Paolla Oliveira: “Nem sempre quem é bonzinho chama mais a atenção”
Por Redação - 16/08/13 às 07:34
Encarnar a heroína de um folhetim não chega a ser uma novidade para Paolla Oliveira. Mas a paulistana, de 31 anos, que vive a pediatra Paloma em Amor à Vida, confessa que, agora, experimenta a posição de um jeito novo. Primeiro, porque não é mais aquela jovem em início de carreira que, ao se destacar em Belíssima, foi alçada ao posto principal feminino de O Profeta em 2006. E também porque, ao contrário de quando substituiu às pressas Ana Paula Arósio como a romântica Marina de Insensato Coração, em 2011, teve bastante tempo na preparação para o trabalho.
"Uns três meses antes de começarem as leituras eu já estudava essa personagem. É mais tranquilo quando o autor pensa em você para aquele papel. Ou, pelo menos, não tem ninguém específico em mente", avalia.
Mesmo assim, Paolla assume que está cada vez mais complicado defender papéis de boazinhas. Para ela, a televisão vive hoje um momento de inversão de valores, onde os malvados das tramas criam uma identificação maior com os telespectadores do que personagens que transitem em uma linha muito reta. E até arrisca uma teoria para justificar isso.
"Talvez por serem tão distantes da realidade do público e mostrados com certo exagero, os vilões agradem mais. Acho que quem assiste se sente mais solto e até vingado da rotina do dia-a-dia a partir deles", sugere.
Carinha de anjo
A vida tem sido generosa com Paolla Oliveira. Depois de uma estreia apagada como atriz na malsucedida Metamorphoses, na Record, em 2004, quando tinha ainda 21 anos, a atriz emenda sucessos na Globo desde que conquistou a vaga para interpretar a jovem modelo Giovana de Belíssima. De lá, logo foi convocada para uma seleção especial na novela O Profeta: fez testes tanto para viver a sofrida Sônia, quanto para a malvada Ruth. Acabou ficando com a primeira, deixando o posto de vilã para Carol Castro.
"Acho que tenho cara de boazinha, não sei explicar o que acontece. Normalmente, pensam em mim para interpretar mulheres íntegras", avalia.
Foi ali que começou a sintonia que a atriz desenvolveu com a dupla – então estreante – de autoras Duca Rachid e Thelma Guedes. Tanto que ambas não hesitaram quando, ao escrever as primeiras linhas de Cama de Gato, reservaram um dos principais personagens para Paolla, a ardilosa Verônica, única aparição da atriz nos folhetins como uma vilã. Antes disso, porém, Paolla integrou o elenco de outro remake, Ciranda de Pedra, na pele da charmosa tenista Letícia.
"Era uma homossexual, mas às 18 horas não dá para desenvolver uma trama assim. Se soubessem o sucesso que o Felix faria hoje, talvez tivessem apostado", brinca a atriz, que também protagonizou um dos episódios da série As Cariocas e a minissérie Afinal, O Que Querem as Mulheres?, ao lado de Michel Melamed.
Jeito para a coisa
Em Amor à Vida, Paloma é uma médica que se especializou em pediatria. E, assim como o resto do elenco que grava parte de suas cenas no fictício hospital San Magno, Paolla também participou de um laboratório. Porém, recorreu a uma série de experiências pessoais na hora de estabelecer um contato maior com a profissão de sua personagem. É que antes de se tornar uma atriz conhecida, Paolla se formou em Fisioterapia. Chegou a estagiar na área durante um ano, trabalhando, inclusive, em hospitais.
"Já passei sondas em adultos e bebês e usava jaleco. Tenho habilidade com aferição de pressão e uso de estetoscópio. Interpretar a Paloma me fez relembrar tudo isso", conta ela, que namora o ator Joaquim Lopes, o atrapalhado Lucindo de Sangue Bom.
O Fuxico: – Paloma é sua terceira mocinha na tevê e em uma época em que muitas atrizes reclamam das dificuldades para interpretar uma heroína. Como você lida com essa posição?
