MV Bill não se considera omisso e diz que hipocrisia é o problema do país
Por Redação - 04/04/06 às 12:18
O rapper MV (Mensageiro da Verdade) Bill não se espantou ao ver num jornal carioca, esta semana, acusações de que teria sido omisso ao testemunhar cativeiros durante sua jornada para realizar o documentário Falcão, Meninos do Tráfico, exibido no mês passado, no Fantástico, da Globo.
Durante mais uma exibição do especial, que teve grande repercussão no país, e lançamento do livro homônimo, realizado na noite de ontem, dia 3, no cine Odeon, no Centro do Rio, Bill se defende.
“Não queria pagar de herói. Meu objetivo era apenas mostrar as angústias, razões, sonhos e contradições dos meninos. Só o fato de haver sobreviventes já é uma vitória. Não me arrependo de não ter falado para a polícia. Não estava ali para delatar, não ia resolver. Acho que o livro e o documentário resolvem mais. Estou preparado para relatar isso num outro livro que estou escrevendo, vai depender do meu humor”, diz Bill.
Para o rapper, a possibilidade de ser acusado de omissão, juntamente a Celso Atahyde, com quem escreveu o livro e produziu o documentário, é uma grande hipocrisia.
“Não sou culpado, tenho uma grande tristeza em ver tantas vidas perdidas. Tem coisas que só eu vi e carrego essa tristeza comigo.Se fui omisso, o que é uma grande hipocrisia, houve também omissão da política, da sociedade e da própria favela. Se eu for condenado, sou réu primário. A pena que é de até seis meses de prisão, fica em pena alternativa de dois a três meses de prestação de serviços à comunidade. Se for isso, tô no lucro. Já faço isso a vida inteira, tô livre. Já vi essa pena ser aplicada em playboy, também quero”, desafia.
Pretensões políticas
Em ano eleitoral, MV Bill não descarta a possibilidade de usar seu trabalho em prol da política. O rapper diz a OFuxico que vai declarar apoio a candidatos que se mostrarem favoráveis ao seu documentário.
“Talvez eu faça campanha para políticos que se importem com a causa. Precisamos de pessoas que somem”, afirma.
Daslu: lugar como outro qualquer
Bill se defende também sobre a escolha da Daslu, loja mais cara do país, para lançar seu livro.
“O lançamento será feito também nas favelas Real Parque e Coliseu, mas as pessoas preferem falar apenas na Daslu. Vou fazer lá sim, é uma questão tão ampla que não deve ficar somente na comunidade, na favela, tem que ampliar para todos os lugares e a Daslu é um deles”, defende.
A maior preocupação de MV Bill agora é que o foco de seu trabalho seja mudado. Medo do que está por vir, até mesmo a condenação por omissão, ele garante que não tem.
“Se eu tivesse medo, não tinha feito nada disso. Há oito anos salvo vidas de uma maneia diferente. Ser chamado de omisso é mais um momento hipócrita, já conheço esse filme. Não quero que desviem o foco do meu trabalho, que é chamar a atenção da sociedade e das autoridades para o problema do tráfico entre os jovens”, diz.
Regina Casé e Darlan Cunha prestigiaram Bill no Cine Odeon, e se mostraram favoráveis às atitudes do rapper.
“A verdade é crua, se eu não tivesse ido para o teatro, seria um falcão. Muitos dos meus tios foram bandidos. Esse problema dos menores entrando pro tráfico é cada vez maior, espero que o trabalho do Bill diminua isso”, diz Darlan.
Regina também defende o amigo.
“Esse documentário é importantíssimo, levantou uma discussão que vai ajudar a resolver essa doença social. Essa história de omissão é uma coisa muito delicada, tem que ser analisada juridicamente, sem hipocrisia. Desejo toda sorte ao Bill e ao Celso, eles estão no caminho”, afirma Regina Casé.
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