Reynaldo Gianecchini: ‘Acontecimentos não precisam virar tragédias’

Por - 13/11/16 às 10:49

Reprodução/Instagram/reynaldogianecchini

Sem choro e nem vela! O ditado popular cai como uma luva para Reynaldo Gianecchini. Avesso às lágrimas, o ator busca força para afastar o pranto e mantém o dom de fugir do drama e seguir em frente sem pensar na dor. O intérprete do velejador Pedro, de A Lei do Amor, novela exibida a Globo na faixa das 21h, que enfrentou de frente o diagnóstico de um câncer em 2011, encara o conflito de seu personagem.

Ele acredita que Pedro não tem por que buscar a vitimização, ainda que o grande amor da sua vida, Helô (Cláudia Abreu), tenha escondido que os dois tiveram uma filha, Letícia (Isabella Santoni) e esteja casada com outro homem, Tião (José Mayer). O conflito do personagem ainda passa pela rejeição de parte da sua família, que o vê como inimigo devido a sua luta contra a corrupção na fictícia São Dimas.

"Homens choram, claro, mas é chato sofrimento ser sinônimo de lágrimas. É mais bonito mostrar sofrimento sem precisar apelar para as lágrimas. Eu choro muito pouco. Nos momentos mais dramáticos da minha vida, eu não chorei. E, como público, acho insuportável ver mocinho aos prantos o tempo todo. Não tive essa castração da família de que chorar não é para meninos. Lá em casa, todo mundo se abraça, se beija… Com tios, primos, a gente não tem o menor pudor de demonstrar afeto. Mas eu tenho uma tendência, graças a Deus, a nunca levar os acontecimentos para o lado trágico", comemora o ator em entrevista à revista Canal Extra.

Aos 44 anos, ele é um homem de silêncios, outra característica em comum entre o artista e Pedro, que foi um viajante solitário por muitos anos.

"Adoro solidão. Sou um cara meio solitário no sentido de que fico bem sozinho. Gosto dos meus tempos comigo mesmo. Não tenho medo da solidão, eu a assumo e tiro proveito dela. Algumas pessoas necessitam estar o tempo todo rodeadas de gente, engatando vários relacionamentos. Faz muito tempo que eu não tenho um relacionamento. Não que eu não goste, acho uma delícia ter alguém, mas não preciso ficar toda hora acompanhado. Tem que ser alguma coisa especial. Senão, não faz sentido".

É aí que Giane caminha em sentido contrário de Pedro, que adoraria estar casado com Helô. O ator afirmou à Canal Extra que não tem pressa para encontrar um par romântico. Nem o inevitável assédio o faz mudar de ideia.

"Não é bem assim… Não tenho todas as pessoas aos meus pés. São muito raros os encontros especiais, aquelas pessoas com quem vale a pena dividir a vida, se aprofundar. O que existe por aí é gente querendo uma companhia para passar o tempo, se divertir. Isso eu até posso fazer, mas, como relacionamento, eu espero um encontro mais poderoso".

O caminho para a paternidade, portanto, não é descartado, mas incerto.

"Definitivamente, tem que aparecer a parceira ideal. Se não rolar, está tudo certo também. É ótimo que o homem não tenha um prazo certo para ser pai. O fato é que, por enquanto, não bateu essa urgência. Eu espero a vida me mostrar o caminho, se vou ter ou não um filho. Não tenho o menor conceito sobre isso, deixo acontecer".

Sem tornar público namoro algum desde que se separou de Marília Gabriela, em 2006, Giane disse à publicação que é possível viver várias histórias especiais ao longo da vida.

"A gente pode ter diversos amores. Nunca entro num relacionamento achando que precisa ser para a vida toda. Precisa ter o tempo que for muito legal e pronto, o período que durar. Mas acho bonito quem tem um único amor a vida toda".

A maneira como Pedro lida com separações também o aproxima de seu intérprete.

"Sou bem racional. Quando entendo que uma relação já deu, que os caminhos já estão meio fora de sintonia, sou prático em terminar. Não fico nessa de vai e volta. Quanto tomo a decisão, é aquilo e pronto. Sou do perdão e de transformar o afeto. Geralmente, fico amigo da pessoa. Tento sempre fazer isso na minha vida. Meus ex-relacionamentos viraram ótimas amizades".

Um dos aprendizados que a maturidade trouxe foi a sabedoria para usar seu tempo só com o que interessa.

"A natureza é muito sábia, naturalmente vai te freando, fazendo você não ter mais energia para certas coisas. Quando era bem jovem, lamentava que com 40, 50 anos não ia mais ter pique para ir à balada. Hoje, eu falo: 'Graças a Deus que não quero ir para a balada'. Chega de perder tempo. Depois dos 40, sinto que, naturalmente, a gente entra em outro trilho. A vida realmente começa aos 40. Parece que tudo antes foi um ensaio e que agora estou vivendo de verdade quem eu sou. Talvez eu não tivesse esse autoconhecimento se não houvesse passado pela doença. Mas não é só o câncer. Tem a ver com tudo que foi vindo a partir daí".

A publicação ainda ressaltou que, ser sinônimo de beleza, sucesso e, ao mesmo tempo, ter lutado contra um câncer, pode levantar o questionamento se Giane veio ao mundo para dar um recado à plateia que o acompanha desde a sua estreia na TV, em Laços de Família (2000):

"Seria muita pretensão pensar que minha história de vida é uma missão para passar uma mensagem a quem me acompanha. Mas a posição que o artista ocupa, esse canal de comunicação, deve ser usado para tocar a alma das pessoas. Se eu puder usar esse canal para extrapolar a arte e falar de coisas importantes para o coletivo, chamar atenção para questões sociais, aí, sim, é uma missão. Mas sem arrogância. Eu não quero mudar o mundo, não quero que ninguém compre as minhas ideias. O mais legal é mostrar através do exemplo, a sua postura, o seu caráter, a sua briga pelo bem-estar geral. Isso, sim, inspira as pessoas".

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