‘Quero emprestar minha voz’, diz Xuxa, após relatar série de abusos sexuais na infância

Por - 25/11/19 às 16:55

Reprodução/Instagram

Na manhã desta segunda (25), a apresentadora Xuxa Meneghel emocionou os internautas ao relatar episódios marcantes vividos em sua infância e pré-adolescência.

Em sua coluna na Vogue, descreveu em primeira pessoa detalhes do terror que passou em diferentes momentos de sua vida.  

O primeiro relato ocorreu quando tinha apenas 4 anos de idade:

“Me lembro de um cheiro de álcool de alguém, uma barba que machucou o meu rosto e algo que foi colocado na minha boca. Acordei dizendo que alguém tinha feito xixi na minha boca e meus irmãos disseram que eu tinha sonhado”.

A apresentadora seguiu contando detalhes dessa época, ressaltando o quão difícil era revisitar um passado que a fazia sentir-se culpada, impotente, com raiva e medo.

“Me lembro que andávamos de Kombi… Nós crianças íamos atrás. Eu tinha 5 ou 6 anos e os mais velhos eram pré-adolescentes, primos de segundo grau e amigos muito próximos da família. Sentia tocarem em mim, colocavam o dedo, doía, não sabia distinguir o que sentia, por isso não chorava e nem reclamava com ninguém sobre o acontecido”. Essa mesma pessoa vinha ao Rio quando eu já tinha entre 9 e 10 anos, e, quando a família dormia, colocava seus dedos por debaixo dos lençóis e me tocava. Nesse tempo, esse parente distante já era um adolescente e sempre que podia me tocava”.

Em outro momento, Xuxa contou sobre mais uma trágica experiência, dessa vez, em sala de aula, aos 11 anos.

“Meu professor de matemática do colégio Itu, que atendia pelo nome de Mauricio, me chamou depois da aula e, mesmo na frente da minha amiga Yara, ele disse que queria me deixar só de calcinha e colocar nas minhas coxas. Me perguntava: o que seria isso? Foi então que eu vi pela primeira vez alguém se masturbar. No outro dia, ele mandou que eu fosse ao quadro para escrever alguma coisa antes que os outros alunos da sala entrassem. Era hora do recreio, ele disse que isso iria me ajudar nas notas finais”.

E completou:

“Eu escrevi o que ele queria no quadro e vi que ele se tocava embaixo da mesa, usava uma calça quadriculada e se mexia muito, não entendia muito bem o que ele tava fazendo… Foi aí que o ouvi gemer e depois se limpar. Eu perguntei o que tinha acontecido, se aquilo era colocar nas coxas. Ele riu e disse que não, mas que faria isso em mim, que não iria me machucar e que se eu falasse para alguém sobre o que eu tinha visto ou o que ele havia falado: ‘ninguém iria acreditar, pois entre a palavra de um aluno e de um professor, o professor sempre ganha’”.

Ao fim de cada desabafo, a mãe de Sasha Meneghel se perguntava: “Por que isso aconteceu comigo? Não sei. Por que não gritei? Por que não falei logo pra minha mãe? Não sei! Não sei mesmo”.

Ela relembra ainda um período familiar envolvendo mais um triste episódio de abuso:

“Minha vó Olivia, mãe da minha mãe, tinha um namorado chamado Ubirajara, que pretendia se casar com ela. Eu ia ao apartamento dela, ficava vendo TV e o futuro “vovô” ficava perto e me fazia carinho até que minha vó fosse costurar e ele pedia para eu sentar no colo dele. Às vezes ele tomava banho e deixava a porta aberta. O barulho que minha vó fazia enquanto cozinhava ou costurava o deixava livre para vir até a porta se tocar me olhando. Eu não entendia por que ele fazia isso e nunca perguntei nada. Então ele começou a tocar meus futuros peitos. Uma vez vendo TV, ele acariciou meu cabelo, o cheirou e logo depois desceu a mão para os meus (quase) seios e os apertou. Doeu e eu o fiz parar, e ele disse que era só um carinho e que só o “vovô” podia fazer porque me amava como neta”.

Por fim, a eterna rainha dos baixinhos, divulgou o sofrimento vivido com um amigo do pai, nas férias escolares.

“Meu pai alugou uma casa, a casa azul, que era muito pequena, só tinham dois quartos. No alto verão, dormíamos na varanda de tanto calor e minha mãe colocava o famoso edredom e fazia uma cama enorme. Lá dormíamos eu, meus irmãos, amigos dos meus irmãos e às vezes um casal amigo dos meus pais. O homem, que se chamava Álvaro, era sem dúvida o melhor amigo do meu pai. Ele dormia no meio de todos para fazer companhia e cuidar das crianças, mas eu acordava com sua mão me tocando”.

Mesmo com os diálogos pesados, ela seguia o raciocínio.

"Aos 13 anos, ele fez uma casa e me chamou para ver como estavam as obras. Disse que eu teria um quarto para dormir lá quando quisesse…  Eu até o chamava de padrinho! Ele disse: ‘Dá um abraço no seu padrinho, faz tempo que você não faz isso’ e me encurralou na parede de pedras da varanda e colocou suas mãos por debaixo da minha camiseta. Eu estava de biquíni e camisetão. Ele tentou beijar minha boca. Me lembro que chovia e eu saí correndo pela rua até chegar na praia. Chorava muito, peguei um punhado de areia e passava no meu corpo para limpar toda sujeira que estava impregnada há anos…”.

Ao concluir o texto, Xuxa disse que se calou até os 50 anos, até fazer a primeira revelação ao Fantástico, em 2012, numa campanha do disque denúncia, o Disque 100.

Além de ter sua vida marcada para sempre, os casos lhes trouxeram consequências emocionais e físicas, como o hábito de tomar de 3 a 4 banhos diários, além de sentir-se protegida pelas crianças, pois tinha a convicção que não a fariam mal algum.

E finaliza reafirmando sua luta: “Quero emprestar minha voz em campanhas paras crianças que não falam, não gritam e choram sozinhas. Eu preciso fazer isso por elas, já que não fiz por mim”.

Xuxa Meneghel faz emocionante homenagem para Gugu Liberato em show

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