Morre Chico Anysio, aos 80 anos

Por - 23/03/12 às 15:03

Divulgação/TV Globo

Morreu no início da tarde desta sexta-feira (23) o humorista Chico Anysio, aos 80 anos. Ele estava internado há mais de cem dias no Hospital Samaritano, na zona sul do Rio de Janeiro, e teve o seu estado de saúde agravado nos últimos dias.

Na tarde desta sexta-feira Chico sofreu uma parada cardiorrespiratória e desta vez não resistiu. A morte do humorista foi confirmada pelo hospital e a causa foi falência múltipla dos órgãos.

O corpo está sendo removido para ser velado em um cemitério, que ainda não foi informado pela família.

O último boletim médico divulgado pelo hospital, na noite desta quinta-feira (22), tinha informado que o estado de saúde de Chico era crítico, e que o humorista tinha sido submetido a uma punção torácica esquerda, com drenagem de grande quantidade de sangue. Chico estava sedado e respirava com a ajuda de aparelhos.

Foram 65 anos de carreira no rádio, na TV, no cinema e teatro. Um legado de 200 personagens.

Casado com a empresária Malga Di Paula, Ele deixa oito filhos e completaria 81 anos no dia 12 de abril.

Biografia

Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho. Esse foi o nome escolhido pelos pais de um dos maiores nomes do humor brasileiro de todos os tempos, ou, simplesmente, Chico Anysio.

Filho de Francisco Anysio, um dos homens mais ricos do Ceará em sua época, e de dona Haideé Viana, Chico nasceu na pequena, mas próspera, cidade cearense de Maranguape no dia 12 de abril de 1931.

O pai de Chico era dono de uma grande empresa de ônibus na região, mas certo dia a empresa pegou fogo e como o humorista explicava sempre, o pai foi dormir rico e acordou pobre.

Aos oito anos, Chico Anysio deixou o Ceará com a família para se instalar no Rio de Janeiro. Esse foi o primeiro passo de uma carreira de enorme sucesso.

O pequeno Chico, desde cedo, tinha mania de imitar as pessoas, o que fazia de forma perfeita.

Aos 14 anos, Chico começou a participar de alguns programas de calouros nas rádios do Rio e de São Paulo. O garoto vencia todos! O empresário Renato Murce observou o talento do jovem e resolveu aproveitar suas imitações em um show.

Chico se apresentava em clubes do Rio e passou a receber seus primeiros cachês.

Fez vestibular para Faculdade de Direito, passou, mas não cursou. Não era isso o que ele pretendia para sua vida. Queria mesmo era fazer graça e divertir as pessoas.

Os primeiros passos

Chico iniciou oficialmente sua carreira na Rádio Guanabara, no início dos anos 50, onde logo de cara passou a exercer múltiplas funções como radioator, locutor, comentarista esportivo e redator. Esperto, ele conseguia se sair bem em todas! Chegou a ser galã das radionovelas, mas não tardou a perceber que seu caminho era mesmo para a linha de shows e comédias. Além da rádio Guanabara, Chico também passou pela Rádio Mayrink Veiga, sempre com sucesso e competência.

Não demorou muito e Chico começou a escrever diálogos para as chanchadas da década de 50 e, algumas vezes, fazia um bico como ator nos filmes da Atlântida. 

Chico Anysio chegou à televisão em 1957, na TV Rio e nessa época decidiu que não queria ser só um, mas vários. Começou aí a criar seus famosos personagens. O primeiro deles foi o Professor Raimundo, que ele trouxe do rádio. Chegou a fazer 207 personagens na televisão.

Aos poucos, Chico deixou o trabalho no Rádio para se dedicar à TV, mas seguiu escrevendo para amigos que continuavam com seus programas de rádio.

Estreia na TV

Chico estreou na TV Rio com o programa Noite de Gala. Em 1959 estreou o Só tem Tantã, que mais tarde passou a se chamar Chico Anysio Show. Nessa época, começou a popularizar seus tipos.

Mas Chico sempre foi múltiplo. Além de escrever e interpretar seus próprios textos no rádio, na TV e no cinema, Chico ainda se aventurou no jornalismo esportivo, no teatro, na literatura, na música e até na pintura.

Na década de 60, agora na TV Tupi, o humorista criou o programa Chico Anysio Show, que mais tarde seria apresentado na TV Excelsior e depois na Globo.

Também nesta fase, Chico começa a demonstrar sua grande habilidade para os espetáculos de stand up comedy, tão populares hoje em dia, mas que tem como precursor o grande Chico Anysio.

Chico na Globo

Em 1968, Chico leva todo o seu talento para a TV Globo, com o programa Chico Especial. Em 1971, no Chico City, Chico cria e apresenta mais de 200 personagens. Entre os mais famosos estão Alberto Roberto, Tavares, Pantaleão,

Bozó, entre centenas de outros. Na emissora carioca faz sua história ficar ainda maior, tornando-se um dos principais nomes da televisão brasileira. Na Globo, Chico comandou os programas Chico Total, Chico Anysio Show e a Escolinha do Professor Raimundo, que apresentou de 1990 até 2002. 

Nessa época, estabeleceu um vínculo forte de amizade com o então diretor José Bonifácio Sobrinho, o Boni. Em 2008, Chico Anysio deu uma entrevista ao site da TV Vanguarda, emissora comandada por Boni. Na ocasião, o humorista falou sobre sua ligação com o diretor. “O Boni é um irmão. Mais do que um irmão, porque os irmãos nos são dados e os amigos nós elegemos. O Boni é um amigo querido, um profissional soberbo, a quem eu devo os melhores anos da minha vida profissional”.

Sempre se reciclando e criando novos personagens, o programa de humor de Chico Anysio se tornou um dos mais importantes da programação da emissora.

Com a saída de Boni da Globo, Chico Anysio começou a perder espaço na emissora e não teve mais uma atração fixa na grade, passando a fazer participações especiais, como fazia até recentemente no humorístico Zorra Total, para onde levou alguns de seus personagens, como Salomé, o Professor Raimundo e Bento Carneiro, o Vampiro Brasileiro.

Chico também passou a fazer participações em novelas da casa. Atuou em Terra Nostra, Pé na Jaca, Caminho das Índias, Sinhá Moça, no infantil Sítio do Picapau Amarelo e também das séries Brava Gente, A diarista e Guerra e Paz.

 No cinema, os trabalhos mais recentes de Chico Anysio foram em Tieta (1996), Se eu Fosse Você 2 (2009) e Uma Professora Muito Maluquinha, lançado em 2010.

Amor pelo futebol

Além do humor, uma grande paixão de Chico Anysio sempre foi o esporte, especialmente o futebol.

Quando era garoto. seu pai lhe dava passes de bonde, para que ele fosse ao colégio. Mas o pequeno caminhava à pé até a escola, vendia os passes e com o dinheiro arrecadado com a venda dos passes ia aos jogos de futebol aos domingos.

O futebol, aliás, entrou muito cedo na vida de Chico. O pai do humorista, seu Francisco, foi quem implantou o profissionalismo no futebol do Ceará, era um homem de prestígio na época e chegou a ser presidente do Ceará Sporting.

Aos 17 anos, na Rádio Guanabara, depois de muito insistir, Chico teve a chance de atuar como comentarista e repórter de campo e fez até a locução de algumas partidas.

Vascaíno doente, Chico também foi comentarista de futebol na TV Globo e, por um tempo, teve como companheiro o Rei do Futebol, Pelé. O humorista sempre dizia que sentia muitas saudades dessa função e afirmava que não havia nada de que ele entendesse mais do que futebol, nem mesmo o humor.

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O lado musical do gênio

Humorista, redator, ator, comentarista esportivo. Tudo isso não bastava para Chico Anysio, que só para variar um pouco, resolveu se aventurar também no mundo da música.

Muita gente não sabe, mas Chico compôs várias canções, muitas delas que tiveram um sucesso expressivo.

O primeiro registro de Chico compositor remete a 1954, quando fez Guarda Chuva de Pobre, na época a canção foi gravada pelos Vocalistas Tropicais.

Dolores Duran, grande nome da música brasileira, gravou várias composições de Chico, a primeira delas em 1959, chamada A Fia de Chico Brito. Nessa fase, Chico firmou uma amizade sólida com a cantora, tanto que foi padrinho do casamento dela com Marcelo Neto.

Na década de 60, Chico gravou duas marchinhas carnavalescas, feitas em parceria com o saudoso Mário Lago. Não Sou de Nada e Eu Sou Durão, que fizeram sucesso.

A composição Rancho da Praça Onze foi gravada por Dalva de Oliveira, no IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro.

Em 1980, fez uma parceria com Benito de Paula na canção De Quem é Essa Morena.

Mas o momento de maior sucesso da carreira musical de Chico foi quando formou com o ator e humorista Arnaud Rodrigues a dupla Baianos e os Novos Caetanos, uma homenagem a Caetano Veloso e Gilberto Gil, na época exilados pela ditadura.

Com esses personagem, Chico e Arnaud gravaram um disco que teve ótima vendagem e excelente execução nas rádios do país.

O escritor

O talento de Chico Anysio é múltiplo e não podia ficar restrito ao humor na televisão ou no teatro, precisava de mais espaço, de mais páginas.

E foi o que ele fez como escritor: criou livros de piadas, romances e crônicas. Como não podia deixar de ser, mais uma vez o que conseguiu com o trabalho foi, simplesmente, o sucesso.

O primeiro livro de Chico foi lançado em 1972 com o título de O Batizado da Vaca. Era um livro de contos, que o humorista levou 50 dias para escrever.

Depois dessa primeira experiência na literatura Chico não parou mais e lançou, no mínimo, um livro por ano.

Em 1992, fez sua autobiografia, Sou Francisco, onde relembra seus, então, 40 anos de carreira. E não parou por aí não. Lançou livros até o ano passado. Em 2011, chegou às livrarias O Fim do Mundo é Ali, duas coletâneas de contos, publicadas em ocasiões diferentes, mas com um vasto material ainda inédito.

Chico sempre gostou das letras e mesmo antes de se enveredar pela literatura, já escrevia muito, desde jovem.

Nos anos 50, escrevia os diálogos das Chanchadas e dos filmes da Atlântida, além de roteiros para cinema. Tudo com a competência e com o sabor que só os gênios conseguem.

Paixão pela pintura

Se Chico Anysio fez sucesso como humorista, ator, radialista, escritor e músico, porque não tentar uma outra faceta no setor das artes.

Inquieto, foi o que fez e tomou gosto pela pintura, mas não apenas para apreciar lindos quadros, mas sim para colocar a mão na massa, ou nesse caso, na tinta e no pincel.

Chico começou a pintar por brincadeira, no final da década de 70. Mas em 1984, Chico decidiu que iria investir em sua carreira de pintor. Determinado, como era, foi exatamente o que fez e o que era um hobby, aos poucos tornou-se uma fonte de renda e relaxamento para o comediante, ou, como ele mesmo disse em seu site, “um emprego para a velhice”.

Como tudo o que sempre fez, Chico também queria fazer bonito na pintura e teve aulas com experientes professores que lhe ensinaram algumas técnicas e detalhes da pintura.

Desde então Chico não parou mais, pintava de 15 a 25 quadros por mês, quando estava trabalhando e mais de 30 por mês quando estava de férias.

Profundo admirador de Renoir, Chico carregava sua caixinha de tintas e pincel para qualquer lugar e sempre que podia dava suas pinceladas.

O artista fez dezenas de exposições aqui no Brasil e também no exterior. Suas obras foram sempre bem avaliadas com boas vendas.

Chico sempre disse que sabia que podia crescer em sua pintura “a ponto de seus quadros valerem muito mais do que valem hoje após sua morte. Nada de milhões como Monet, Van Gogh ou Renoir, mas algo que renda um dinheiro interessante a seus herdeiros”.

 

Uma grande e talentosa familia

Como tudo em sua vida, a família do mestre-gênio Chico Anysio também é grande.

O humorista teve seis casamentos e teve oito filhos. Era pai de Lug de Paula, do casamento com a atriz Nanci Wanderley; de Nizo Neto e Ricardo, da união com Rose Rondelli e do filho adotivo André Lucas. Do relacionamento com a ex-frenética Regina Chaves, era pai de Cícero e de Bruno Mazzeo, da união com a atriz Alcione Mazzeo.

Chico também teve dois filhos de seu casamento com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, Rodrigo e Vitória, essa última, a caçula e única filha mulher do comediante.

Chico Anysio veio de uma família de talentos. Era irmão da atriz Lupe Gigliotti e do cineasta Zelito Viana, sendo tio de Cininha de Paula, Maria Maya e do ator Marcos Palmeira.

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