Psicóloga afirma que afeto dos amigos é primordial para Klara Castanho
Por Flavia Cirino - 27/06/22 às 13:38
Ter exposto sua verdade, por meio de uma carta aberta, gerou uma corrente de amor e afeto para Klara Castanho que talvez ela não imaginasse. Acolhida por muitos famosos, a atriz de 21 anos, vítima de um estupro, agradeceu a alguns deles no domingo, 26 de junho. Para a psicóloga Alice Maria Pereira, as demonstrações são primordiais para que a vítima se recupere mais facilmente do enorme trauma.
“O estupro é um tipo de violência que está associada a uma ação de poder, uma vez que a vítima se vê indefesa. A culpa e vergonha são dois sentimentos recorrentes às vítimas, sobretudo acompanhados de um senso de incompreensão”, destacou a profissional à reportagem de OFuxico.
Alice ressalta no momento em que Klara Castanho publicou a carta aberta, deixando de figurar na “invisibilidade do assunto”, ela sai da própria sombra.
“O não reconhecimento acentua a dor. Ela sofre sozinha. É preciso que a vítima entenda que ela não é culpada e não é a única. E mais: pode ajudar outras pessoas. Receber o apoio de familiares, amigos, fãs, atenuam demais essa dor. E é importantíssimo responsabilizar o agressor e não culpabilizar a vítima”.
O QUE DISSERAM OS AMIGOS DE KLARA CASTANHO
Larissa Manoela compartilhou uma série de fotos dela com a atriz e com Maisa Silva, que também demonstrou sua solidariedade. “Te amo, amo vocês”, comentou Klara.
A escritora Thalita Rebouças, com quem a artista atuou em três filmes, fez questão de externar seu carinho: “Klarinha é mais que amiga. Depois de três filmes juntas ela virou minha filha do coração. E esse post é só pra dizer o quanto eu te amo e que eu tô com você, Klara. Segurando sua mão. Hoje e sempre”.
“Te amo com todo meu coração”, comentou Klara na postagem.
O carinho de Taís Araújo também foi retribuído: “Eu amo você, e não é dessa vida. Obrigada, Tais”, escreveu Klara Castanho.
A comediante Dadá Coelho não ficou de fora: “Te amo, Dada. Te amo”, respondeu Klara diante das palavras fortes da mulher de Paulo Betti: “Se o Brasil fosse um país sério, as pessoas envolvidas nessa tripla violência estariam presas agora! Meia dúzia de Klarinha Castanho entre os que mandam no Brasil e a gente era outro país. Todo meu amor pra você e todas as mulheres do mundo”, postou a atriz e comediante Dadá Coelho. Klara respondeu:
Em post do ator Bruno Mazzeo, que interpretou seu pai nos cinemas, Klara agradeceu: “Obrigada por esse cuidado tão grande. Obrigada!”
A atriz também comentou post de Carol Castro, com quem trabalhou em três novelas: “Carol, meu amor. Obrigada por estar e sempre ter estado aqui. Te amo. Só te amo mil vezes”, disse Klara.
ENTENDA O CASO
Klara Castanho surpreendeu ao fazer uma carta aberta contando que foi vítima de um estupro, algo que resultou em uma gravidez indesejada há algum tempo. Além disso, a atriz revelou que não fez o aborto e, após o parto, entregou o bebê à adoção. Vale lembrar que o nome da atriz foi Trending Topics do Twitter por conta do assunto, que só foi confirmado por ela na noite deste sábado (25).
Confira o relato de Klara Castanho, em carta aberta, na íntegra!
“Esse é o relato mais difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo. Sempre mantive a minha vida afetiva privada, assim, expô-la desse maneira é algo que me apavora e remexe dores profundas e recentes. No entanto, não posso silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e de um trauma que sofri. Fui estuprada. Relembrar esse episódio traz uma sensação de morte, porque algo morreu em mim. Não estava na minha cidade, não estava perto da minha família nem dos meus amigos.
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Estava completamente sozinha. Não, eu não fiz boletim de ocorrência. Tive muita vergonha, me senti culpada. Tive a ilusão de que se eu fingisse que isso não aconteceu, talvez eu esquecesse, superasse. Mas não foi o que aconteceu. As únicas coisas que tive forças para fazer foram: tomar a pílula do dia seguinte e fazer alguns exames. E tentei, na medida do possível e da minha frágil capacidade emocional, seguir adiante, me manter focada na minha família e no meu trabalho. Mas mesmo tentando levar uma vida normal, os danos da violência me acompanharam. Deixei de dormir, deixei de confiar nas pessoas, deixei uma sombra apoderar-se de mim.
Uma tristeza infinita que eu nunca tinha sentido antes. As redes sociais são uma ilusão e deixei lá a ilusão de que a vida estava ok enquanto eu estava despedaçada. Somente a minha família sabia o que tinha acontecido. Os fatos até aqui são suficientes para me machucar, mas eles não param por aqui. Meses depois, eu comecei a passar mal, ter mal-estar. Um médico sinalizou que poderia ser uma gastrite, uma hérnia estrangulada, um mioma. Fiz uma tomografia e, no meio dela, o exame foi interrompido às pressas”, ainda escreveu a atriz.
Fui informada que eu gerava um feto no meu útero. Sim, eu estava quase no término da gestação quando soube. Foi um choque. Meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Eu não tinha ganhado peso e nem barriga. Naquele momento do exame, me senti novamente violada, novamente culpada. Em uma consulta médica contei ter sido estuprada, expliquei tudo o que aconteceu. O médico não teve empatia por mim. Eu não era uma mulher que estava grávida por vontade e desejo, eu tinha sofrido uma violência.
E mesmo assim esse profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo. Essa foi mais uma da série de violências que aconteceram comigo. Gostaria que tivesse parado por aí, mas, infelizmente, não foi isso o que aconteceu. Eu ainda estava tentando juntar os cacos quando tive que lidar com a informação de ter um bebê. Um bebê fruto de uma violência que me destruiu como mulher. Eu não tinha (e não tenho) condições emocionais de dar para essa criança o amor, o cuidado e tudo o que ela merece ter. Entre o momento que eu soube da gravidez e o parto se passaram poucos dias. Era demais para processar, para aceitar e tomei a atitude que eu considero mais digna e humana.
No dia em que a criança nasceu, eu, ainda anestesiada do pós-parto, fui abordada por uma enfermeira que estava na sala de cirurgia. Ela fez perguntas e ameaçou: ‘Imagina se tal colunista descobre essa história’. Eu estava dentro de um hospital, um lugar que era para supostamente para me acolher e proteger. Quando cheguei no quarto já havia mensagens do colunista, com todas as informações. Ele só não sabia do estupro. Eu ainda estava sob o efeito da anestesia. Eu não tive tempo de processar tudo aquilo que estava vivendo, de entender, tamanha era a dor que eu estava sentindo. Eu conversei com ele, expliquei tudo o que tinha me acontecido. Ele prometeu não publicar. Um outro colunista também me procurou dias depois querendo saber se eu estava grávida e eu falei com ele”.
Mas apenas o fato de eles saberem, mostra que os profissionais que deveriam ter me protegido em um momento de extrema dor vulnerabilidade, que têm a obrigação legal de respeitar o sigilo da entrega, não foram éticos, nem tiveram respeito por mim e nem pela criança. Bom, agora, a notícia se tornou pública, e com ela vieram mil informações erradas e ilações mentirosas e cruéis.
Vocês não têm noção da dor que eu sinto. Tudo o que fiz foi pensando em resguardar a vida e o futuro da criança. Cada passo está documentado e de acordo com a lei. A criança merece ser criada por uma família amorosa, devidamente habilitada à adoção, que não tenha as lembranças de um fato tão traumático. E ela não precisa saber que foi resultado de uma violência tão cruel. Como mulher, eu fui violentada primeiramente por um homem e, agora, sou reiteradamente violentada por tantas outras pessoas que me julgam. Ter que me pronunciar sobre um assunto tão íntimo e doloroso me faz ter que continuar vivendo essa angústia que carrego todos os dias.
A verdade é dura, mas essa é a história real. Essa é a dor que me dilacera. No momento, eu estou amparada pela minha família e cuidando da minha saúde mental e física. Minha história se tornar pública não foi um desejo meu, mas espero que, ao menos, tudo o que me aconteceu sirva para que mulheres e meninas não se sintam culpadas ou envergonhadas pelas violências que elas sofrem. Entregar uma criança em adoção não é um crime, é um ato supremo de cuidado. Eu vou tentar me reconstruir, e conto com a compreensão de vocês para me ajudar a manter a privacidade que o momento exige. Com carinho, Klara Castanho”, finalizou.
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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino