Pantanal! Como será a trama atualizada para 2021?

Por - 12/09/20 às 07:00

Divulgação/TV Manchete

Nostalgia? Dejavú? Saudosismo? Seja como for, até quem não faz ideia do que foi o efeito do fenômeno Pantanal na teledramaturgia nacional, está curioso para saber detalhes e o que será dessa trama, cuja confirmação do remake agitou os últimos dias. 

Originalmente exibida em 1990 na extinta TV Manchete, Pantanal foi um marco na televisão e na carreira de Benedito Ruy Barbosa. A novela que desbancou a audiência da até então insuperável Globo – que agora detém os direitos e vai exibir a nova versão – lançou novos rostos, apostou em coisas simples, mas nunca antes exploradas, ousou e arrebatou o gosto popular. 

Contudo, ao pensar no remake, especialistas e amantes das telenovelas questionam: o ritmo lento da trama ainda cabe nos dias atuais? Foram 223 capítulos exaltando a natureza, o folclore, a trilha sonora, a sensualidade. Situações que passam longe do ritmo mais que acelerado da nova era em que séries ditam a audiência. 

Cristiana Oliveira em cena de Pantanal

A reportagem de OFuxico conversou com três especialistas em novelas e eles foram unânimes: Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, que será responsável por atualizar a trama do avô, precisará agilizar as histórias. 

“Não dá para contar a mesma história em pleno século 21, em 2020, naquele ritmo. Pantanal, assim como todas as novelas da época, eram novelas muito lentas. Claro que eram lindíssimas e prendiam a atenção daquele público. Para aquele público, naquele momento, estávamos acostumados àquelas narrativas ficcionais”, destacou Valmir Moratelli, doutor em Comunicação, autor do livro O Que as Telenovelas Exibem Enquanto o Mundo se Transforma. 

Ele enfatizou que as plataformas digitais mudaram toda a concepção. 

“Hoje em dia, por causa do streaming, das séries, dessa nova narrativa mais ágil e picotada, narrativas complexas, não poderíamos ter uma novela exatamente naquela lentidão. Pantanal deve ser muito mexida na edição.” 

Para Thomaz Rocha, pesquisador de teledramaturgia, endossou. 

“Pelos dias atuais, a novela que foi escrita há 30 anos, em que as narrativas mais lentas faziam sucesso, precisa ser revista. Era recheada de imagens contemplativas, coisas que não se aplicam hoje ao folhetim. O remake de Pantanal não pode ter uma narrativa lenta”, disse. 

Editor da revista Minha Novela, Jorge Luiz Brasil citou uma passagem rotineira da trama, para exemplificar. 

“Dependendo de quem for dirigir – amo Jayme Monjardim, adoro Luiz Fernando Carvalho – não sei quem será, acredito que seja o Papinha, por favor, devagar no lirismo exacerbado. Eu não aguento o galho de árvore! Uma vez contei, num único capítulo, o tuiuiú posando 17 vezes num galho de árvore”, recordou.

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Cristiana Oliveira protagonizou Pantanal

Quem será quem?

A escolha do elenco tem sido uma novela paralela. Digamos que um spin-off, trazendo para os dias atuais… Thomaz alertou. 

“Não pode ter um elenco inflamado.”

Ele endossou o coro daqueles que preferem uma atriz nova na TV para viver a protagonista Juma Marruá, a mulher que vira onça. Jorge Luiz Brazil também. Mas aponta algumas sugestões. 

“Juma tem que ser um lançamento, como foi feito no tempo da Marjorie Estiano, Vitória Strada em Tempo de Amar, Patricia França em Teresa Batista, Camila Queiroz em Verdades Secretas. Queria um rosto novo, alguém que surgisse como um furacão e arrebatasse o país. Se não, chamaria a Lucy Alves, uma menina que tem um potencial muito bom, mais até como atriz do que como cantora, tem o tempero do Pantanal, cairia muito bem na personagem.” 

Valmir chamou à atenção para a delicadeza que é necessária, já que remakes mexem com o imaginário popular. 

“Foi a mesma coisa quando fizeram Gabriela: como colocar uma pessoa no lugar de Sonia Braga? E Juliana Paes se saiu muito bem. Essas substituições são sempre muito tensas, muito complicadas porque você está mexendo com o imaginário popular essas novelas clássicas e icônicas que ficaram registradas na memória dos brasileiros como muito fortes e icônicas, voltam ao ar, você precisa ter pelo menos igual ou superar o impacto daquela vez.”

Ele ressalta que os dias atuais pedem uma atriz que fale mais aos olhos dos questionamentos sociais, como inclusão e representatividade.

