Neusa Borges: “Mulheres entram na TV pretas e daqui a pouco se transformam em loiras, ruivas…”

Neusa Borges está toda sorrisos. Escalada para fazer parte do elenco de Salve Jorge, novela das 21h que estreia no próximo dia 22 de outubro, com a personagem Diva, ela comemora, a todo instante, por mais um trabalho ao lado da grande amiga, Glória Perez.

Em conversa com O Fuxico, Neusa fala sobre trabalho, o AVC que sofreu, racismo e como é feliz com a profissão que escolheu, sabendo que precisa trabalhar para manter a família bem.

OFuxico: Como está a vida com este trabalho em Salve Jorge?

Neusa Borges: Uma correria gostosa! Estava na Bahia e acabei de chegar, estou desfazendo as malas, amanhã tenho gravação. Começo a vida que eu adoro!

OF – Como é a sua personagem, a Dona Diva?

NB – Estou gravando feliz da minha vida, o personagem é maravilhoso. Nem sei se posso falar falar muito, só sei que trará um pouco de polêmica.

OF – Pode contar mais um pouquinho dela?

NB -Ah, ela é dona Diva e vai fazer sucesso (risos).

OF – Você praticamente emendou três personagens na Globo: Araguaia, A Vida da Gente e agora Salve Jorge. Isso é gratificante?

NB – Estar trabalhando e fazendo um personagem de grande sucesso só pode ser gratificante. Principalmente porque estou colocando comida na minha casa. Tive, o AVC quando estava em A Vida da Gente e voltei ao trabalho feliz, feliz.

OF – Você ficou com seqüelas por conta do AVC?

NB – Não, minha filha, graças a Deus nada. Sem seqüelas, me cuido muito e meu trabalho é prazeroso. Sabe, pra mim AVC é ficar desempregada, isso é doença pra mim. Sou arrimo de família, trabalho de dia para por comida em casa de noite. Tenho pânico de ficar desempregada. Minha maior cura é ver a carteira registrada.

OF – Mas você é contratada, não é?

NB – Não, minha filha, eu não sou contratada não. Recebo quando estou trabalhando, no ar. O que ganho não é para guardar na poupança ou investir, é para sustento da minha família, pagar contas, aluguel.

OF – Aluguel?

NB – Sim, aluguel. Não sou prata da casa. Só a Glória (Perez) me dá trabalho, o Jayminho (Monjardim), Walter Negrão me deu a oportunidade que tanto queria de trabalhar com ele. Trabalho para manter a casa e Glorinha conhece minha vida. Nossa amizade é tão bonita que quando eu estou trabalhando, Glorinha fica feliz em saber. Então, eu uso aquilo que ganho para manter a família alimentada e vestida.

OF – Mas seus trabalhos sempre conquistam as pessoas, não é?

NB – Sim, e tem sempre um lado de comédia que acaba cativando mais. É assim, a comédia não é meu forte, mas acaba acontecendo com a personagem. E sempre foi assim na minha vida.

OF – Como assim?

NB – Vou te dar um exemplo disso. Quando eu era cantora, adorava cantar samba e achava que minha carreira tinha que  ser como cantora de samba. Já as pessoas achavam que eu tinha de cantar Folhetim (grande sucesso de Chico Buarque). Por isso não dei certo cantando (risos). Além de tudo, minha filha, sou negra né?

OF – E você acha que ainda hoje isso é levado em consideração?

NB – E como, só não vê quem não quer. Afinal de contas, quantas mulheres entram na TV pretas e daqui a pouco se transformam em loiras, ruivas…

OF – Tem alguém no elenco que você ainda não tinha trabalhado ou que reencontrou agora?

NB – Ai, estou tão feliz, porque há um tempo fiz uma peça ao lado de uma moça chamada Solange Baldim. Quando cheguei para o primeiro dia de gravação de Salve Jorge, a encontrei, ela é do meu núcleo. Tem também o Walter Breda, trabalhei com ele em América e depois nunca mais. Agora ele vem como meu marido na história. Sei do carinho que tenho por ele e ele por mim. Amei!

OF – E qual foi a reação da Solange?

NB – Primeiro ela me perguntou se eu lembrava dela. Sabe, artista é meio assim, enquanto está trabalhando junto é oi daqui, oi dali. Depois, nem sequer se telefona (risos). Mas eu lembrava de ter trabalhado com ela e ficamos felizes em nos reencontrarmos. E também poder ver o Muçunzinho como está moço e lindo e a Bruna Marquezine, que começou pequenininha e hoje é um mulherão. É bom demais, o tempo passa muito rápido. Meus 70 anos estão sendo bem vividos, com muita alegria. Acho que dentro da minha energia Deus foi generoso comigo. Meu neto, Miguel Antonio, vai fazer 5 anos já. Ele tem o nome do avô. Como pode, já grandão assim?

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