Record investe alto no frenesi policial de Pecado Mortal

Por - 22/09/13 às 12:30

Luiza Dantas /Carta Z Notícias

Tramas policiais envolvendo mocinhos e mafiosos são recorrentes no passado recente da Record. Basta lembrar de A Lei e O Crime, de Marcílio Moraes, ou Poder Paralelo, de Lauro César Muniz. E, de acordo com as principais histórias de Pecado Mortal, parece que a emissora volta a investir com força total nesse filão. Só que agora sob a assinatura não menos luxuosa de Carlos Lombardi, que encara seu primeiro trabalho na Record depois de 30 anos de serviços prestados à Globo – onde estava na geladeira desde 2007.

"Queria muito voltar ao trabalho. Sugeri vários projetos e sinopses, mas nada era aprovado. Meu contrato iria acabar e surgiu a oportunidade de vir para a Record. Tive total liberdade de criação e bom entendimento com a direção da casa", garante Lombardi.

A inspiração do autor nasce justamente dos problemas retratados nas novelas citadas: a contravenção do jogo do bicho e a guerra provocada pelo tráfico de drogas. No entanto, a abordagem é focada na origem do crime organizado.

Para dissecar toda o tema, após um prólogo passado nos anos 1940, a novela é ambientada em meados da década de 1970.

"A Record nunca tinha feito nada que se passasse nesses períodos. Por isso, o processo de pré-produção foi intenso e trabalhoso. Tivemos de escolher locações especiais e começar tudo do zero", detalha Alexandre Avancini, diretor-geral da trama.

Velhos conhecidos da época em que ambos estavam na Globo – trabalharam juntos em sucessos como Uga Uga e Kubanacan –, Avancini e Lombardi tiveram à disposição um orçamento pouco visto na Record. Mesmo em tempos de crise e demissões em vários setores da emissora. O custo por capítulo de Pecado Mortal está em cerca de R$ 500 mil.

"O investimento se justifica pela aposta da emissora nessa estreia do Lombardi na casa. A história tem ingredientes certeiros para conquistar a audiência que temos e conquistar outros pblicos", exalta Anderson Souza, diretor de teledramaturgia.

Boa parte do capital investido no folhetim foi consumido pelas equipes de cenografia e direção de arte. As cidades cenográficas que simulam o bairro de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, e o Morro do Pinguim, favela fictícia onde se passa grande parte da trama, estão entre os itens mais caros.

"Os locais originais foram naturalmente modificados. Então, a saída é refazer tudo e focar nos detalhes para que as cenas fiquem verossímeis", justifica o diretor de cenografia, Daniel Clabunde.

Além de carros da época, como Fusca, Kombi, entre outros, Carlos Rangel, diretor de arte, teve de garimpar ou fabricar móveis e objetos utilizados na época. Enquanto a equipe de Carol Li, responsável pelos figurinos, teve de produzir mais de duas mil peças especialmente para a novela.

"A moda revisita os anos 1970 sempre. O pedido da direção foi fazer uma mescla de peças antigas e contemporâneas. O visual é 'vintage', mas não precisa ser tão datado", entrega Carol.

Todo requinte técnico está a serviço de Carlos Lombardi e suas idiossincrasias. Captada com as supercâmaras Arri Alexa, a nova novela capricha nas doses de romance, melodrama e ação. E também não deixa de fora os habituais descamisados já vistos em outras tramas do autor. No entanto, valendo-se do horário de exibição, às 22:30 h, Lombardi também promete despir boa parte de seu elenco feminino.

"Agora que todo mundo me copia, vou investir sem receios na beleza das mulheres da minha novela", gaba-se.

A preferência na hora de escalar os nomes para a trama foi utilizar o banco de atores da Record. Entre veteranos e novos contratados, o autor reencontra-se com figuras que já trabalhou no passado. Casos de Betty Lago, Mário Gomes, Bianca Byington, Iran Malfitano, Tatyane Goulart, Carla Cabral e Heitor Martinez, entre outros.

O ponto de partida de Pecado Mortal é o triângulo amoroso formado por Michelle, Donana e Estela, papéis de Henrique Guimarães, Maytê Piragibe e Marcela Barrozo na primeira fase e vividos por Luiz Guilherme, Jussara Freire e Betty Lago na segunda. Carregado de ambiguidade, Michelle foge da Europa em guerra e fixa-se no Brasil, onde, posteriormente, assume todo o esquema do jogo do bicho da Zona Sul carioca. Na luta pelo amor do criminoso, Donana sai na frente e se casa com ele. No entanto, Stella, a amante, está grávida. Ao descobrir a vida dupla do marido, Donana ameaça a amante de morte e a obriga a entregar os dois filhos que teve com Michelle.

"A Stella volta com sede de vingança e quer resgatar seus filhos", conta Betty Lago.

Já nos anos 1970, entram em cena hippies, policiais corruptos, contraventores, oficiais de justiça, carnavalescos e outros perfis coerentes com a época. Entre os tipos, a promotora Patrícia, de Simone Spoladore, e o riponga Carlão, de Fernando Pavão, vivem a história de amor central da trama.

"Eles são o contraponto um do outro. É um romance quente e ousado. Bem no estilo 'Lombardi'", empolga-se Spoladore.

Mal explícito
Em Pecado Mortal, Carlos Lombardi propõe um intrincado jogo de gato e rato ao telespectador. A confusão mora na opção do autor de fugir do maniqueísmo ao criar atitudes ambíguas para a maioria de seus personagens.

"Sempre gostei do naturalismo. Agindo entre o bem o mal, a gente aproxima os personagens do público. Afinal, todo mundo tem suas fraquezas", analisa Lombardi, que aposta em seus vilões para dar vitalidade ao folhetim.

A trama começa, inclusive, com a violenta relação envolvendo Michelle, Donana e Estela. Na passagem de tempo para os anos 1970, o trio retoma suas angústias e encontra outros tipos maquiavélicos. Em especial, no conflito de anos que o clã de Michelle, os Vêneto, alimenta com a família Ashcar. O controle do jogo do bicho é o que está em xeque. E, para a principal mente dos Ashcar, a esperta Dorotéia, de Paloma Duarte, vale tudo.

"Dorotéia é do tipo persuasiva e que sabe o que quer. Quando faltam palavras, ela usa seu apelo sexual para ter o que precisa", adianta Paloma.

Em um Rio de Janeiro ensolarado, muitos outros tipos também só querem se dar bem. Como o delegado corrupto Picasso, de Victor Hugo, e seu bando, formado por Monet, Van Gogh e Caravaggio, personagens de Renato Livera, Heitor Martinez e José Maria.

"Já fizemos cenas extremamente violentas e que ajudam a mostrar o papel de uma parcela de policiais no submundo do crime", analisa Victor Hugo.

Menos armados, os picaretas Paulo e Pedro, de Cláudio Heinrich e Iran Malfitano, também acabam se envolvendo com o crime organizado, mas por acaso.

A missão de tentar frear tantos vilões sobra para a promotora Patrícia, de Simone Spoladore, e para a chefe de polícia Das Dores, de Denise Del Vecchio. Ambas flertaram fortemente com o humor. No entanto, Denise destaca as cenas mais enérgicas de sua personagem como um diferencial de sua carreira.

"Ela funciona como a polícia da polícia. Então, é preciso ser 'durona'. No entanto, tem seus receios, pois existe um segredo que a deixa vulnerável aos criminosos", adianta a atriz.

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