Miguel Falabella: “Quero morrer atuando no teatro”

Por - 19/01/13 às 10:02

Pedro Paulo Figueiredo/ Carta Z Notícias

Aos 56 anos, Miguel Falabella começa a pensar em quanto tempo útil de vida ainda tem para fazer as coisas que deseja. E é nesse clima de reflexão que o autor escreve os 24 episódios de Pé na Cova, série que a Globo estreia no próximo dia 24, quinta-feira, na faixa das 23 horas. Tendo a morte como pano de fundo – boa parte da ação se passa em uma funerária –, o programa explora a dura realidade de uma família de classe média baixa do subúrbio carioca, encabeçada pelo pobretão e ignorante Ruço – talvez o último personagem de Miguel na televisão.

Miguel Falabella: "Não digo que dessa água não beberei, porque pode aparecer um trabalho irrecusável. Mas me vejo com a intenção de escrever mais e tirar meu time de campo quietinho. No teatro, sim, quero morrer atuando. Mas, na televisão, me toma muito tempo", justifica. 

A ação se desenrola a partir da família de Ruço e seu estabelecimento comercial, a F.U.I., Funerária Unidos do Irajá, que herdou de seus antepassados. Mas, como se trata de um negócio antigo e mal administrado, não consegue sustentar a casa só com isso. Sobra para a filha Odete Roitman – uma homenagem à célebre vilã de Beatriz Segall em Vale Tudo, novela exibida pela Globo em 1988 , vivida por Luma Costa, tirar a roupa na internet para, assim, conseguir uns trocados e, com eles, complementar a renda da família.

"Nosso pano de fundo, na verdade, é a grande tragédia da educação nacional. Temos de bater nessa tecla. O Brasil precisa de uma reforma violenta nessa área ou sabe Deus o que acontecerá", critica Miguel, que criou uma espécie de A Grande Família – seriado que, curiosamente, antecederá Pé na Cova após o fim do Big Brother Brasil 13, quando volta à grade da Globo – degenarada, repleta de ignorantes e sem qualquer pilar moral ou ético. 

Como em tudo que Miguel faz, o exagero é constante em Pé na Cova. A família de Ruço, por exemplo, se mostra o tempo todo sem muita instrução. E Odete, a stripper virtual, namora Tamanco, mecânica vivida pela cantora Mart'nália, a quem trata em algumas cenas com pronomes, adjetivos e substantivos masculinos.

"A relação é tratada de uma forma natural. Por ser uma série de humor e assinada pelo Falabella, é claro que a polêmica se suaviza. Não são personagens que levantam bandeira, mas que fazem piada, tiram sarro", analisa Luma Costa.

Darlene, maquiadora de defuntos vivida por Marília Pêra, é outro papel mostrado em tons acima. Mas não só no que diz respeito ao humor. Parece ser ela a figura que carrega um pouco do drama que também será explorado na produção. Alcoólatra, a personagem é a ex-mulher de Ruço e mãe de seus dois filhos, Odete e Alessanderson, vivido por Daniel Torres.

"Darlene lida o tempo todo com a morte muito de perto. É uma mulher louca, quase sempre embriagada, mas que tem uma função bonita naquele lugar: é quem embeleza essa 'passagem'", adianta Marília Pera.   

Para ambientar a série, a diretora Cininha de Paula foi buscar em Irajá mesmo as referências necessárias. E conseguiu informações usadas tanto no que diz respeito aos serviços funerários quanto aos cenários e figurinos.

"Visitamos o cemitério de lá e, para as roupas, pesquisamos coisas de filmes portugueses, por conta da grande influência das colônias lusitanas", explica Cininha.

Além disso, a diretora decidiu usar linguagens diferentes em cenas exteriores e interiores.

"No estúdio, onde a morte está sempre presente, à espreita, a câmara fica na mão. Já na rua, onde a vida está, a câmara é fixa. Como se fosse a vida com os dois pés fincados no chão", filosofa.

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