Marcello Antony: “Há muita ‘panela’ no cinema nacional”
Por Redação - 24/05/13 às 07:50
Mesmo tendo o entretenimento do público como sua principal finalidade, novela é um instrumento poderoso para colocar certas questões polêmicas em pauta. Não é à toa que, quando uma trama aborda um assunto delicado, a sociedade volta seu olhar para o tema. E Marcello Antony espera que esse seja o caso de seu personagem na nova novela das nove, Amor à Vida. O ator vai interpretar Eron, um advogado bissexual que vive em uma união estável com outro homem e planeja com ele ter um filho. Ao contrário do que geralmente se vê na representação de gays na tevê, o papel fugirá ao máximo da caricatura do homossexual. Sem gestos, linguajar ou caracterização exagerados.
''O tema será abordado com naturalidade e não voltado para o humor como, em geral, é visto o homossexual. Mas o futuro do casal vai depender da aprovação do público'', acredita.
Prestes a completar 17 anos de profissão, esta não é a primeira vez que Marcello dá vida a um personagem controverso. Logo no começo de sua carreira ele encarnou o dependente químico Guilherme Leme Toledo, em Torre de Babel, exibida pela Globo em 1998. Na época, o tema foi considerado muito forte e o personagem acabou vítima de uma explosão no shopping. Mas a repercussão negativa não abalou Antony.
''Ter papéis repetitivos é muito ruim na minha profissão. Gosto de sair do perfil de galã, fazer coisas diferentes para crescer como ator'', confessa.
Hoje, aos 48 anos, o ator buscar revezar seus trabalhos na tevê com o teatro. Isso porque, por mais que tenha um papel de destaque em alguma novela, ele considera que nos palcos pode se entregar mais à interpretação.
''É difícil construir um personagem que se aprofunda na vertical quando se trabalha na televisão. No teatro, encontro esse contraponto que me completa como artista'', conclui.
O Fuxico: Por mais que seu personagem em Amor à Vida não tenha características óbvias de um homossexual, você buscou alguma referência no universo gay para compô-lo?
Marcello Antony: – A maior preocupação do autor e da direção é exatamente não envolver o Eron em um estereótipo. A ideia é que ele seja o mais natural possível e não tenha trejeitos caricatos. Então, eu não tive, por exemplo, uma preparação gestual, porque ele não pede isso. Além da orientação do Wolf Maya e do texto do Walcyr Carrasco, que já vem bem redondo, busquei referências em séries americanas que abordam o tema de forma bem realista. Como a série ''Brothers & Sisters'', que tem um personagem gay, que não dá pinta, que também é advogado e casado com um chefe de cozinha, ou seja, tem a mesma história que estou representando na novela.
OF: Personagens como o Eron, que tratam de forma clara algum tabu da sociedade, podem acabar gerando grandes polêmicas. Você pensa nessa questão?
MA: Eu gosto de interpretar papéis como esse, que causam burburinho na sociedade, porque eles levantam uma questão que precisa ser levantada. Essa curiosidade pelo diferente é boa até para a novela, faz as pessoas assistirem. Não sei como o público vai encarar essa retratação tão natural do homossexual, mas sinto que cumpro meu papel quando faço personagens assim. Primeiro, porque eu sou profissional e, além disso, o ator tem uma grande função social.
OF: E que função seria essa?
MA: Um personagem que levanta a bandeira de certa questão social ajuda as minorias a buscarem seus direitos. Quando interpretei um dependente químico em Torre de Babel, o público achou que era muito pesado para a tevê. Mas, três anos depois, a atriz Débora Falabella também viveu uma dependente química, em O Clone, e as pessoas acharam legal abordar o tema. Então, sinto que abri as portas para se abordar esse tema, algo que antes não era feito assim abertamente para o grande público.
OF: Ao longo da sua carreira, é visível um foco mais voltado para a tevê e o teatro. Pensa em expandir suas possibilidades para o cinema?
MA: Eu já atuei em alguns filmes e adoraria fazer mais alguns, mas existe uma "panela'' muito forte no cinema nacional. Geralmente, acham que o ator que trabalha muito na televisão vai cobrar um valor absurdo para aparecer em um longa, o que não é verdade. Às vezes, também não gostam de associar o nome de um ator da Globo ao filme, então eu não tenho recebido nenhum convite. Isso é algo que não afeta só a mim. Por causa dessa escassez, muitos artistas produzem seus próprios filmes. Se for para produzir, acabo dando preferência ao teatro.
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