Miguel Falabella abre o verbo: ‘Nasci fubá, mas não vou morrer fubá!’

Por - 26/08/06 às 17:25

Felipe Panfili

Um homem inconformado com o sistema. É assim que Miguel Falabella se define às vésperas de mais uma eleição. Mas na contramão dos problemas, ele dá a sua contribuição com arte.

Recém-chegado de uma temporada em Portugal, onde encenou a peça Submarino, Miguel faz um desabafo emocionante sobre a crise da cultura no país.
 
“Estava em Lisboa, voltei no tempo e fiz como os artistas mambembes. Eu e a atriz portuguesa Teresa Guilherme fazíamos um dia de apresentação em cada cidade. Íamos de carro, uma experiência que só os antigos têm. Volto pra cá e me deparo com a dificuldade – ainda – de se produzir cultura. Não vou ficar amargo por isso, mas não agüento mais”, diz.
 
Miguel está ensaiando um musical, Império, com 22 atores/cantores, além de uma orquestra com 14 músicos. Ele garante que não pagará salários inferiores a R$ 2 mil para cada artista, já que não aceita a desvalorização da arte. Mas está se desdobrando para isso.
 
“Até agora, só tenho R$ 650 mil. Para esse espetáculo sair como deve, precisaria de R$ 1,2 milhão. Vamos falar sobre o primeiro reinado, ou seja, tem todo um aparato de figurino, luz, cenografia. Se colocar na ponta do lápis, são 36 artistas em cena, fora equipe de produção, técnica, entre outros. Eu vou na contramão. No meio da maior crise, eu inverto”, conclui.

Empresário prefere exaltar grifes

Miguel conta à reportagem de OFuxico que, numa das reuniões em busca de patrocínio, ouviu de um empresário que estava diante de uma bela mulher, que ele estava preocupado demais com arte. E acrescentou que a mulher havia acabado de comprar 70 bolsas de grife.
 
“A mocinha ainda disse ‘bolsa é status!’. Tive que ouvir aquilo! Levantei na hora e fui embora. As pessoas não conseguem entender que o teatro é o espelho da civilização. Quando eu era criança e morava na Ilha do Governador, minha avó pegava dois ônibus para me levar ao teatro, na zona sul do Rio. Era o meu presente de aniversário”, lembra.
 
Em Império, Falabella não atua. Apenas escreveu o texto e cuida da direção. No elenco, todos são cantores. O musical – na verdade uma opereta – estréia em novembro, no Teatro Carlos Gomes, no Centro do Rio. A temporada está prevista para quatro meses.
 
“Não posso cobrar nada por esse trabalho, estou doando a minha participação à arte. O teatro é da Prefeitura e eu sou gestor. Tenho outras fontes de renda, não me preocupo com isso. Não posso deixar os profissionais sem um salário decente. Vou até o fim, porque sou desequilibrado. Nasci fubá, mas não vou morrer fubá!”, desabafa.
 

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