Otávio Martins: ‘Roger de Poliana é o Coiote do Papa-Léguas’

Por - 11/06/20 às 12:00

Heloisa Bortz/Divulgação

Mesmo durante esta quarentena, o ator Otávio Martins surge em capítulos inéditos como o vilão Roger para os telespectadores da novela As Aventuras de Poliana no SBT, já que a trama do canal de Silvio Santos foi toda gravada antes da pandemia.

O sucesso de seu personagem reflete nas redes sociais: o ator já ultrapassou a marca de 1,2 milhão de seguidores no Instagram.

O isolamento social interrompeu as gravações da continuação da novela, Poliana Moça. No momento, os atores e equipe técnica aguardam passar o período de restrições pela pandemia para poderem retomar os trabalhos.

Nesta entrevista exclusiva ao jornalista Miguel Arcanjo Prado para OFuxico, Otávio comenta o sucesso de seu vilão, Roger, e o compara aos malvados dos desenhos animados, lembrando o Coiote que persegue o Papa-Léguas no deserto norte-americano.

O ator, que já passou por emissoras como Globo, HBO Brasil e Canal Brasil, ainda fala sobre os dois espetáculos teatrais que precisou interromper por conta do distanciamento social.

Tanto a comédia Caros Ouvintes, que ele dirige e faz sucesso há cinco anos nos palcos de São Paulo, quanto o drama Diplomacia, que estava prestes a estrear quando eclodiu a pandemia no Brasil, estão paralisados e sem previsão alguma de retorno assim como todas as produções de teatro no país.

O paulista de Campinas que completou 50 anos no último dia 25 de abril ainda revela como encara a quarentena e a saudade que sente da mãe, lamenta a situação crítica que vive a classe artística atualmente e adianta detalhes de Roger em Poliana Moça.

Leia o bate-papo.

OFuxico – Como você tem encarado esta quarentena? O que tem sido mais difícil e o que já conseguiu superar?
Otávio Martins –
Acho que todo mundo ainda está se acostumando a esse período de quarentena. Ficar trancado em casa, saindo somente o necessário, evitando amigos e família, é algo necessário, mas muito triste. Não vejo minha mãe há mais de dois meses, desde que isso tudo começou, por exemplo. E quando eu saio, é uma tortura, porque antigos hábitos cotidianos tornaram-se perigosos. Então, acaba sendo uma mistura de limpeza com paranoia, inevitavelmente.  Aliado a isso, estamos assistindo uma vergonhosa crise política, que na cabeça dos governantes vem sendo levada como prioridade. É natural que as pessoas se sintam desamparadas e descontentes. Mas a gente tem que olhar pra frente, e saber que, apesar de tudo, isso tudo vai passar. Vai passar.

OF – O vilão Roger conquistou o público em As Aventuras de Poliana no SBT. Como é fazer esse personagem por tanto tempo? O que ele lhe deu?
Otávio Martins –
O Roger é um vilão clássico, um homem movido por ambição, que não pensa duas vezes em pisar no pescoço de quem atrapalhar seus planos. O diferencial dele é o humor. Eu costumo dizer que o Roger é como o Coiote do Papa-Leguas: ele sempre arma, mas a bigorna sempre vai cair na cabeça dele. Eu acredito que isso seja um mérito de equipe, porque tanto os roteiristas como a direção trabalham pra isso. Quando no começo eu apresentei a ideia de fazer uma voz que remetesse aos vilões de desenho animado, todos compraram a ideia. Fazer um personagem tão rico numa obra aberta é desafiador, porque as coisas vão mudando e naturalmente os personagens mudam junto; dá pra expor todas as idiossincrasias, revelar nuances e acentuar traços que eram mais leves no começo. Roger é um personagem que se tornou icônico graças ao tom que fomos construindo ao longo desses dois anos.

