Nando Cunha: “Todo homem já teve seus dias de Pescoço”
Por Redação - 07/04/13 às 10:20
Nando Cunha fala de subrbio com propriedade. Nascido na Penha, tradicional bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, o ator não precisou de um intenso processo de composição para chegar ao gestual de um malandro. E muito menos conviver com moradores do Complexo do Alemão – um dos principais núcleos de Salve Jorge – para garantir o frescor das gírias que coloca no texto de Pescoço, o malandro mulherengo da atual trama das nove.
"Todo homem já teve seus dias de Pescoço. Além disso, sou do povo, um cara sem afetações. Convivo com todo tipo de gente e gosto disso. Na hora de gravar, basta pegar um pouco dessa vivência e juntar com o texto da Gloria", detalha, referindo-se à autora Gloria Perez.
Cria de um teatro de teor mais experimental, foi através do humor que Nando chegou à tevê. Sua primeira experiência foi na Escolinha do Barulho, humorístico exibido pela Record no final dos anos 1990, onde interpretava o malandro Jony Bala. Na época, ele complementava a renda atuando em comerciais para a tevê.
"Ganhava bem fazendo publicidade. Hoje em dia, que fiquei um pouco mais conhecido, não me chamam mais, pois precisam de rostos mais neutros", analisa, aos risos.
Em sua terceira novela global a estreia foi em Desejo Proibido, de 2007 –, Nando se entusiama com a repercussão de Pescoço, mas assume que é a diversidade de trabalhos que o instiga.
"Sou muito estudioso e dedicado. Não importa a dificuldade, quero estar pronto para o papel que vier", assume.
O Fuxico: Salve Jorge é sua primeira novela no horário das nove e as malandragens do Pescoço dominam boa parte das cenas do núcleo do Morro do Alemão. O crescimento do personagem estava previsto desde a sinopse?
Nando Cunha: Meu personagem é um típico malandro brasileiro. Como uma novela recheada de temas pesados, é normal que um ponto de comédia tenha certo destaque. Cheguei ao elenco de Salve Jorge sem saber muito sobre o personagem. Sabia apenas que ele seria um ex-presidiário. As cenas foram acontecendo e acho que a Gloria sacou que o triângulo envolvendo Pescoço, Delzuite (Solange Badim) e Maria Vanúbia (Roberta Rodrigues) funcionava no ar. Novela é sempre uma surpresa. É preciso estar preparado para dar conta e entregar um bom trabalho.
OF: E como você se preparou para Salve Jorge?
NC: Tive uma composição específica para a novela, uma breve imersão nos costumes e cotidiano dos moradores do Morro do Alemão e palestras sobre tráfico humano com todo o elenco da trama. Mas, quando falo em preparação, não me refiro apenas a este trabalho, mas sim a uma formação sólida como ator. Tem muita gente que está na tevê porque é bonita. Aí, quando sente a pressão da história, não consegue se desenvolver, ir além do óbvio.
OF: O Pescoço iria se envolver com tráfico de órgãos ao longo da novela, mas a trama acabou não acontecendo. De alguma forma, você ficou chateado com o corte dessa história?
NC: De maneira alguma. A novela é da Gloria, ela é que sabe o que fazer com os personagens. Assim como o Soldado Brasil, de Desejo Proibido (2007), o Pescoço caiu no gosto do público. Sinto isso nas ruas e nos bastidores da novela. E acho que a Gloria não quis quebrar esse apelo popular do personagem o colocando em uma trama mais densa. Muitos atores estão reclamando do pouco espaço que têm na novela, enquanto eu só tenho a agradecer. Eu não conhecia a Gloria antes da novela e hoje a gente se diverte com os cacos que coloco nas cenas do Pescoço.
OF: A maioria dos autores não aprova a alteração do texto por parte dos intérpretes. Como você conseguiu a liberdade de inserir gírias nas suas cenas de Salve Jorge"?
NC: As sequências funcionaram muito bem com o texto que ela manda. Como tenho vivência suburbana, coloco algumas palavras que sei que ficam engraçadas ou acrescentam ao que a cena pede. Fiz uma vez e mandei um e-mail para ela pedindo autorização e dando algumas sugestões. Extremamente humilde, Gloria me agradeceu e passou a usar alguns cacos que eu coloquei no texto. Tempos depois, ela me mandou um mensagem dizendo que estava adorando o "nosso" Pescoço (risos).
OF: Salve Jorge é seu 10º trabalho na tevê e, mesmo assim, você continua estudando Artes Cênicas na UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Qual a importância de ter uma formação de ator para você?
NC: A televisão brasileira não tem muita memória e a vida de ator é marcada pela inconstância. Enxergo a faculdade como meu plano de aposentadoria. Por conta do número de cenas, tive de trancar esse período, mas volto assim que a novela terminar. Sempre gostei de dar aula de interpretação e sentia a necessidade de ter um embasamento teórico mais consistente. Acredito que, através da atuação, não se formam apenas atores, mas, sobretudo, cidadãos. Não me interessa muito dar aula para "patricinhas" e "mauricinhos" virarem atores de novela.
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