Miguel Falabella pode se despedir da atuação na tevê, em Pé na Cova

Por - 26/01/13 às 10:10

Pedro Paulo Figueiredo/ Carta Z Notícias.

Assim como o ignorante Ruço de Pé na Cova, Miguel Falabella sabe que não tem mais "uma vida inteira pela frente". E decidiu priorizar seus desejos. Um deles, estrear a série sobre a família degenerada que mantém uma funerária no subúrbio carioca, ele já realizou. Mas não esconde que, para colocar em prática os outros – que envolvem o lançamento de um romance e até, de repente, um folhetim original para a faixa das 23 horas , talvez tenha de largar a carreira de ator. Pelo menos na frente das câmaras.

"Me ocupa demais. Um dia de estúdio é um dia perdido e a minha cabeça não para. Descanso de um projeto trabalhando em cima de outro. Preciso estabelecer o que me interessa mais, já que não sei quanto tempo útil de vida ainda tenho", avalia. 

Miguel é reticente até quando o assunto é sua carreira de autor na televisão. Se queixa da falta de espaço para criar formatos novos e, confessa, tem dificuldades de lidar com resultados abaixo do esperado. Principalmente quando se trata de uma novela, que demanda um esforço maior. Para ele, uma saída seria apostar nos canais fechados, não fosse uma grande diferença entre essa realidade e a que ele vive trabalhando na Globo.

"É muito pouca grana. Quando decidirem investir mais nesse segmento, se eu ainda estiver vivo, pode ser que entre nessa onda", lamenta. 

O Fuxico: Você bate na tecla de que está fazendo uma comédia mais reflexiva em Pé na Cova. Acha que falta esse tipo de produto na tevê aberta?

Miguel Falabella: Eu não vejo tevê aberta. Mas acho, sim, que estou fazendo uma comédia reflexiva. E não só nessa relação com a morte que existe ali. Tem o homem que, depois dos 50 anos, forçosamente, passa a ver a finitude dos seus dias. O Ruço faz um saldo da vida dele. Tem uma ex-mulher alcoólatra dentro de casa, uma filha que fica nua na internet para sobreviver e namora uma mecânica lésbica… Enfim, é um mundo para o qual ele não foi preparado.  

OF: Desta vez, você volta a atuar em um texto seu, diferentemente do que fez em A Vida Alheia. Por quê?

MF: No humor, sempre estive à frente das câmaras. Em A Vida Alheia não fiquei, é verdade, mas não tinha um personagem que eu quisesse fazer ali. E vou dizer uma coisa: talvez, dessa vez, seja o último papel que eu faço na televisão aberta. Não digo que dessa água não beberei, mas cada vez me vejo com mais vontade de escrever. Ainda mais na tevê. Acho que estou tirando meu time de campo quietinho. Mas no teatro, não. Ali, vou morrer atuando. 

OF: Por que pensa em parar de atuar na tevê?

MF: Me toma muito tempo. Estou escrevendo um romance e quero terminá-lo. E televisão ocupa demais o ator. Exatamente como o Ruço, eu vejo a finitude do meu tempo. Quantos mais anos teis terei pela frente? Preciso, agora, priorizar aquilo que realmente desejo fazer. E um dia de Projac é um dia perdido na minha vida. A não ser que tenha uma coisa que eu adore, que eu queira muito fazer, acredito que estou parando mesmo.  

OF: E quanto às novelas, pretende parar de escrevê-las também?

MF: Novela é muito massacrante e tem outros comprometimentos. Você tem de agradar e as pessoas que assistem, de um modo geral, querem ver a mesma coisa a vida inteira. Quando é diferente, não aceitam, não compram a ideia. Fora que é triste quando novela não dá certo porque é um trabalho brutal. Tem também o fato de ser o alicerce da emissora, sendo que eu sou transgressor. Não quero fazer as mesmas coisas. Para mim, novela fica difícil. Vou entrar em quê? Só nas 19 horas, mas tem o problema do horário, que nada pode.

OF: Tem interesse em outra faixa então?

MF: Não quero esse comprometimento.

OF: Nem os folhetins curtos das 23 horas?

MF: Ah, isso sim. Tenho até algumas ideias, mas estou com muita coisa de teatro agora e ando sem tenho para mexer nisso.

OF: Pensou em algum remake para adaptar?

MF: Tenho horror a remake! Não gosto de coisa repetida, caminho para frente. Quero que tenham museus para eu entender por que chegamos aqui. Mas, daqui, pretendo seguir adiante. Para isso, talvez rever fosse mais legal que adaptar.  

Miguel Falabella diz que gosta de trabalhar com um diferencial
Miguel Falabella: Eu quero priorizar aquilo que realmente quero fazer