Patrícia França: ‘Todo mundo quer fazer o papel da mulher empoderada’
Por Redação - 18/02/21 às 07:00 - Última Atualização: 6 abril 2021
Patrícia França tem razões de sobra para comemorar, além de estar em duas reprises, na vespertina Malhação – Sonhos, da Rede Globo e Chocolate com Pimenta, no canal Viva, em breve ela poderá ser vista em um novo trabalho, desta vez, na Record em ‘Gênesis’ onde interpreta Bila, uma concubina.
E foi com exclusividade que ela falou com o OFuxico sobre variados assuntos, entre eles: religião, negacionismo, ciência, instagram, envelhecer, televisão, cinema e teatro.
Gênesis
“Eu sou cristã, independente de religião e não estamos falando disso, sou cristã. Vou fazer uma novela histórica, eu encaro dessa forma, porque a bíblia é um livro histórico. A Bila me lembra uma personagem que a Marília Pêra fez no O Primo Basílio (1988), com a Giulia Gam. O grande mote da personagem é que ela é ardilosa, ela trama. É uma época em que a mulher ainda era muito submissa, ela começa a aparecer mesmo, na era cristã, porque Jesus veio para as mulheres, para os negros, para os menos favorecidos. Eu vejo muito como uma época em que a grande função da mulher é ser mãe. O novo testamento tem personagens incríveis”, disse a atriz, que foi questionada sobre como ela encara essa mulher nos dias de hoje."
“Olha, sabe como eu penso? Essas pessoas precisam ser representadas, a gente fala muito sobre o empoderamento feminino, e todo mundo quer fazer o papel da mulher empoderada, da mulher que vai, faz e acontece, mas tem a mulher dessa época, que era mãe e não tinha uma posição na sociedade. Essas histórias precisam ser contadas. Eu preciso contar a história da dona de casa que fica em casa vendo novela e que não trabalha fora. A mulher chegou num ponto em que ela, inclusive, pode escolher ser dona de casa. Eu sou uma atriz, faço sem criticar o personagem. O que eu gosto na Bila é que ela tem personalidade, tem história, vilania, que para o ator é sempre muito interessante, e para o telespectador também, porque ele gosta dessa vilania”, disse.
Negacionismo
Um dos assuntos que tem sido discutido constantemente nos meios de comunicação é sobre os negacionistas, pessoas que tentam desacreditar a ciência. E sobre este tema, Patrícia tem a resposta na ponta da língua.
“Sabe o que acontece? A escola está vazia e a praia está cheia, na medida em que você não se coloca no lugar do próximo, se você não tem essa capacidade, você não é uma pessoa de fé. É insano. Porque as pessoas que têm fé em Deus, que acredita em Deus, esse Deus que nós falamos, do Deus cristão que prega o amor, a solidariedade, que se coloca no lugar do outro, não faz isso. Você deixar de cumprir os protocolos porque tem fé que não vai pegar a doença, é insanidade. Porque a doença está aí e ela sempre existiu e sempre vai existir.”
“Geralmente quem é negacionista não é do grupo de risco, não é idoso, não tem parentes com problemas de saúde, aí fica fácil ser negacionista. Acima de tudo é preciso se colocar no lugar do outro, sempre. O não aglomerar, não ir para lugares que tenha muita gente e usar máscara. Cumprir os protocolos é uma questão de cidadania, civilidade, porque a ciência está aí, ela é uma dádiva de Deus, que Ele deu pro homem. E que bom que nós temos a ciência e acesso a informação, que descobrimos que tem um vírus que se a gente passar álcool em gel e não levar a mão no rosto, conseguimos minimizar o risco de contaminação. É uma dádiva de Deus. Respeitar o próximo é ter fé”, concluiu ela.
Televisão, Cinema e Teatro
Em uma época privilegiada com acesso às novas tecnologias é possível rever novelas mais antigas que fizeram história na dramaturgia brasileira, como foi o caso da atriz, que teve a oportunidade de ver pela primeira vez ‘Pai Herói’ exibido em 1979. “Eu sou nostálgica, gosto de televisão e recentemente no Viva eu pude ver ‘Pai Herói’, a coisa mais linda. Eu fiquei passada porque a minha mãe falava muito em Pai Herói e eu nunca tinha visto”, disse empolgada.
