Manoel Carlos fala de depoimento polêmico exibido em novela

Por - 16/07/06 às 18:02

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A novela Páginas da Vida iniciou seu ciclo de muitas polêmicas mesmo antes de estrear. O governo do Rio de Janeiro tentou proibir a cena de arrastão – considerada negativa para a imagem da cidade – na Praia do Leblon. Mas ela acabou indo mesmo ao ar no primeiro capítulo da trama, dia 10 de julho. Esta semana, o strip-tease de Olívia, personagem de Ana Paula Arósio, originou algumas discussões quanto à adequação ou não da cena para o horário. Já se comenta inclusive que Páginas da Vida,  liberada para as 21h (14 anos), está sendo monitorada pelo Ministério da Justiça, que pode reclassificá-la se julgar necessário.

E as polêmicas da trama de Manoel Carlos não param por aqui. Os moradores do Leblon, bairro carioca onde a trama é ambientada, não andam gostando do tumulto que as gravações por lá vêm causando. Até ovos os moradores já jogaram na equipe da novela, atirados do alto dos prédios.

Mas o episódio mais polêmico e que promete muito barulho ao longo desta semana, ocorreu no final do capítulo exibido na noite de sábado (15). No espaço que o autor dá voz aos populares para falarem de situações da própria vida, dentro de um determinado tema, uma senhora de 68 anos fez um depoimento extretamente forte. Sem papas na língua, ela disse ter dormido ouvindo uma música de Roberto Carlos e que, quando acordou, percebeu que havia se masturbado. Foi aí, segundo ela, que descobriu o que é ‘gozar’, coisa que não sabia até os 45 anos. Ainda no depoimento, que na certa chocou muita gente, julgando-o desnecessário, a mulher também diz preferir masturbação a uma relação sexual a dois, dizendo que “aos 68 anos, não precisa de homem (referindo-se ao prazer no sexo), pois sabe se virar sozinha”.

Diante disso, a reportagem de OFuxico entrevistou o autor Manoel Carlos, neste domingo, dia 16. Sobre o peso do referido depoimento, o autor admite que ele realmente pode ter sido forte demais e diz que poderá orientar a produção de Páginas da Vida que se diminua o impacto dos próximos. Porém, o novelista ressalta: “Eles (depoimentos) são verdadeiros e colocados sempre às 22 horas.”

Questionado se polêmica é sinônimo de audiência alta, Maneco diz que não faz nada deliberadamente para causar polêmica, mas que elas acontecem. “A audiência sobe, se o público gosta da novela. A audiência subir num capítulo por causa de uma nudez ou qualquer cena forte, pode funcionar naquele capítulo, mas isso não significa que vá influenciar a novela toda. O público não é bobo e nem se deixa enganar”, define.

Confira toda a entrevista com Manoel Carlos e, em seguida, o relato da anônima, bem como a letra da música de Roberto Carlos citada por ela:

OFuxico: Como você avalia todas essas polêmicas geradas por Páginas da Vida.

Manoel Carlos: Não faço nada deliberadamente para causar polêmica. Elas acontecem. Não sei se isso é bom ou ruim, porque independem de mim. O bebê chorando em Laços de Família causou uma polêmica enorme e tirou até os atores menores de idade da novela (na época, uma determinação do Juizado de menores do Rio). Mas meu Deus do céu, quase toda novela tem criança chorando.  Por que na minha causou tantos problemas? Sobre as reclamações no Leblon, isso existe e existirá em qualquer bairro que se vá gravar, pois são caminhões, carros, mais de 100 pessoas na equipe, etc., etc. Mas olha: ando pelo Leblon todos os dias, a pé, e só recebo carinho e atenção. Uma pessoa que jogou um ovo em cima da equipe, desceu depois do apartamento e foi pedir para entrar como figurante.  Jogou o ovo de molecagem, como muita gente faz. Noutro dia, um rapaz deu um tiro com espingarda de chumbinho, do seu apartamento aqui no Leblon, e feriu um empregado do supermercado Zona Sul que estava na porta. O que é que ele queria dizer com isso? Que é contra a presença do supermercado em frente à casa dele? Não, claro. Foi só molecagem e a mãe atravessou a rua para pedir desculpas.

OF: Está mesmo havendo muitas reclamações do público à Globo sobre a nudez da Ana Paula Arósio?  Já houve por parte da direção da Globo uma recomendação para que você evite determinadas cenas?

