Malu Mader sobre filmagens de Brasília 18%: ‘Tinha acabado de abrir a cabeça…’

Por - 19/04/06 às 18:45

Felipe Panfili

Como acontece em qualquer lugar que chega, mesmo quando está apenas prestigiando um evento, Malu Mader foi o centro das atenções na pré-estréia carioca do filme Brasília 18%, que marca seu primeiro encontro com o cineasta Nelson Pereira dos Santos. Ao lado do marido, Tony Bellotto, e da mãe, Ângela Mader, a atriz relembrou uma dificuldade enfrentada durante as filmagens, que ela chama de ‘situação nada corriqueira na vida de um artista’.

“Fiquei na corda bamba quando comecei a filmar, porque tive uma alergia aos remédios que estava tomando, após a cirurgia que havia feito para a retirada do cisto. Mas, milagrosamente, consegui segurar a barra e dar conta do papel. Tinha acabado de abrir a cabeça e enfrentei uma situação não muito corriqueira para o ator, que é fechar a cabeça e ir trabalhar. Por isso, não estava em um bom momento físico. Mas, tanto o Nelson como a equipe de produção e os atores, foram extremamente gentis e carinhosos comigo”, relembra Malu, que entrou no set de filmagens apenas 15 dias após a operação feita pelo neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, na Clínica São Vicente, no Rio, com total sucesso, no ano passado.

A atriz acrescenta que o cineasta trabalhou muito com a improvisação de todo o elenco, algo com que ela não estava tão habituada.

“Só me lembro de ter vivido algo parecido em termos de improvisação quando gravava A Vida Como Ela É. O Daniel Filho (diretor) deixava eu inventar algumas frases, porque sabia que eu tinha acabado de ler toda a obra do Nelson Rodrigues. Mas em Brasília 18%, até porque a personagem Georgesand tem uma característica muito ambígua – será que é ou não corrupta? –, o Nelson me deixou muito à vontade. Ele tinha muita certeza do filme que queria fazer e dava apenas algumas indicações aos atores. Pediu que eu me deixasse levar e eu só me entreguei. Talvez, por causa do momento delicado de saúde que estava passando, eu não questionei muito, como normalmente faço em outros trabalhos”.

Quando viu o filme pronto, Malu gostou do resultado. “É claro que durante todo aquele processo no qual a improvisação predominava, eu fiquei meio insegura. Mas quando assisti ao filme pela primeira vez, percebi o quanto isso tinha dado credibilidade às cenas, não apenas às minhas, mas a de todos os atores, porque elas ficaram muito realistas”.

A personagem, na ótica de Malu

“A maior característica da Georgesand é a sua ambigüidade, a sua indefinição. E não é fácil trabalhar sob esse prisma – nem o roteiro, nem conversas com Nelson precisavam o perfil da personagem em um filme cuja marca, a meu ver, é justamente essa ambigüidade. Para um ator trabalhar uma personagem sobre a qual ele não tem um consciência clara é andar sobre um fio da navalha – é mais fácil trabalhar um papel linear.
Georgesand pertence a um mundo em que todos estão envolvidos em uma rede de corrupção, transas escusas, conspirações. Essa ambigüidade paira sobre todos os personagens. Nelson tem uma forma de dirigir muito peculiar – ela sabe exatamente o que quer, como se houvesse uma comunicação telepática. Quando percebi esse ‘método’ entendi também que a solução era me entregar e confiar – e foi o que eu fiz. Ele também estimula improvisações, fruto de sua grande autoconfiança. Nelson seria um dos poucos diretores de quem aceitaria um convite sem ler o roteiro – como aconteceu”, conclui a atriz.

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