Marjorie Estiano: ‘Não sei agir sob pressão’

Por - 15/08/17 às 09:20

Divulgação/Globo/João Cotta

No ar como a Dra Carolina, na série Sob Pressão, exibida na Globo nas noites de terça-feira, Marjoie Estiano chama mais uma vez a atenção diante de sua primorosa interpretação. Em conversa com a reportagem de OFuxico, a atriz de 35 anos destacou a experiência de viver uma médica e enfatizou que não encararia a profissão. Confira! 

OFuxico: Dra Carolina deu mais leveza ao tenso clima do hospital. Levou à equipe o toque de afeto que faltava. O amor tem o poder de curar?

Marjorie Estiano: Sem dúvida. Acho que, inclusive, a matéria prima dos médicos é o amor. Eles se mobilizam para ir diariamente para os hospitais e suprir uma demanda imensa. É o amor que dá a eles essa força. É a base disso tudo. Eu estou muito feliz e fico emocionada de poder fazer parte desse discurso. Esse time é maravilhoso. Se tiver outras temporadas, eu vou amar fazer.

OF: Falando em sentimento, em meio a todo o caos, surgiu o amor entre ela e o colega de trabalho, que nasce no meio do caos. Há espaço? Dá para se desligar da tensão?

ME: Estamos mergulhados nisso. A gente se relaciona com as pessoas com as quais a gente mais frequenta. As vezes não é necessariamente um flerte, ou um amor, mas uma aproximação, uma afinidade, mas os episódios ficam mais em cima dos pacientes, escolhas que devem ser feitas, do que propriamente do amor, que ocupa menos de 20% da trama.

OF: O que te mais te atrai neste trabalho?

ME: É muito mobilizador fazer parte de um projeto que visa contar histórias tão reais. A expectativa é sempre de poder mobilizar, atingir, transformar, e fico honrada em poder fazer parte com esta intenção, na esperança de que possa gerar alguma mudança na nossa saúde pública. A falta de recursos, a falta de estrutura, isso já é sabido. O que a série tenta é aprofundar nisso, e mostrar a que pacientes e médicos estão sujeitos no dia a dia.

OF: Como foi a preparação para interpretar a Dra Carolina?

ME: Acompanhamos a emergência de um hospital durante determinado período, tudo o que acontece é inesperado, mas situações como as que vivemos na série não aconteceram. Para mim durante o laboratório ficou mais claro o entendimento do ofício, além é claro, da vulnerabilidade do paciente que depende do serviço público de saúde. Eu nunca tive problemas com sangue, mas no começo do laboratório foi bem impactante ver um corpo aberto, porque você tem uma relação de zelo e cuidado com seu corpo, e quando aquilo é aberto e você vê tudo funcionando, desde os órgãos até os músculos. Usamos os instrumentos que se usam no hospital, e temos assessoria de médicos o tempo inteiro para não cometermos nenhum equívoco.

OF: Assistindo à série, um dos maiores incômodos é o fato do médico ter que escolher o paciente a ser atendido. Como você lida com isso?

ME: É muito delicado. É a escolha de quem opta por essa profissão que é tão gloriosa e difícil. Os médicos se responsabilizam muito por aquelas vidas que dependem deles naquele momento.  Apesar de impactante, com a frequência aquilo vai virando um ofício. No final das contas a gente é uma máquina onde cada peça precisa funcionar no seu lugar.

OF: Você encararia essa profissão, diante de tanta pressão?

ME: De nenhuma forma. Eu não sei agir sob pressão, iria sentar e chorar. Eu não saberia não deixar a adrenalina interferir na precisão e nas escolhas rápidas que precisam ser feitas. Sob pressão eu fico completamente espalhada, não sei onde estou e nem quem sou. O médico precisa ter esse perfil e eu não tenho. Quando sai da teoria e vai para a prática, ocupa outro lugar, outra consistência. Ver aquilo no dia a dia é mais mobilizador e te afeta mais do que simplesmente ler a respeito. O propósito da série é trazer para o entretenimento, questões da vida dos médicos, questões políticas, sociais e éticas. Foi uma maneira sábia da direção e dos roteiristas de trazer essa questão que a gente está levantando e temos expectativa de retorno no entretenimento sem ser militante. Os episódios espelham qualidades e defeitos.

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