Sobre sua passagem pela Rede Globo, Patrícia garantiu que só tem boas lembranças. “Eu sou uma atriz de sorte. Outro dia me disseram que eu sou uma atriz de tv. Eu sou uma atriz, ponto. Comecei a fazer teatro com nove anos de idade. Eu vim do teatro. Eu gosto de fazer bons papéis, sou muito grata a Deus pela trajetória que eu tive na Rede Globo. Eu só tenho a agradecer. Eu fiz na Record dois papéis inesquecíveis na minha vida, que foi Rosa no remake de ‘Escrava Isaura’ e a Diana de ‘Poder Paralelo’”, lembrou.
Sobre os palcos, ela diz sentir saudades, mas diante dos desafios para estar todos os dias encenando no tablado, há alguns pontos a serem considerados como primordiais: “Sabe aquela coisa: “Eu quero dizer isso?” Conta muito quem dirige; o texto; com que eu vou fazer o espetáculo; porque teatro você tem que viajar; é uma loucura; você tem que conviver ali com aquelas pessoas o tempo todo, mas quando está em casa, quer dizer, de quinta a domingo fazendo a mesma coisa, tem que gostar muito. No teatro eu escolho mais”, explicou.
Sobre o futuro no teatro, Patrícia explica que: “Eu tinha alguns projetos no teatro, mas parou tudo, não dá pra falar muito, mas é um projeto de um espanhol, uma história de três mulheres que resolvem ter um bebê, numa produção independente. É uma comédia, mas está tudo muito embrionário ainda, fica difícil nesta pandemia acessar patrocinadores, mas assim que tiver algo concreto eu adoraria falar com você”.
Envelhecer
“É mentira quem diz que não tem dificuldade de lidar com o envelhecimento, todo mundo em algum momento, uns mais outros menos, ao se dar conta de que estão envelhecendo tem uma dificuldade de lidar com isso. Porque nós somos seres conscientes. Eu me questiono. Hoje estou com 49 anos e posso dizer que estou muito bem resolvida, graças a Deus. É preciso entender que cada idade tem a sua beleza, e na verdade, o que conta é o que está dentro da gente, o que a gente produz e dá para o mundo, não é a aparência, isso é um invólucro.”
“Precisamos nos reinventar a toda hora. Hoje em dia a mulher de 50 é a de 40, antigamente a de 40 era a de 30. Isso mudou e não foi só a mulher ou o homem, mas o ser humano. Nós demoramos mais para envelhecer porque temos mais saúde, física e mental. Essa história do homem amadurecer e a mulher envelhecer está mudando. Uma mulher e um homem de 60 anos, tem a mesma qualidade de saúde, de vigor físico e aparência. É claro que a natureza é mais ingrata com a mulher, de certa maneira, mas é como estou dizendo, nós temos muitos recursos à nossa disposição”, disse ela.
Geração Z
“Eu brinco porque digo que tenho um chip dos anos 90 dentro de mim, sou índia, me comunico através de sinal de fumaça, as pessoas dão risada, mas estou me abrindo aos poucos, estou num ritmo diferente. Olha, eu já tenho instagram e posto fotos. Evolução (risos). Quando eu fiz Malhação, a Bibi que fazia a minha filha, disse que eu tinha que ter um instagram, eu não sabia senha, não sabia nada, mas agora estou usando, numa velocidade diferente.”
“As redes sociais têm um lado maravilhoso, incrível, mas tem um ônus que eu não sei lidar, sabe? Por isso, evito ir muito fundo. Todo mundo fala que eu deveria acessar mais, ter mais fotos, divulgar mais, mas eu vou ser bem franca, o artista tem que fazer um bom trabalho. Eu posso estar indo na contramão de tudo. Eu sei que concorro com uma infinidade de pessoas que estão se mostrando, mas eu sou a Patrícia e ainda estou neste lugar em que preciso fazer o meu teatro, fazer bem o meu papel e chegar no coração das pessoas. Eu fiz a Rosa na ‘Escrava Isaura’, já foi reprisada não sei quantas vezes, e toda vez me param na rua. É isso. Talvez eu precise me recolocar neste novo tempo, talvez… Eu deixo essa questão em aberto, mas estou em processo, estou devagar”, concluiu.
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