Raul Gazolla: “Ir para a Globo convidado é diferente de pedir”
Por Redação - 08/09/12 às 11:14
Raul Gazolla sempre se encaixou muito bem em personagens cariocas, com sotaque carregado e cheios de ginga. Eles são uma espécie de reflexo do ator de gestos sempre expansivos e sorriso simpático. Como o ex-policial Vado, o tipo machão que interpreta em Máscaras, na Record. No entanto, Gazolla acredita que perdeu o momento oportuno de explodir como ator na década de 80, na Globo. Com 1,83 m de altura, olhos azuis, postura de bailarino e galã, este ator carioca de 57 anos tinha tudo para encabeçar diversas novelas na Globo.
Prova disso foi seu primeiro protagonista na extinta Manchete, em Kananga do Japão. Ele vivia Alex, um cafetão carismático e sedutor ao lado da personagem de Christiane Torloni. No entanto, Gazolla afirma que recebia diversas propostas da Globo nesta época, mas não podia abandonar a Manchete porque tinha uma dívida pessoal com o dono da emissora, Adolpho Bloch.
"Administrei minha carreira de forma ingênua. Quando fui para a Globo, já era mais um. Mas sempre me trataram bem. Nunca tive desavenças em meus trabalhos", assegura, com sua desajeitada doçura.
O Fuxico – O Vado é um policial machista, que se casa com a amante e no início da trama ainda tinha um caso com a ex-mulher. No que ele tem se destacado para você?
Raul Gazolla – Gosto de ele ser um ex-policial. Em Vidas Opostas fiz um policial em ação. Já tinha feito laboratório, tinha cancha. Tenho amigos policiais e delegados. Cheguei a sair em um carro de polícia com máscara, para subir um morro, mas sempre em situações seguras. A gente tem uma concepção completamente diferente do que é ser um delegado. É um trabalho como outro qualquer, só que lida com o crime. Tenho um grande amigo que é delegado e tem uma vida normalíssima. Brinco com ele que a mãe dele não deixa ele andar armado. É como a mãe do Rubinho Barrichello, que fala: "meu filho, não vai correr muito!" (risos). Achei divertido no início ele ter terminado com a mulher, casado com a amante e ter voltado com a
mulher apenas como amante. Isso é bem curioso. É passível de acontecer.
OF – Você já teve vontade de ser policial?
RG – Sabe que tive? Quando era garoto, queria ser policial de moto. Na minha época, tinha a
Patrulha Rodoviária. O policial tinha uma moto e um pastor alemão. Sonhos de garoto, né? Sempre fui apaixonado por moto, tenho até hoje. Queria aquela aventura de cumprir a lei e andar pelas estradas. Me realizo através do meu personagem. Essa profissão que eu escolhi ou que me escolheu é fascinante. Brinco de policial, bandido, médico, tudo. Saio feliz quando vou gravar e no final do mês neguinho ainda me dá o dinheiro. Acho tão bacana e ainda tenho de beijar umas moças superbonitas…
OF – Você está na quinta novela na Record, desde Prova de Amor, de 2006. Que avaliação você faz da sua carreira com a saída da Globo e a mudança de emissora?
RG – A Record é uma emissora extremamente competente. Trabalhei na Globo anos e os estúdios e equipamentos da Record não devem nada à Globo. Todos os profissionais que estão aqui passaram por lá. Só acho que a Record deveria investir mais em produções. Não devemos ter apenas uma novela, um produto para adolescente e uma minissérie que vai ao ar um mês por ano. Devíamos ter três novelas e um produto infantojuvenil. O povo já está acostumado a assistir às novelas brasileiras. Na Globo, o Boni habituou o brasileiro a assistir a um produto nacional no horário nobre. Vários outros países assistem a produtos americanos. Nós consumimos produtos nacionais. A Record tem capacidade de fazer mais produções. Me ressinto de não trabalhar mais na emissora. Máscaras vai acabar e não sei quando
vou atuar novamente. Estou com contrato até 2014. Mas sempre brinco que vou ficar aqui até 2037 (risos).
OF – Você se destacou na tevê na extinta Manchete, quando protagonizou Kananga do Japão, em 1989. Que lembranças tem dessa época?
RG – As melhores. Ali conheci a Daniella Perez, a gente casou. Foi um momento muito bacana na minha vida. Foi meu primeiro protagonista, que me deu possibilidade de mostrar meu trabalho como ator e bailarino. Foi deslumbrante. Dificilmente se tem uma chance dessas. A gente gravava 12 horas por dia, de segunda a segunda. Deu uma consciência do que é fazer um protagonista. Você não tem vida, mas é muito prazeroso. Mas administrei minha
carreira de uma forma ingênua. A Globo me chamou várias vezes quando eu estava contratado na Manchete e devia um favor pessoal para o Adolpho Bloch. Então falava que não podia ir. Um dia, o Adolpho chegou para mim e falou: “Meu filho, vá para a Globo porque a gente vai terminar a teledramaturgia na Manchete”. Ir convidado é diferente de ir depois, pedindo. Por isso, fui recebido na Globo como mais um ator. Mas sempre me trataram muito bem.
OF – Você sempre teve uma parceria com a Glória Perez, com quem fez O Clone e América. Não pensou em voltar para a Globo agora para fazer Salve Jorge?
RG – Ela me convidou para ir. Gostaria muito, mas estou contratado da Record. Tenho uma amizade eterna com a Glória. Ela tem um carinho enorme pela minha filha, que chama ela de vovó Glória, apesar de não ser neta dela. Ela se chama Rani. Não é Dani (como a Daniella Perez), mas é Rani. Minha filha (de nove anos) e a Glória sempre se gostaram muito… Ah, também quase fiz Carmem, primeira e única novela da Glória na Manchete. Fiz um teste com o (diretor) Luiz Fernando Carvalho. Ele estava entre mim e o Paulo Gorgulho. Ele disse que eu tinha feito um teste maravilhoso, que eu faria o personagem brilhantemente, mas não podia me contratar. Disse que eu era muito bonito para o personagem. Fiquei muito confuso. Não sabia se era bom ou ruim. Mas ainda bem que não passei. Se eu fizesse Carmem, não faria Kananga do Japão, que foi a novela que veio em seguida.
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