Paolla Oliveira: Realmente, não é fácil. A relação das mocinhas com a teledramaturgia mudou muito nos últimos anos, assim como a relação das novelas e dos próprios personagens com o público. Eu venho da época da Regina Duarte, quando, fizessem o que fosse com o personagem, era a mocinha quem a gente queria ser. Era nela em quem a gente se espelhava. As mocinhas estavam sempre acima do bem e do mal. Hoje não funciona dessa forma. Entendo que houve certa inversão de valores. Nem sempre quem é bonzinho chama mais a atenção dos telespectadores. Não posso reclamar das personagens que tive porque, de uma maneira geral, não sofri com isso. Mas percebo que não funciona mais como era antigamente e, muitas vezes, as pessoas reclamam da postura, do comportamento das mocinhas.
OF: Que tipo de queixas você ouve sobre suas mocinhas?
PO: As pessoas esperam que as coisas aconteçam rapidamente. Ouvi esses dias umas pessoas dizerem "ah, a Paloma é boba demais". Nossa, me desculpem, mas se eu vivesse tudo que foi escrito para ela, estaria agora na minha cama, desarrumada, chorando e tomando antidepressivo. Acho que, no fundo, as pessoas contestam as mocinhas muitas vezes sem prestar a devida atenção à história. Hoje, o público parece se identificar mais com o que é irreal, o que está fora da realidade delas ou que, pelo menos, é mostrado com exageros. Talvez porque mexa mais com a imaginação deles, não sei explicar. Por exemplo, tudo é justificado em um personagem cômico ou vilão. Parece que esses podem tudo. Penso que quem assiste se sente mais livre, solto ou até vingado do dia-a-dia quando se trata de um personagem que se excede.
OF: Você sentiu isso quando interpretou uma vilã, em Cama de Gato?
PO: Sim, senti. As pessoas se amarravam na Verônica e no que ela fazia. É como se desenvolvessem uma atração estranha pelo vilão que, na minha opinião, é essa inversão de valores que mencionei. Já fiz mocinha de época, em O Profeta, e contemporânea, em Insensato Coração. Mas a Paloma tem uma característica especial: tudo ali é muito forte. E eu preciso sofrer sempre de um jeito coerente. Não dá para ser menos porque perdeu a filha no julgamento justamente depois que descobriu que a mãe biológica dela é uma mulher que ela não conhece e que disse que não há lugar para uma filha em sua vida. É muito sofrimento e sempre de maneira intensa. Para quem assiste em casa, parece que é só mais uma mocinha na minha vida. Mas não é. Sempre tem um lado novo para trabalhar. É uma luta conquistar a torcida do público hoje. E minha maior busca é manter essa carreira ascendente que tenho desde que estreei na Globo, em Belíssima.
OF: Depois que você estreou na Globo, só fez papéis de destaque e, algumas vezes, foi disputada por produções diferentes. Como lida com essa ascensão na televisão?
PO: Eu sei que foram muitas conquistas em pouco tempo. Tenho o hábito de refletir sobre tudo que já aconteceu na minha vida e sempre agradeço o que veio. Mas eu também corro muito atrás. Quando estou trabalhando, vivo em função disso. Às vezes, acordo seis da manhã e me dá um branco no texto. Levanto, leio tudo, estudo, enfim, sou mesmo muito conectada com meu trabalho. Gosto de fazer o que faço. Nunca imaginei que chegaria aqui. Minha mãe estudava com lamparina e só foi ver novela com uns 12, 13 anos de idade. Olha que loucura! E hoje, eu gravo com tecnologia de alta definição a novela das oito, num dos papéis principais. Eu entendo a grandiosidade disso até porque não foram só conquistas profissionais, tiveram também as pessoais que esses trabalhos me proporcionaram. Quando estou fora da tevê, faço cursos, me preocupo em evoluir e acho que isso me ajudou a crescer rápido e me trouxe segurança. Todo esse conjunto pode ter feito com que eu fosse uma escolha para, por exemplo, substituir alguém numa novela. Sou alerta, atenta e não me canso fácil. E tem coisas que não dependem da gente. Quando a oportunidade vem para a minha mão, eu pego e tento fazer ser maior ainda pelo simples fato de ser minha.
OF: Você falou em torcida do público. Quando as pessoas comentam com você da novela, o que normalmente falam?
PO: O ponto que mais entra em discussão é a maternidade. E isso desde o início, com a perda da filha. Em seguida, vem a relação com o Bruno, que é muito desejada pelas pessoas. Tanto que boa parte do público teve raiva quando a Paloma ficou indecisa entre Bruno e Ninho. A questão da Paloma ter pego a menina e sequestrado foi também bem falada. É engraçado porque existe sempre um pedido de que as mocinhas sejam mais fortes e tenham atitude. Aí, de repente, a mocinha sequestra a filha que foi tirada dela no passado e as pessoas condenam! Mas que mãe não faria isso? Sei lá, eu acho que eu quebraria tudo. Foi uma raiva passageira, mas teve bastante repercussão.