OF – Qual o principal diferencial na sua visão em atuar em uma novela voltada ao público infantil?
Otávio Martins –
O trabalho é o mesmo que numa novela “adulta”, o que muda é o filtro que se coloca pra falar com todas as idades. É aí que entra o humor mal-humorado do Roger.

OF – O que você pode adiantar sobre o Roger em Poliana Moça?
Otávio Martins –
A novela se passa alguns anos depois da primeira fase. O que posso adiantar é que Roger vem com um visual diferente, mas com a mesma arrogância. E volta querendo vingança.

OF – Você acha que foi um acerto da dramaturgia do SBT gravar a novela tão adiantada?
Otávio Martins –
Essa é uma característica das novelas do SBT, a de gravar toda uma novela. É importante principalmente quando se trata de trabalhar com crianças e adolescentes, que além de trabalhar também estudam. Pessoalmente acho um acerto, a obra fica mais “fechada”, menos sujeita às intempéries da audiência.

OF – Você no momento está contratado pelo SBT?
Otávio Martins –
Sim, estamos todos contratados, esperando reiniciarem as gravações. Já havíamos começado a gravar, mas o trabalho foi interrompido no começo do isolamento social.

OF – Você estava dirigindo a peça Caros Ouvintes e iria estrear a peça Diplomacia quando eclodiu a pandemia. Como vê os efeitos dessa crise no teatro?
Otávio Martins –
Estávamos na terceira semana de temporada do Caros Ouvintes quando tudo foi interrompido. A estreia de Diplomacia também foi adiada indefinidamente, pois ninguém sabe ao certo de que forma poderemos retomar as atividades teatrais. O fato é que fomos os primeiros a serem privados das nossas atividades de trabalho, e seremos os últimos a voltar. A impossibilidade de ficarmos próximos das outras pessoas não atinge só o teatro, mas o cinema, shows e demais eventos culturais coletivos. Os impactos ainda serão sentidos durante algum tempo, diversas linhas de atividades culturais estão seriamente comprometidas. “Quando” e “como” voltaremos são as perguntas que não querem calar, mas o “pra que” voltaremos é cada vez mais forte: porque somos humanos, e porque não há nada que nos revele mais o sentido da humanidade do que o palco, esse grande espelho da sociedade desde o século XV.

OF – Você concorda que os profissionais da cultura estão entre os mais prejudicados nesta crise? O que poderia ser feito para ajudá-los?
Otávio Martins –
Sem dúvida nenhuma. As pessoas acham que a indústria cultural é personificada nas figuras dos artistas que tem reconhecimento e fama por parte de público, mas não sabem que esses artistas representam uma minoria dentro a indústria cultural. Além de uma multidão de grandes artistas que não são conhecidos do público, existem dezenas milhares de trabalhadores diretos e indiretos, produzindo nada menos que 5% do PIB. A primeira coisa é sancionarem a Lei Emergencial Aldir Blanc, pra destinar o dinheiro do Fundo Nacional de Cultura pra essa classe de trabalho. A segunda é termos uma política cultural atuante e eficaz, uma coisa óbvia mas que infelizmente está longe de ser alcançada com este governo.

OF – O que você acha que os brasileiros precisam neste momento? O que deseja ao país?
Otávio Martins –
Acho que falta ao brasileiro a noção de que vivemos numa sociedade, e que o respeito às diferenças e à diversidade  são essenciais para a construção do nosso futuro enquanto nação. Falta inclusão, no sentido mais amplo e irrestrito da palavra. Enquanto houver miséria, misoginia, homofobia, racismo e passividade diante do autoritarismo, continuaremos a ser apenas uma grande extensão territorial. Um país é mais que seu território, é principalmente sua gente.

OF – Qual personagem você ainda tem muita vontade de fazer na TV?
Otávio Martins –
Nunca pensei em um tipo específico de personagem, seja no teatro ou na TV. Em geral, são papéis que aparecem e vão nos encantando. Mas gostaria de fazer mais comédia.

 

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