Miguel Falabella: “Novela é uma prisão”

Por - 11/05/14 às 10:01

Ag News

“Eu não sei ficar parado”. A afirmação poderia, tranquilamente, ser o verbete para explicar seu autor, em qualquer dicionário. Trata-se de Miguel Falabella. Aos 57 anos, com espírito cada vez mais jovem, o multifacetado artista não esgota sua indescritível capacidade criativa.

Feliz com o êxito de Pé na Cova, que emplaca a terceira temporada com excelentes índices de audiência, o louro conversou com a reportagem de O Fuxico e revelou muitas surpresas que ainda têm guardadas.

 O Fuxico: Como você consegue se reinventar ?

Miguel Falabella: Eu observo e ouço as pessoas comuns. Nada além. Não busco inspirações e situações mirabolantes. Adoro lidar e brincar com o dia a dia. Me reinvento com as conversas com minhas anjos da guarda, lá em casa, e ouço muita música antiga. Vivemos num país cruel nesse sentido. A gente precisa ter esse resgate, mas, como somos vilipendiados, sacaneados como cidadãos, temos que lutar eternamente contra o rancor que vai se apossando de nós. Quando leio jornal de manhã, a vontade que dá é sair com uma arma na mão, dando tiro. A indignação que vivemos é prejudicial. Por isso eu gosto de gente!

 OF: Gosta também de se cuidar, não é?

MF: Tenho que me cuidar! Fiz a dieta da proteína e perdi seis quilos. Eu estava muito gordinho e com problemas na lombar, daí o médico disse que, se eu não perdesse a barriga, a dor não ia passar. Perdi gordura mesmo, estava com um barrigão indecente, do tipo mete ou beija.

OF: você já tem um seriado em produção, o Sexo & Ar Nega, como está isso?

MF: A todo vapor! Sexo & Ar Nega, com R de carioca mesmo, vai brincar com o sucesso Sex And The City. No lugar de Nova York, mostro o drama das mulheres da Cidade Alta, em Cordovil, no subúrbio do Rio.

OF: Pode contar um pouco a trama?

MF: São quatro amigas negras, cantoras, interpretadas pelas atrizes Karin Hills, Lilian Valesca, Maria Bia e Corina Sabath. Uma é camareira, outra cozinheira, tem operária e outra costureira. A cada dia fico mais encantado com elas, cantam demais, são ótimas! Eu traduzo alguns sucessos da música negra americana, vamos pro estúdio e elas gravam. Por exemplo, o clássico Take Me In Your Arms And Love Me, de Gladys Knight, virou Pega Teu Amor e Vaza.

OF: como surgiu a ideia desse seriado?

MF: Esse seriado, na verdade, é necessário porque a população negra do Brasil pode até ser protagonista, mas é sempre o bandido, o pobre, o desgraçado. Claro que elas são pobres, moram na Cidade Alta, mas têm o olhar lúdico de mulheres que gostam de transar, de se arrumar, que querem encontrar um amor. Os bofes são pedreiros, mecânicos, mas os problemas são os mesmos de qualquer mulher. Elas têm moda, não são para baixo, são sobreviventes nessa selva, como todos nós.

OF: E como fica o Pé na Cova?

MF: Eu espero poder intercalar uma série e outra. Ainda não tem nada confirmado, mas se Sexo & Ar Nega estreasse no segundo semestre, eu ia adorar.

OF: A Karin Hills também atua no Pé Na Cova…

MF: E não seria maravilhoso fazer a dobradinha?

OF: quando te veremos novamente em uma novela?

MF: Não tenho tempo. Novela é uma prisão, um massacre do intelecto. Não quero, não me interessa. Tem que entregar os capítulos às pressas, senão atrasa, todo mundo fica te ligando enchendo o saco e eu fico nervoso.

Glória Pires e Miguel Falabella fazem leitura do livro de Elisa Lucinda
Miguel Falabella comemora terceira temporada de Pé Na Cova


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