O que o filme ‘Air’ não mostra sobre acordo entre Nike e Michael Jordan?
Por Flavia Cirino - 16/12/24 às 12:10
A “Tela Quente” desta segunda-feira, 16 de dezembro, exibe o filme “Air: A História Por Trás do Logo” (2023), dirigido por Ben Affleck. O longa mergulha nos bastidores da criação da linha de tênis Air Jordan, uma das mais emblemáticas da história.
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Com Matt Damon no papel de Sonny Vaccaro, ex-executivo da Nike, o filme retrata os desafios enfrentados pela marca para convencer um jovem Michael Jordan a assinar o contrato que revolucionaria o mercado esportivo.
A narrativa coloca Vaccaro como peça central do acordo, mas essa versão dos fatos segue amplamente contestada. A Nike e até o próprio Jordan minimizaram a influência de Vaccaro no processo, embora estudiosos do tema defendam seu papel. No filme, Knight ganha vida através de Affleck, que traz à tona as disputas de bastidores de forma instigante.
A visão de Michael Jordan e a relevância de George Raveling
Michael Jordan apresenta outra perspectiva sobre como foi convencido a se unir à Nike. De acordo com ele, foi George Raveling, ex-jogador e assistente técnico da equipe olímpica de 1984, quem desempenhou o papel mais importante. “George sempre dizia: ‘Você tem que ir para a Nike’”, contou Jordan. No filme, Marlon Wayans interpreta Raveling, destacando sua influência no processo.
Apesar das controvérsias, é inegável que Vaccaro enfrentou desafios significativos. Na época, a Converse dominava a NBA e a Adidas era a favorita do jovem Jordan. A Nike, então em baixa, precisava de um nome de peso para alavancar sua linha de basquete. Vaccaro propôs uma estratégia ousada: investir os 2 milhões de dólares do orçamento anual da divisão em apenas um atleta.
Essa decisão mudou o destino da Nike e de Jordan, mas o filme toma algumas liberdades criativas. Uma das principais licenças poéticas é a sugestão de que Vaccaro visitou a casa dos Jordans para convencer a família, algo que nunca aconteceu.
O papel essencial de Deloris Jordan
Se há algo que o filme acerta é destacar a importância de Deloris Jordan, mãe de Michael, na negociação. Interpretada pela premiada Viola Davis, Deloris foi fundamental para que o jovem astro obtivesse uma das condições mais inovadoras da história do esporte: uma porcentagem sobre as vendas de todos os produtos Air Jordan. Hoje, essa cláusula garante a Michael Jordan cerca de 400 milhões de dólares anuais.
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Curiosamente, Affleck revelou que o papel de Deloris quase foi reduzido no roteiro inicial. Foi o próprio Michael Jordan quem insistiu para que a personagem tivesse maior relevância e que Viola Davis fosse escalada. “Conversar com ele sobre sua mãe foi incrivelmente comovente e me fez perceber: ‘Este filme não é sobre a Nike'”, disse Affleck ao Hollywood Reporter.
O outro lado da história: Vaccaro e a Nike
Apesar de Air focar em Vaccaro como o herói do acordo, sua relação com a Nike não teve um final feliz. Em 1991, ele foi demitido da empresa sem explicações claras. Posteriormente, Vaccaro se juntou à Adidas e desempenhou um papel crucial na assinatura de contratos com outras estrelas, como Kobe Bryant.
O jornalista Roland Lazenby, especializado em NBA, vê o filme como uma forma de homenagem a Vaccaro. “Para Sonny, é doloroso ver o esforço da Nike para apagar seu papel nessa história. Este filme é a chance de contar seu lado”, afirmou ao The Guardian.
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino