Primeira travesti a fazer novela diz: “Não tenho saudades da TV”

Por - 31/03/13 às 10:02

Divulgação

Foi em 1977 o ano em que a televisão brasileira trouxe pela primeira vez a presença de uma atriz travesti em novelas. Trata-se de Claudia Celeste, estrela dos palcos que estrelou a trama Espelho Mágico, da Globo, e causou um verdadeiro boom. A atriz esteve no núcleo de coristas e, para o público, era vista apenas como mais uma mulher.

Porém, os holofotes em cima da artista estiveram com os dias contados. Por conta do Regime Militar, que não permitia que travestis e transexuais aparecessem na tevê, ela teve o passado revelado e teve que sair do folhetim. Claudia só voltou ao ar dez anos depois, em Olho por Olho (1988), de José Louzeiro, na extinta TV Manchete.

Lá, fez sucesso na pele da travesti Dinorá, que cativou o público. Foi a única travesti a estrelar uma novela inteira até os dias de hoje.

Aos 61 anos, a atriz tornou-se nome de um prêmio sobre a diversidade sexual, continua vivendo da arte, se uniu a grandes talentos trans – como Rogéria, Valéria e Divina Aloma – e desenvolve um trabalho para resgatar os antigos shows com vedetes travestis.

Em entrevista a O Fuxico, Claudia relembra seus momentos na TV, a atual presença do grupo na mídia e revela por que não voltou a aparecer em novelas.

O Fuxico: Antes mesmo de Rogéria estrelar Tieta, em 1989, você esteve em uma telenovela nos anos 70. Como foi driblar a ditadura e fazer história na tevê?

Claudia Celeste: Foi um momento importante, pois era impossível falar de travesti na televisão. Fui convidada pelo Daniel Filho quando fazia o papel de mulher no teatro Brigite Blair e ele nem sabia que eu era travesti. Mas como já era conhecida do meio (ela foi Miss Brasil Trans 1976) a mídia começou a noticiar sobre mim. Resultado: a Globo teve que me cortar.

OF: Como se sentiu?

CC: Não me abalei, nem fiquei triste, apesar de ser muito jovem. Encarei muito profissionalmente, sem estrelismos: fiz uma ponta, gravei alguns dias, ganhei meu cachê e está tudo certo. Éramos muito bem dirigidas e essas questões externas não causavam nenhum tipo de chateação no trabalho.

OF: Você sofreu com o Regime Militar?

CC: (Respira fundo) Não posso dizer. Teve o problema da novela, mas fora isso não posso revelar…

OF: Como foi contracenar e dividir a cena com a Sônia Braga?

CC: Foi maravilhoso, ela é uma pessoa muito gracinha e este foi um dos primeiros papeis dela como estrela. Teve um fato curioso nos bastidores, pois diziam que nós éramos muito parecidas. Quando nos vimos, ela concordou e disse: “Nem minha irmã é tão parecida comigo” (risos). Também contracenei com Lima Duarte e ele também demonstrou ser um grande profissional.

OF: Por qual motivo demorou tanto tempo para estrelar outro folhetim?

CC: Fui trabalhar com shows na Europa, me casei e vivi durante este tempo lá. Até que estive no Teatro Alaska, no Rio, e me disseram que abriram um teste para a TV Manchete. Procuravam um papel de travesti que fosse feito por uma atriz travesti e não por um homem. Fiz o teste com 150 artistas, fui uma das últimas chegar e me dei bem. Antes mesmo de chegar a minha casa tive a notícia que era para voltar para lá.

OF: Em Olho por Olho conseguiu finalmente mostrar o seu talento?

CC: Foram 130 e poucos capítulos e fiz a novela praticamente de cabo a rabo. Todos os dias tinha uma cena comigo, com texto e até musical. Como o José sabia que eu tinha um trabalho nos palcos, aproveitou muito bem na novela. Aliás, ele sempre perguntava a opinião sobre o texto, se estava muito longe da realidade, se estava em disparate com a Dinorá. Trabalhei com Beth Goulart, Mario Gomes e todos foram legais, me trataram sempre com respeito. Depois da Dinorá, nunca mais fizeram nada parecido como este papel. Até hoje travesti só faz ponta na tevê.

OF: O que pensa sobre os personagens trans da atualidade?

CC: Não dizem muita coisa, tudo é feito pela metade e ainda estamos fadadas ao deboche. A Rogéria, por outro lado, teve um papel maravilhoso em Lado a Lado, interpretando uma senhora, avó. Ela é um ícone, fantástica. Hoje, temos na mídia a Lea T, uma modelo que está mostrando um lado positivo, de uma trans com profissão. Mas temos que lembrar que nem toda travesti ou transexual é artista. 

OF: Sente saudades das novelas?

CC: Não sinto saudades, eu voltei para a Europa depois de Olho por Olho, fiquei morando 16 anos lá, trabalhando com meu marido fazendo espetáculos na Alemanha, França e Espanha. Quando voltei, há 10 anos, já havia perdido o contato com todo mundo, não voltei mais. Hoje, tenho vontade de trazer de volta os grandes espetáculos de travestis no teatro. Acho que essa é a minha praia, é o que eu sinto e gosto de fazer.

OF: Atualmente, você continua na ativa…

CC: Estou escrevendo um livro chamado o Glamour das Divas, ao lado de um professor de história e da Suzy Parker. Vamos contar as histórias das grandes figuras que representaram os espetáculos de travestis no Brasil dos anos 60 até os 80. Pretendo lançar em 2014. Também estou em uma ONG que visa resgatar a história da arte LGBT e capacitar as novas artistas. E dirijo o Miss T Brasil, que está em sua segunda edição. Além disso, faço parte do show Agora É Que São Elas, com Rogéria, Valéria, Aloma, todas as veteranas do show de travestis.

OF: O que representa o palco para você? 

CC: É a minha respiração.

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