OF: A Paloma foi apresentada de forma mais aventureira e, mesmo se relacionando com um rapaz de caráter questionável, investiu nele. Na sua opinião, isso dificultou uma torcida imediata do público pela personagem?
PO: Mulher apaixonada, com raiva e muito jovem faz besteira, toma decisões erradas. Isso é humano. Eu concordo que essa apresentação de mocinha não foi comum, mas o que eu percebi é que o público entendeu que era uma inconsequência de uma jovem que descobriu o amor. O que não entenderam foi ela ficar balançada de novo pelo Ninho depois que já existia o Bruno na vida dela. Isso, sim, as pessoas rejeitaram. Já ouvi também sobre uma ingenuidade dela em relação ao irmão, mas os vilões sempre enganaram os heróis.
OF: Os vilões de hoje se tornam cada vez mais carismáticos, principalmente pelas tiradas de humor e de ironia que carregam. Acha que esse contraponto ajuda a encaretar ainda mais os heróis?
PO: Não tinha pensado nisso até você falar, mas acredito que sim. Mas, por outro lado, será que aceitariam uma mocinha divertida, que "salgou a santa ceia"? Personagens de núcleo cômico recebem essa aceitação, mas os mocinhos traçam a linha da verdade nas histórias. Eles devem passar a credibilidade. Talvez por isso, fiquem caretas, "encaixotados". Mas mesmo que a novela tenha um vilão tradicional, o mocinho, por estar naquela linha reta característica, acaba ficando quadradinho. Não tem muito jeito.
OF: Há algum tempo, você praticamente se reveza na posição de mocinha e vilã na tevê. Sente falta de, hoje em dia, fazer uma novela sem esse peso de papel principal?
PO: Toda vez que me perguntam o que eu quero fazer, eu penso em algo diferente. Uma Valdirene (papel de Tatá Werneck em Amor à Vida), por exemplo, ou uma maluca. Mas, por outro lado, acho que não posso negar as oportunidades. Estou há oito anos na Globo. É bastante para mim, mas pouco tempo se comparado a outras atrizes que trabalham na emissora. Não dá para recusar um papel como a Paloma, por exemplo. Quem me conhece ou teve oportunidade de fazer coisas comigo sabe que eu vou para qualquer lado. O que acho importante é saberem que eu estou disposta a fazer tudo.
OF: Ao contrário de outras colegas, você nunca fez teatro profissional. Você chega a sentir falta disso e em algum momento já se sentiu cobrada pelos companheiros de trabalho?
PO: Não deu tempo, nunca consegui. Existem grandes atrizes e atores que estabeleceram como palco de seu trabalho a televisão, assim como outros estabeleceram o teatro ou o cinema. Existe espaço para tudo. Mas é claro que agrega você ter experiências novas. Depois dessa novela, acho que vou me afastar um pouco e talvez seja o momento de investir mais no cinema e no teatro, que nos dão outras opções artísticas. Mas não me cobro perdendo o sono por causa disso. Não cheguei a sentir cobrança dos outros, mas sei que existe uma expectativa por parte de algumas pessoas para que eu faça mais trabalhos fora da tevê. E, de fato, não quero me criar ali e ficar sem procurar novas experiências. Tenho amigos do teatro que têm pavor de ficar na frente das câmaras e eu acho isso ruim. É bom sair do seu ambiente, da sua zona de conforto e se aventurar.
Trajetória Televisiva
# Passa ou Repassa (SBT, 1999) – Assistente de palco.
# Metamorphoses (Record, 2004) – Stella.
# Belíssima (Globo, 2005) – Giovana.
# O Profeta (Globo, 2006) – Sônia.
# Ciranda de Pedra (Globo, 2008) – Letícia.
# Cama de Gato (Globo, 2009) – Verônica.
# As Cariocas (Globo, 2010) – Clarissa (no episódio A Atormentada da Tijuca).
# Afinal, O Que Querem as Mulheres? (Globo, 2010) – Lívia.
# Insensato Coração (Globo, 2011) – Marina.
# Amor à Vida (Globo, 2013) – Paloma.
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