Luísa Mell: ‘As pessoas medem as outras com suas réguas’
Por Redação - 08/02/19 às 15:34
Quando se fala em veganismo e em proteção animal, um nome vem fácil em nossa cabeça: Luísa Mell.
Nascida em São Paulo, a ativista, hoje com 40 anos, já se alimentou com carnes, mas garante que nunca entendeu bem a história de “matar para se alimentar”.
Luísa já fez teatro, teve programas de TV e, a partir de 2013, se tornou Vegana – sendo que muito antes já era vegetariana. A diferença é que os veganos não consomem nem compram nenhum tipo de alimento, cosmético ou peça de vestuário que venha de origem animal.
Luisa cuida, com o maior amor, de tudo que envolve a vida dos animais e fundou o Instituto que leva seu nome, onde existe resgate e a proteção de cães e gatos de rua, ou de lugares onde sofreram maus tratos.
OFuxico conversou com Mell, que neste sábado promove mais uma feira de adoção em São Paulo. Ela falou sobre sua luta, sobre a passagem que teve em Brumadinho, onde ocorreu o rompimento de uma barragem e muito mais. Confira!
OFuxico – Você já nasceu no veganismo?
Luísa Mel – Não, Nasci numa época em que as pessoas achavam normal se alimentar da carne de outros animais. Era um costume. Já comi carne, já passeei em zoológicos, Fui ao Sea Word, em aquários… Com o tempo, fui transformando minha vida e rotina alimentar em prol da vida dos animais e do nosso planeta. Hoje não tomo leite, nem como nada de origem animal, nem ovos, queijo nem uso coisas feitas de couro.
OF – Como foi o processo para se tornar vegana?
LM – Depois dessa fase em que fiz todas as coisas que citei, comecei a estudar. Quando soube, por exemplo, quanto sofrem os animais para nos alimentar, eu me transformei. A carne vermelha, por exemplo, nunca gostei. Ver aquele sangue sempre me incomodou muito. Eu comia peixe e frango, mas quando vi a criação de frangos, por exemplo, soube que vivem aplicando hormônios para que cresçam mais rápido e as aves acabam sentindo dor a vida toda. Quando soube e visitei uma fazenda, onde as vacas viviam chorando, porque tiravam os bezerros delas para abater, fiquei extremamente chocada. Me conscientizei de que tudo que comemos tem leite: bolos, pães, sobremesas… E isso é desnecessário, porque o leite foi feito para o animal se alimentar e engordar. Por quê então consumimos isso?
OF – Quando foi essa conscientização?
LM – Foi em agosto de 2013 que me tornei totalmente vegana.
OF – Como lida com as pessoas que acham um horror ser vegana?
LM – Quando virei tive de explicar para muitas pessoas o que era ser vegana, porque não era algo tão falado como hoje. As pessoas não tem ideia da tragédia no meio ambiente com o ataque que fazem à pecuária. O que vai acontecer com a Amazônia? Tento conscientizar as pessoas, escrevi o livro pra que entendam e coloquem isso na prática. Tive uma gravidez totalmente vegana, meu filho nasceu saudável, mas sempre fui criticada, as pessoas achavam um horror estar grávida e não comer carne nenhuma. Antes eu tinha toda uma teoria sobre grávidas veganas e hoje, tenho isso na prática e foi maravilhoso. Meu filho é vegano, e isso me torna muito feliz.
OF – É difícil encarar as pessoas que não entendem tudo isso?
LM – Sim, muito. Enfrento o homem que tem como hábito, comer animais. No mundo inteiro é difícil transformar esse olhar. Paralelo a isso, graças a Deus tem muita gente virando vegano.
OF – Sua missão…
LM – Quero encostar no coração das pessoas. Por exemplo, quando as pessoas se aprofundam no estudo sobre isso, descobrem que 50% dos grãos e agua são destinados ao gado de engorda. Isso é cruel para os animais e destrói nosso planeta. Carne é um prazer momentâneo, é aquele sabor que fica na boca e rapidamente acaba. Luto e vivo pra que isso termine e tenho fé que a humanidade vai despertar pra isso. As pessoas precisam entender que estão pagando para que matem animais para que elas se satisfaçam. E tenho conseguido despertar isso em algumas pessoas e em outras não.
OF – Pretende voltar a atuar como atriz?
LM – Não!
OF – Como começou sua amizade com Anitta e de que maneira ela se transformou vegana?
LM – Nos conhecemos há um tempo no aeroporto. Ela me disse: “Assisti seu programa quando criança e já adotei 2 vira latas”. Ela não tem frescura, quando a encontrei pela primeira vez, já estava com sucesso, tranquila. Nos falamos de novo um ano depois desse encontro, me chamou no privado na rede social, porque queria adotar um dos cães resgatados pela minha equipe. Levei ela no Instituto para escolher e ela acabou adotando um dos irmãozinhos e eu outro. Digo que somos parentes por parte de cachorro (risos). Começamos a nos falar e fui no aniversário dela, ficamos mais próximas, nos separamos na mesma época, vajamos, nos divertimos. Anitta é divertida, generosa. No Réveillon aconteceu conosco algo iluminado: ela decidiu ser vegana. Ela tem responsabilidade, sabe que tem que fazer algo pelo todo. Quando cheguei num hotel e a encontrei, ela estava comendo uma feijoada e eu disse: ‘eu não me incomodo’. Ela perguntou do leite e eu expliquei pra ela. As pessoas se assustam quando você explica. Assistiu o documentário Cowspiracy que apresentei a ela, daí ela virou rápido, está adorando, disse que a pele melhorou, o intestino melhorou, o humor… Anitta é uma menina antenada e tem coração enorme. Eu já ganhei o ano, cumpri uma missão. E acho que ela vai conquistar o mundo com suas músicas, tem muita coisa boa vindo por aí… Ela é sucesso com jovens que se transformam.