MC: Estou sabendo que houve reclamação porque você está me dizendo, porque até agora ninguém falou nada comigo. Achei a cena muito bonita, de bom gosto, sem vulgaridade. E afinal, o personagem faz um strip-tease para o marido, a portas fechadas, na noite de núpcias. Eles estão casados estão na igreja e no civil. Qual é o problema? Existem cursos de strip-tease para mulheres aqui no Rio, freqüentados por donas de casa e mães de família de todas as classes sociais

OF:  Muitas pessoas com as quais comentei sobre o depoimento daquela mulher, no final do capítulo de ontem (sábado), falando de sua forma de sentir prazer no sexo, dizem que a cena era dispensável.  Até então, os depoimentos mostrados na trama eram de situações de vida, de uma forma até poética… Porque houve essa mudança?

MC: Não houve mudança nenhuma premeditada. Um dos depoimentos foi esse. Mas gravamos muitos e talvez esse tenha sido forte demais. Se acharmos necessário, diminuímos o impacto deles. Mas são verdadeiros e colocados sempre às 22 horas.

OF: Sobre esses depoimentos dos populares, de que forma são feitos? Os textos são espontâneos ou você os faz para serem representados?

MC: Todos os textos são espontâneos e feitos na rua, com quem está passando, desde que a pessoa queira e autorize. Recebemos centenas de pedidos de pessoas que quer gravar depoimentos, mas recusamos todos. Só nos interessamos por pessoas que não se oferecem.

OF: E esses depoimentos irão sempre pontuar os finais de todos os capítulos da trama?

MC: Não sei. Nada é definitivo numa novela. Eles continuarão, enquanto acharmos que eles funcionam que eles preenchem nosso desejo de transmitir ao público depoimentos espontâneos e sinceros, ainda que alguns possam parecer chocantes. Mas podemos cortá-los também do final do capítulo. Isso dependerá apenas da minha vontade e da do diretor Jayme Monjardim. Estamos analisando.

OF: Você reserva mais situações polêmicas para a novela?

MC: Não sei se o que pretendo fazer será polêmico. O público e a mídia que decidem. Todos já sabem que vou encarar temas como Síndrome de Down, Aids, Bulimia, casamentos desfeitos, traições, muita felicidade também, etc., etc. Se virarão polêmica, só quando forem apresentados é que saberemos.

OF: Você acredita que polêmica sobe a audiência?

MC: A audiência sobe se o público gosta da novela. Essa é a única verdade que eu conheço a respeito de repercussão e aumento de audiência. A audiência subir num capítulo por causa de uma nudez ou qualquer cena forte, pode funcionar naquele capítulo, mas isso não significa que vá influenciar a novela toda. O público não é bobo e nem se deixa enganar. Ele quer ver numa novela mais do que nudez, mais do que cenas fortes. Ele quer se emocionar, vibrar, ter o que falar no dia seguinte, no trabalho, na escola, entre amigos e colegas. Isso é o que vale. Isso é o que eu quero que aconteça.

O relato da senhora anônima, na íntegra

 

“Esse negócio das pessoas dizerem que têm que gozar junto, que é isso que faz nenen, é tudo mentira, porque fiquei sem gozar dos meus 14 aos 45 anos… Pra mim era tudo normal… o homem terminava e eu também… Daí, eu colecionava discos do Roberto Carlos e, aos 45 anos, ganhei um LP dele. Botei na vitrola a música ‘Côncavo e Convexo’ e fui dormir. E quando acordei, estava com a perna suspensa, a calcinha na mão e toda babada. Comentei com as amigas…, elas disseram: ‘você gozou!’. Aí que vim saber o que era gozo. Moral da história: sou uma mulher de 68 aos, que homem pra mim não faz falta, eu mesma dou meu jeito.”

Letra da música citada: Côncavo e Convexo

Nosso amor é demais, /E quando o amor se faz /Tudo é bem mais bonito. /Nele agente se dá /Muito mais do que está /E o que não está escrito.

Quando agente se abraça/ Tanta coisa se passa/Que não dá para falar.

Nesse encontro perfeito/Entre o seu e o meu peito/Nossa roupa não dá.

Nosso amor é assim,/ Pra você e pra mim,/Como manda a receita

Nossas curvas se acham /Nossas formas se encaixam/ Na medida perfeita.

Este amor é pra nos/ A loucura que traz/ Esse sonho de paz /E é bonito demais, / Quando agente se beija/ Se ama e se esquece

Da vida lá fora/ Cada parte de nos/ Tem a forma ideal/Quando juntas estão, coincidência total

Do côncavo e convexo/Assim é nosso amor, no sexo.

Este amor é pra nos/ A loucura que traz/ Esse sonho de paz

E é bonito demais, /Quando agente se beija Se ama e se esquece

Da vida lá fora/ Cada parte de nos/ Tem a forma ideal/

Quando juntas estão, coincidência total

Do côncavo e convexo/ Assim é nosso amor, no sexo.

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