Mãe de Toni Garrido é vítima de racismo, mas não deixa barato

Por - 15/07/06 às 17:30

OFuxico

Toni Garido, líder do grupo Cidade Negra, tinha oito anos quando se deparou pela primeira vez com o preconceito racial. Na época, o menino nascido na Vila Kennedy, bairro pobre do Rio, já morava na famosa Copacabana, na zona sul, na casa onde sua mãe trabalhava como doméstica. Toni, ainda o desconhecido Antônio Bento, voltava da escola. Ao entrar no elevador com uma senhora, foi puxado por ela pela gola da camisa.

“Sai daqui, que seu elevador é o outro”, gritou a senhora, empurrando-o para fora.

Naquele momento, Toni entendeu o que era e que, de fato, existia preconceito.

“Ali saquei que existia preconceito, que a vida era feita de açúcar e sal. Mas vi também o tamanho da proteção que eu tinha. A senhora que já tinha sido patroa da minha mãe e se ofereceu para cuidar de mim, a minha “mãe branca”, de classe média, fez desse episódio um caso de polícia. Lembro dela gritando: “Existe a Lei Afonso Arinos!.” Eu não tinha idéia do que era isso”, recorda o cantor.

Passados 30 anos do episódio, Toni sofreu ao saber que sua mãe, Terezinha Marcelino, de 77 anos, sofreu discriminação também. Ela saía de um hortifrutigranjeiro na Cobal do Humaitá, conhecido e badalado centro gastronômico na zona sul carioca, quando foi abordada pela segurança do local.

Ela comprava frutas e, ao pegar uma cereja, ouviu gritos de “Negra ladra!”. Terezinha passou mal diante do preconceito exacerbado, mas não baixou a cabeça e muito menos deixou barato. Seguiu em frente e registrou queixa na 10ª DP (Botafogo), por racismo.

“A minha mãe passou por todos os episódios possíveis: de apelidos ligados a animais a constrangimentos variados”, lembra o cantor.

Toni, casado há quase 20 anos com a produtora de modas Regina Coelho, teve problemas para arrumar namorada na adolescência.

“Tinha problemas quando me apaixonava por meninas brancas, elas não tinham ainda capacidade de segurar a onda de namorar o menino pretinho, porque os pais tinham preconceito. É muito difícil pra um moleque que vem de lá da comunidade conviver na Zona Sul. Na escola, os professores têm que explicar à criança branca que ela pode ser presa se não respeitar os direitos do colega negro. E o negro tem que ter orgulho, não pode se deixar pisar”, discursa.

Racismo é crime

A lei do jurista Afonso Arinos, de 1951, está presente na Constituição Federal de 1998. De acordo com o artigo nº 5 dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos consta que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,  à liberdade,  à igualdade,  à segurança e à propriedade. A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
 
A pena varia de três meses a um ano de reclusão. Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, a reclusão é de um a três anos, além de multa.
 

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