OF – Como lida com as críticas ao seu trabalho?
LM – Hoje tem muita gente que me encontra em eventos e diz que ria muito de mim quando me via chorar na TV pelos animais e contam que hoje resgatam bichinhos também. Sei que tem muita gente que mudou a opinião. Faço tudo para despertar a consciência. Hater sempre existiu e sempre vai existir. E não só comigo. Não faço nada pra aparecer. Pra ter uma ideia, estava com meu filho na praia, curtindo férias e ele viu 5 peixes fora da água. Corri e joguei eles no mar e quase apanhei de um pescador. Ele não acreditava que eu estava tentando salvar o peixe e não fiz de sacanagem, realmente não vi que era dele. Eu ofereci dinheiro pra ele e disse que só queria salvar e que meu filho estava chorando por ver o peixe morrer. As coisas são tão absurdas que pensam que eu quero aparecer. Mas veja, deixo meu filho muitas vezes para ir fazer meu trabalho com os animais. As pessoas me xingam, mas sei que minha missão é mudar esse paradigma de vida. Entendo que isso faz parte do meu trabalho, trago coisas novas. Na época do Instituto Royal, disseram que éramos ruins, charlatões. Mas 5 anos depois, a mesma emissora, a Globo, mostrou o resultado positivo. Luto pelo bicho que está morrendo, luto pelos animais. Não entendo esse julgamento. As pessoas medem as outras pela própria régua.
OF – Como foi sua experiência em Brumadinho?
LM – Foi uma sensação horrível, devastador tudo aquilo. Ver o que a corrupção está fazendo com o povo, com o meio ambiente. Estou estudando e agora sei que temos que proibir este tipo de barragem perigosa e criminosa. Acho que está na hora de me empenhar. E os corruptos deputados, diminuíram o número de fiscais . Foi tudo muito horrível, pelas pessoas que morreram, pelas que perderam tudo, pelos animais, pelo meio ambiente, nosso país. Vou me empenhar para proibir esse tipo de barragem. Já estou marcando reuniões para conversar sobre isso.
OF – Como foi o resgate em Brumadinho?
LM – Foram poucos resgatados. Estavam matando os bichos. A primeira vaca que resgataram foi minha equipe que fez. Depois comprei os tapumes pra ajudar e com helicóptero fui. Resgatamos 3 vacas. Fui pra lá e voltei chorando a viagem toda. Arrisco minha vida e saúde, posso pegar doença mesmo, pois lá aquele barro é tóxico. Quando cheguei ,mexida demais de lá, vi que as pessoas falaram de mim e nem tem ideia daquilo, do que é viver aquilo.
OF – Como é feito o resgate dos animais?
LM – Depende: tem horas que preciso da polícia para ajudar, devido a locais de criações clandestinas ou que mantém os animais de maneira extremamente triste. Em outros casos, damos apoio de medicações, cuidamos, vacinamos, colocamos para adoção consciente.
OF – Consegue medir qual, até hoje, foi a pior situação que encontrou um animal para resgatar?
LM – Nossa, muito difícil responder isso. Mas vou citar os cães que viviam trancados num armário, na casa de uma senhora. Ela era criadora da raça Yorkshire eles viviam em péssimas condições, dentro de armário, em aquário…
OF – As vacinas que o Instituto Luisa Mell aplica nos bichinhos, são doadas?
LM – Não, nós compramos.
OF – Como conseguem?
LM – Com as doações diretas de pessoas ou com a compra dos produtos do Instituto, que tem renda totalmente revertida aos cuidados com os bichinhos que resgatamos.
OF – Qual conselho você dá para quem realmente quer adotar um animalzinho?
LM – Que não busque pela aparência e sim se o bichinho vai se adaptar ao seu estilo de vida. Adote cães adultos. Sabe, os filhotes tem mais devoluções que adultos, que já não destroem coisas em casa. O adulto já tem uma personalidade então é mais fácil cuidar. A pessoa precisa saber que perfil tem: se quer um cão para correr, então adote um adulto. Se é para curtir em casa,se a pessoa tem bastante tempo pra cuidar, tudo isso deve ser pensado.
OF – Vai ter feira em São Paulo este final de semana. O que é avaliado antes de entregar um cãozinho para adoção?
LM – A pessoa que chega, é atendida por um voluntário que vai ver qual o animal ideal para ela. É feito uma entrevista para saber como a pessoa é e que tipo de bichinho seria ideal e que se adaptará ao ritmo da família. Isso é adoção responsável.
OF – Daí é só levar o bichinho embora e ser feliz?
LM – Não, não. Antes, há um termo de responsabilidade para assinar. Ah, e todos eles são vacinados, vermifugados, castrados e shipados e também levam o documento de vacinação prontinho.
Para quem deseja adotar um cãozinho ou gatinho, veja onde acontecerá a feira de adoção neste sábado (9):
Serviço:
Feira de adoção do Instituto Luisa Mell
Quando – Sábado (9) das 10h às 18h
Local: Shopping Frei Caneca – R. Frei Caneca, 569 – Consolação
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