “O Nando Rocha está virando cantor de verdade”, ao me ver cantando na TV. Eu amei ser o Nando Rocha e lidar com aquele elenco jovem talentosíssimo e um público novo e vibrante.
OFuxico: Fale de projetos…
Leo Jaime: O meu show novo: Desplugado, só com Guilherme Schwab e eu, aos violões e outros instrumentos acústicos. E também às músicas que gravamos, e estão sendo lançadas, oriundas deste projeto. Gravamos 3: todas do disco Sessão da Tarde que completa 35 anos e nunca foi regravado. A vida não presta, Só e O Pobre.
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