Luiz Melodia deve partir com música

Por - 04/08/17 às 16:43

Reprodução/Instagram

Uma canção de Lupcínio Rodrigues diz assim: “Maestros, músicos, cantores/ Gente de todas as cores / Façam esse favor pra mim / Quem souber cantar que cante / Quem souber tocar que toque / Flauta, trombone ou clarim”.

Hoje acordei com a notícia da morte de Luiz Melodia e lembrei desses versos. Eu penso que quando um artista como ele deixa este mundo e segue com seu espírito para o Plano Maior, nos cabe o papel de cuidar para que sua partida tenha a trilha sonora perfeita.

Negro lindo de sorriso interessante, apareceu pra mim pela primeira vez usando um terno brilhante, uma flor na lapela e cantando no festival Abertura, promovido em 1975 pela TV Globo. O cantor que dizia ‘meu nome é Ébano” ficou entre os finalistas, mas não venceu. E eu, na época uma pré-adolescente de 13 anos, me encantei com aquela figura, mas tive que ouvir meu pai dizer pérolas do tipo “essa menina gosta de cada coisa esquisita”. Pois é, até hoje me encanto com pessoas incríveis, encantadoras e “esquisitas”, por que não? Tudo depende do olhar de cada um.

Conheci Melodia em 1988, quando trabalhava artistas da turma da MPB contratados por uma empresa que se dedicava minha sala, era como se eu vislumbrasse um oásis no deserto. Nada contra os sertanejos, fiz bons amigos entre eles, mas entregar um LP de Luiz Melodia, Cida Moreira ou Tim Maia para um crítico de música, representava um precioso momento entre a assessora de imprensa e o jornalista.

Nesse ano lançamos o disco Claro, e meu maior contato era sempre com Jane, sua mulher. Pessoa fácil de se lidar, profissional ao extremo e sempre com os olhos atentos em cada detalhe da vida e trabalho do marido. Melodia era como uma melodia. Falava manso, sorria fácil e, quando subia ao palco… viajava e fazia a plateia viajar. Foram bons tempos, uma rápida convivência, mas Luiz Melodia segue até hoje presente na trilha sonora da minha vida.

Como espírita que sou, tenho plena certeza de que a vida continua. Ultimamente estou estudando os grandes compositores da música clássica sob a ótima do Espiritismo. Existe uma vasta literatura sobre isso, textos assinados por escritores conceituados como Léon Dénis, que em 1922 escreveu para a Revue Spirite (Revista Fundada por Allan Kardec) o livro Le Spiritisme Dans l'art (O Espiritismo nas artes). O bom disso tudo é saber que muitos nos esperam quando passamos para o Plano Maior. Ainda temos muito o que fazer e, no caso de artistas como Luiz Melodia, não será diferente. Por conta disso, o melhor a fazer num dia como hoje é dedicar alguns minutos para pensar no Negro Gato emanando muito amor, pedir aos Anjos que estejam ao seu lado neste momento de transição e parabenizar os amigos lá de cima, pois alguém especial está chegando, pra cantar com sua voz macia de veludo, pra cantar coisas encantadas como Fadas.

Devo de ir, fadas
Inseto voa em cego sem direção
Eu bem te vi, nada
Ou fada borboleta, ou fada canção
As ilusões fartas
Da fada com varinha virei condão
Rabo de pipa, olho de vidro
Pra suportar uma costela de Adão
Um toque de sonhar sozinho
Te leva a qualquer direção
De flauta, remo ou moinho
De passo a passo passo…

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