Projac da Globo ganha cemitério de 3 quilômetros para Saramandaia
Por Redação - 21/06/13 às 08:00
O texto original de Saramandaia, escrito por Dias Gomes, já completou 37 anos, mas a essência da história parece sob medida para os dias de hoje. Primeira comédia da nova faixa das 23 horas da Globo, a adaptação de Ricardo Linhares utiliza o realismo fantástico para discutir, de maneira inusitada, temas que estão em quase todas as tramas produzidas pela emissora. Desde as críticas políticas e sociais à luta contra o preconceito e pela diversidade de opiniões e atitudes. Tudo a partir de inúmeras metáforas – inseridas de maneira literal nas cenas. Algo que o autor encara como ousadia, diante do momento atual que a tevê vive.
"O público está ávido por realismo, como mostram a criação e o sucesso em massa de realities sob as formas mais bizarras. As pessoas cobram das telenovelas de hoje uma postura mais próxima do cotidiano", reflete Ricardo, que chegou a tentar, em 2005, levar o remake para o horário das 18 horas da emissora, mas não conseguiu.
O nome Saramandaia vem da discussão política da trama, já que um grupo defende a mudança do nome da cidade Bole-Bole para o usado no título da novela em busca de romper fronteiras e abrir portas para o novo. E a história traz de volta à cena personagens que ficaram marcados na teledramaturgia nacional. João Gibão, vivido por Sergio Guizé, esconde um par de asas nas costas. Já o rude Zico Rosado, papel de José Mayer, solta formigas pelo nariz, enquanto o professor Aristóbulo, de Gabriel Braga Nunes, se transforma em lobisomem todas as sextas-feiras.
Além deles, o farmacêutico Cazuza vive nervoso, a colocar o coração literalmente pela boca, enquanto a rechonchuda Dona Redonda, composição impressionante de Vera Holtz, come incontrolavelmente. Tanto que, ao final, assim como aconteceu no capítulo 26 da versão original, de tão cheia, explode. Para interpretar uma mulher com mais de 250 quilos, Vera passa por quatro horas de caracterização e usa uma série de enchimentos. O resultado final é conseguido com o auxílio da computação gráfica.
"A roupa tem um esquema especial de ventilação e hidratação porque não daria para fazer de outra forma. É muito quente. Quando ficou pronta, só posso gravar por umas quatro horas. Depois, já não funciona", informa a atriz.
Para a caracterização de João Gibão, do lobisomem e de Dona Redonda, uma equipe da emissora viajou com os atores para Los Angeles, nos Estados Unidos. Lá, os corpos dos três foram escaneados e o trabalho contou com a consultoria de Mark Coulier, maquiador inglês responsável pela transformação de Meryl Streep no filme A Dama de Ferro. Luiz Henrique Nogueira também teve de passar pelo processo de escaneamento. No seu caso, apenas seu rosto, já que interpreta o falecido Belisário. O personagem é, na verdade, uma cabeça encaixada em uma redoma de vidro fabricada pela equipe de arte da novela.
"Para os momentos em que a viva leva o marido para dançar em sua sala", explica o supervisor de caracterização, Marcelo Dias. Foi ele quem idealizou todo o processo de criação de Dona Redonda, priorizando um resultado que permitisse mobilidade a Vera Holtz.
"Não podíamos perder suas expressões e seus movimentos", resume.
Dos Estados Unidos, veio ainda a tecnologia necessária para montar o entorno da cidade cenográfica de Bole-Bole. A técnica, inédita no Brasil, cria dunas, mares e plantações em quantidades e texturas bem próximas das reais. Foi com ela também que Saramandaia conseguiu seu cemitério gigantesco, onde Aristóbulo passeia durante suas madrugadas insones na trama – ele não dorme há mais de 10 anos.
"O cemitério cenográfico de oito tumbas do Projac se transformou em um com aproximadamente três quilômetros, com direito a uma imensa floresta seca", adianta o diretor-geral, Fabrício Mamberti.
Ao contrário de outras tramas da emissora, Saramandaia conta com apenas uma cidade cenográfica. Mas são quase 5 mil m², que têm até uma parte alta, acessada por escadas de tijolo e pedra que permite uma observação de Bole-Bole.
"A parte alta é visualmente interessante, cria uma tela vertical. E abre possibilidades de enquadramento que quebram a rotina das gravações", analisa May Martins, diretora de cenografia.
Mas um dos grandes charmes desta versão está na homenagem feita ao criador do original. Como padroeiro de Bole-Bole, Ricardo escolheu o Santo Dias, uma referência explícita a Dias Gomes. Dentro da igreja cenográfica, uma imagem de 1,2 m de altura, fabricada na Bahia, reverencia o mundo do teatro e da televisão.
"Com o rosto do Dias Gomes e uma pena e cadernos nas mãos, o santo de cores fortes representa todos os nossos grandes dramaturgos", enaltece o produtor de arte, Guga Feijó.
Amor em jogo
Ricardo Linhares teve total liberdade para mexer na história idealizada por Dias Gomes. E aproveitou isso bem. Se na época o romance ficava completamente fora da trama central, desta vez é um dos motores de Saramandaia. Prova disso é a determinada Vitória, papel de Lilia Cabral, que não existia na primeira versão e foi criada no posto de protagonista, ao lado de Zico, repetindo Lilia e Mayer como casal. Ambos já experimentaram essa situação outras vezes, sendo a última delas em "Viver a Vida", novela de Manoel Carlos. Na história atual, ela e Zico se entregam à paixão mal resolvida há 30 anos, em função da rivalidade de suas famílias.
"Vamos acompanhar três gerações de amor e ódio, três romances interrompidos por essa disputa", avisa Ricardo.
Outra aposta romântica do autor está no par formado por Gibão e Marcina, papel de Chandelly Braz. A jovem atriz, que participou do seriado Clandestinos O Sonho Começou e se destacou na pele da periguete Brunessa, de Cheias de Charme, encarna a ardente personagem vivida por Sônia Braga logo depois que a atriz protagonizou a primeira versão de Gabriela.
"Gibão é o grande representante de como as pessoas são tratadas com intolerância. Ele acha que a sociedade não está preparada para aceitar pessoas com características diferentes das outras", conta o autor, transparecendo que essa relação é uma das que mais emocionam no folhetim.
Ricardo embarcou tão fundo no realismo fantástico proposto por Dias Gomes que se aventurou ao criar novos papéis com particularidades surreais. Candinha, mãe de Zico e interpretada por Fernanda Montenegro, conversa com galinhas imaginárias. Tibério, pai de Vitória e vivido por Tarcísio Meira, de tanto ficar sentado, cria raízes que penetram o assoalho de sua casa. E a própria Vitória, que literalmente se derrete de amores por Zico, transpirando em excesso.
"A brincadeira de transformar essas expressões em personagens e ações é o grande barato de 'Saramandaia'", frisa Ricardo.
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