“Adoraria que ela fosse interpretada por uma atriz negra. Seria muito importante para o momento em que a gente vive, seria um marco na televisão. Logo me vem o nome da Jéssica Ellen e da Dandara Mariana, atrizes que se destacaram nos últimos três anos com papéis secundários. Seria incrível. Elas têm olhos muito marcante para fazer aquela transição da Juma virando onça, através do olhar, brilhantemente feito pela Cristiana Oliveira. Seria ousado, necessário e oportuno.”

Dandara Mariana poderia protagonizar Pantanal

Joventino – par romântico de Juma

Par romântico de Juma, Joventino, vivido por Marcos Winter, também é alvo de palpites. 

“Sonho com o Marco Pigossi, apesar de achar difícil ele topar fazer uma novela tão cedo. Não sendo um rosto novo, e tendo o Pigossi, penso na Isis Valverde para Juma. Tem muita química com ele. Provou isso em Boogie Oogie e em A Força do Querer. Formaria um casal bonito”, apostou Jorge Brasil.

Marco Pigossi levaria sua beleza e talento para ser par de Juma

 

“Felipe Simas seria o Joventino”, preferiu Thomaz Rocha. 

Valmir Moratelli citou outros atores jovens. 

“Adoraria que a Globo desse um pouco de folga pro Chay Sued e para o Rodrigo Simas, que já estão com a imagem um pouco gasta, emendando papéis de galãnzinho. Citaria o Igor Cosso, que tem se destacado, Gabriel Leone, pelo que ele fez em Velho Chico.”

Igor Cosso tem chamado a atenção por seu dom na atuação

Velho do Rio

Antônio Fagundes poderá viver o Velho do Rio

Para viver o Velho do Rio, que o saudoso Cláudio Marzo fez com maestria, Jorge concordou com a sugestão de Benedito Ruy Barbosa: Antônio Fagundes. 

Valmir tem outro nome em mente. 

“Logo de cara me vem o José de Abreu, pelo fato dele ter feito brilhantemente aquele papel em Avenida Brasil. Ele faz muito bem esses velhos rabugentos, loucos, que transitam entre a fantasia e a realidade, como são os personagens do Benedito nessa novela mística. Quem também faria perfeitamente esse papel seria Tonico Pereira. Ele tem uma expressão no olhar, na voz, seria muito curioso”, disse. 

Belezas naturais

Para os especialistas, a paisagem natural será o grande ganho de Pantanal neste remake. Exatamente como foi em 1990. Jorge Brasil teme que as recentes constantes queimadas prejudiquem de alguma forma. 

“Bruno tem que aproveitar as belezas naturais, se sobrar alguma coisa depois desses incêndios. Acho legal também toda a parte sócio-político-econômica e ecológica, algo que ele fez muito bem em Velho Chico. Só não pode ser muito didático. Foi aí que Velho Chico se perdeu. Tinha uma proposta ótima de educação, latifúndios, questão da terra, temas importantíssimos que devem ser abordados, mas não pode ser exagerado. Na segunda fase de Pantanal, a trama se arrastou”, lembrou o editor da Minha Novela. 

“Manter o ambiente rural é um dos principais pontos clima de mistério e elementos de fantasia, as lendas do rio, elementos que incentivam a imaginação do público”, disse Thomaz. 

“Uma coisa que não pode faltar nessa novela é a fotografia maravilhosas do pantanal Matogrossense com aquelas imagens aéreas, indígenas”, acrescentou Valmir. 

Jorge lembrou que o misticismo foi outro grande diferencial, que precisa ser mantido na versão de Bruno Luperi. 

“O folclore e o misticismo devem ser valorizados, mais do que qualquer coisa. Até porque as novelas têm sido seguidamente muito realistas, muita gente como a gente, o que é muito bacana, mas é legal explorar essa parte folclórica. A mulher que vira onça, o velho que faz magia no rio, a outra que vira cobra.”

Raízes musicais

Capas das trilhas sonoras originais da novela Pantanal

A trilha sonora é outro item que os especialistas consideram primordial. Na época, foram lançados dois volumes do LP com trilha estritamente sertaneja. Houve outros dois discos: O Melhor do Pantanal e Pantanal Suíte Sinfônica. Sucesso arrebatador que dava um gás a mais à história, com músicas imortalizadas por Sérgio Reis, Almir Sater, Marcus Viana, entre outros. 

“Deveria manter a trilha sonora bem arranjada”, afirmou Thomaz Rocha. 

 “A trilha sonora sertaneja, rural, que não tem nada a ver com essas que a gente ouve nessas tramas urbanas. Algumas pessoas falam que a trilha de Pantanal é tão forte quanto a escalação desse elenco. E a sensualidade não pode faltar”, lembrou Valmir. 

Agora nos resta aguardar!

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