Marcos Palmeira: “Fazer cinema na TV é mais intenso e visceral”
Por Redação - 06/01/13 às 11:00
Marcos Palmeira ainda estava de "ressaca" das artimanhas de Sandro, o malandro arrependido que interpretou em "Cheias de Charme", quando foi chamado para O Canto da Sereia, microssérie de quatro episódios que a Globo exibe a partir do dia 8 de janeiro.
"O Sandro foi um personagem que me deu muitas alegrias. Estava meio melancólico com o fim da novela. Mas fui surpreendido pelo Augustão, um cara curioso, que vai desvendado os segredos da história", conta.
Com clima de cinema noir, O Canto da Sereia acompanha os fatos que envolvem a morte da musa da axé music Sereia, de Isis Valverde. Aos poucos, as ambiguidades e a real personalidade da cantora e de todos os que a rondavam vêm à tona, inclusive de Augustão, que trabalhava como seu segurança pessoal. A aura de mistério e o flerte da produção com o cinema encantaram o ator e foram fundamentais na hora de acertar sua participação no projeto, dirigido por José Luiz Villamarim.
"Eu gosto da ideia de fazer cinema na tevê. Tudo fica mais intenso e visceral. Desde a preparação, passando pelos ensaios e pela equipe", valoriza.
Por influência do pai, o cineasta Zelito Vianna, o ator carioca começou a atuar aos 5 anos de idade no longa Copacabana Me Engana, de 1968. Hoje, aos 49, Palmeira orgulha-se da carreira que construiu no cinema, no teatro e, sobretudo, na tevê, onde estreou com uma pequena participação em Mandala, de 1987. Foi através de personagens rústicos de novelas como Pantanal, da extinta Manchete, Renascer e no remake de Irmãos Coragem, que ele se tornou conhecido nacionalmente e destacou-se como um dos melhores atores de sua geração.
"Próximo dos 50 anos, ainda tenho vontade de fazer muitas coisas, mas não tudo. Nessa profissão é preciso saber selecionar e dizer 'não'", acredita.
O Fuxico: Você se mostra bem seletivo com seus trabalhos na tevê. O que o atraiu em O Canto da Sereia a ponto de fazer você emendar a microssérie com o final de Cheias de Charme?
Marcos Palmeira: É uma questão de vontade. Eu venho emendando alguns trabalhos desde o ano passado. Fiz dois episódios em formato de telefilme de Mandrake, na HBO, fiquei nove meses concentrado em Cheias de Charme e os últimos dois meses me preparando e gravando O Canto da Sereia. São três projetos que eu não conseguiria deixar de fazer. Estava cansado depois da novela, mas a oportunidade de voltar a trabalhar com o José Luiz Villamarim e o perfil do personagem me fizeram aceitar na hora. Além disso, é mais uma boa oportunidade de fazer cinema na tevê.
OF: Como assim?
MP: O livro do Nelson (Motta) tem uma pegada bem cinematográfica. Foi adaptado pelo George Moura, Patrícia Andrade e Sergio Goldenberg, que são roteiristas de cinema. E ainda tem direção de fotografia do Walter (Carvalho), responsável pela fotografia de inúmeros filmes nacionais. É uma produção que tem total diálogo com o cinema desde que foi idealizada. Isso faz diferença nos bastidores e no resultado. Por tudo que foi desenvolvido, me senti fazendo um longa-metragem em 10 semanas.
OF: A produção ter quatro episódios também foi um atrativo?
MP: Sou um cara do cinema. Projetos de curta duração, mas de processos mais intensos me interessam. Esse formato de microssérie é algo que eu ainda não tinha feito na Globo e que gostei bastante. No entanto, não importa se é uma novela de 10 meses de duração ou uma participação especial em um episódio de As Brasileiras. O mais importante é o personagem mexer de alguma forma comigo. E o Augustão me motiva a criar e a mostrar uma outra faceta minha na tevê.
OF: Por quê?
MP: Porque ele é um cara heróico. Só que no melhor estilo baiano de ser (risos). É um personagem tranquilo e, por vezes, bonachão. Não chega a flertar com a malandragem, pois é de uma curiosidade sagaz. Justamente por isso, decide trabalhar como investigador particular nas horas vagas.
OF: Esse perfil investigativo aproxima o Augustão de Mandrake, personagem-título interpretado por você na série da HBO. Ficou com algum receio de se repetir?
MP: São personagens bem diferentes. Talvez a investigação paralela seja o único elo entre os dois. Pois o Mandrake é um advogado criminalista que lida com os problemas da elite e passeia pelo submundo carioca. O Augustão já tem aquele tom mais comum, um detetive da Baixa do Sapateiro (bairro da região central de Salvador), ex-policial, que trabalha como segurança particular. Existe um desnível social enorme que separa os papéis.
OF: O Augustão vai investigar a morte de Sereia paralelamente ao trabalho da polícia. Todo esse interesse entre seu personagem e a protagonista esconde algum sentimento mal resolvido?
MP: A trama é cheia de mistérios que não posso adiantar. Mas acredito que a relação entre o Augustão e a Sereia seja mais paternalista. Protegê-la vai além da função ou do salário que ele recebe. Após o assassinato, ele leva isso até as últimas consequências. Vira uma questão de honra elucidar o que realmente aconteceu. Uma ligação mais quente existe entre ele e a Mara (Camila Morgado), empresária da cantora e uma das principais suspeitas.
OF: De alguma forma, o Augustão se sente culpado pela morte de Sereia?
MP: Sim. Mas não é só isso. Ele se culpa, ao mesmo tempo em que acha que está envolvido, indiretamente, com o assassinato. E ainda é visto pela policia como um dos suspeitos. O legal dessa história são as inmeras possibilidades.
OF: Personagens baianos não chegam a ser uma novidade no seu currículo, que conta com o João Pedro de Renascer e o Guma de Porto dos Milagres. Ter esse histórico facilitou na hora de compor o Augustão?
MP: Ajuda com questões de prosódia. Mas apesar de já ter feito alguns personagens baianos, todos eles eram rurais e muito rsticos. Como em O Canto da Sereia meu personagem é urbano e contemporâneo, precisei pegar leve no gestual, na postura e no sotaque. Me policiei para não puxar nenhuma referência dos tipos antigos. Não queria nada rural na composição dele. Concentrei o trabalho nas minhas observações sobre a massa de Salvador e me preocupei em criar um tipo mais contido, coerente com a temática misteriosa dessa produção.
OF: Renascer está sendo reprisada pelo canal pago Viva. Você tem acompanhado?
MP: Eu fiquei muito feliz em saber que a novela iria voltar ao ar. Assisti a alguns capítulos, mas não tenho tido tempo de ver muita coisa. Volta e meia, algum amigo me liga ou alguém me para na rua falando o quanto que eu estava novo e magro nas cenas (risos)! Eu respondo: 'Lógico, eu tinha 30 anos!' (risos).
OF: Quais as suas principais lembranças das gravações de Renascer?
MP: Acredito que a novela foi um marco na teledramaturgia. Era a volta do Benedito Ruy Barbosa à Globo, no horário nobre e com uma história forte e emocionante. Lembro muito das cenas da fazenda, em meio aos pés de cacau. Foi um trabalho muito importante para a minha trajetória também. Assim como o autor, eu também estava voltando a trabalhar na Globo depois do sucesso de Pantanal, da Manchete.
OF: O início de sua carreira na tevê é marcado por personagens rsticos como os de Pantanal e Irmãos Coragem. Em algum momento você achou que esses tipos poderiam limitar sua carreira?
MP: Ser limitado a um tipo específico é um risco que qualquer ator de televisão corre. Eu não fiquei receoso com isso, apenas me mostrei interessado em fazer personagens que fugissem um pouco desse estereótipo. A parte legal de amadurecer na frente das câmaras é exatamente garantir certa autonomia para aceitar ou recusar trabalhos. Se eu amo atuar até hoje, isso é reflexo das escolhas que fiz ao longo da minha carreira.
OF: Em agosto deste ano, você completa 50 anos de idade, 26 desses dedicados à televisão. Além da autonomia artística, qual balanço você faz desta trajetória?
MP: O que mais aprendi ao longo da minha carreira é que sempre depois de um personagem, vem outro (risos). Uns deixam saudades, outros não. Aprendi a lidar com as oscilações da tevê e acho um privilégio chegar aos 50 anos sendo convidado para tantas coisas legais. E além disso, de bem com o meu corpo e a minha mente. Não tenho medo de envelhecer porque é algo que não tem jeito mesmo (risos).
Porção empresário
Grande parte da boa forma de Marcos Palmeira tem a ver com a sua alimentação, sempre balanceada e repleta de produtos orgânicos vindos direto de sua fazenda, localizada na Região Serrana do Rio de Janeiro.
"Alimentos mais frescos e sem o uso de agrotóxicos fazem uma grande diferença na vida de qualquer um", opina o ator que, há 15 anos, passou a vender parte das verduras, legumes, frutas e laticínios produzidos em suas terras para uma rede de supermercado carioca.
De olho no potencial comercial desses alimentos, Palmeira resolveu mostrar sua faceta empreendedor e abre, este mês, a primeira loja do Armazém Vale dos Palmeiras, no Leblon, famoso bairro da Zona Sul do Rio.
"A principal função da loja é fazer o consumidor entender que os alimentos orgânicos não têm nada a ver com essa onda de light e diet, mas sim em se alimentar de forma mais sadia e de bem com a natureza", entrega.
Risos e planos
Marcos Palmeira chegou a pensar em apenas descansar em 2013. No entanto, a possibilidade de gravar a terceira temporada de Mandrake, na HBO, e um convite para uma novela que ele prefere manter em segredo por enquanto o fizeram rever os planos para este ano. Antes desses dois trabalhos, que devem ser realizados a partir do segundo semestre, em maio, Palmeira já está comprometido com as ações de lançamento de Vendo ou Alugo, longa dirigido por sua irmã, Betse de Paula.
"É uma comédia contemporânea sobre o cotidiano de uma família que já foi rica e hoje vive endividada, onde atuo ao lado de Marieta Severo e Nathalia Timberg. Aliás, é uma boa oportunidade para ver a Nathalia fazendo rir", adianta.
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