Rita Guedes se esforça para mostrar que seu talento está acima da sensualidade
Por Redação - 22/03/13 às 17:05
Muita maquiagem, pouca roupa e bastante sedução foram elementos que permearam todas as aparições de Rita Guedes na tevê. Até aparecer a chance de encarnar a romântica Doralice de Flor do Caribe. A atriz garante que sempre sonhou com a oportunidade de interpretar tipos que chama de mais minimalistas e sem glamour. Mas, confessa, achava difícil que isso acontecesse em sua vida. Até ouvir do diretor Jayme Monjardim que ele queria "desconstruir a imagem de gostosona que o pblico conhece".
"Acho que foi uma das maiores provas de confiança que já recebi na televisão. E isso porque nunca tinha trabalhado com ele. Fiquei emocionada quando aconteceu", conta.
Recebido o papel tão esperado, Rita fez questão de se dedicar ao máximo à composição. Para encontrar o tom ideal em sua interpretação e as emoções necessárias no texto da personagem, até se isolou em casa para, recolhida, resolver essas questões.
"Ninguém me viu no Carnaval, até acharam estranho. Sabia que precisaria desenvolver um trabalho interno intenso, então preferi a solidão", argumenta.
Longa estrada
A carreira de Rita Guedes foi pontuada por personagens sensuais na tevê. Mas a atriz sempre fez questão de mostrar que poderia ir além, caso houvesse espaço. Mesmo em sua estreia, em 1992, quando viveu a aprendiz de vilã Bianca em Despedida de Solteiro. Antes de se aventurar na televisão, Rita já tinha mais de cinco anos de carreira e 11 peças montadas com um grupo que formou no colégio, ainda em Catanduva, no interior de São Paulo.
"Eu escrevia, dirigia e atuava junto com a minha turma de colégio. Chegamos ao Teatro Municipal da cidade e moramos em um trailer, viajando o país com espetáculos", lembra, visivelmente emocionada.
Agora, porém, confessa que tão cedo não voltará a pisar em um palco. Nada contra o teatro. Mas como fez vários cursos nos Estados Unidos voltados para tevê e cinema, essas são suas prioridades. A atriz já produziu o longa Mar Inquieto, onde interpreta a viciada em drogas Anita, que tem estreia prevista para o segundo semestre. E assumiu a co-produção de outro, que será rodado ainda, de ação. Além disso, ela está escrevendo um roteiro que pretende transformar em filme quando terminar. Mas escrever para a tevê está longe de seus planos.
"Acho complicado por ser muita pressão. Tem de se dedicar por inteira e eu gosto de me dividir um pouco, às vezes. Na televisão, a direção me atrai mais", avisa.
Beleza na medida
Vista como símbolo sexual na televisão desde sua estreia, Rita Guedes jura que só passou a se cuidar mesmo depois que se mudou para o Rio.
"No interior não tem praia, então você não vê pessoas de biquíni toda hora", explica.
E, embora jure que quer manter sua expressão e a aparência condizentes com a idade, assume que já se rendeu à tentação da plástica.
"Fiz botox, mas só um pouquinho. Eu não quero ter 50 e parecer uma menininha. O que eu espero é poder envelhecer me sentindo bonita. Mas com orgulho de todos os anos que passaram", ressalta.
O Fuxico: Você bate na tecla de que Flor do Caribe é diferente de tudo que você já fez. Trabalhar um papel sem sensualidade é o que mais lhe motiva agora?
Rita Guedes: Puxa, eu fico arrepiada só de falar porque, durante 20 anos, sempre fui vista na televisão como a sedutora, a gostosona. Com personagens bons, é verdade, mas dentro de uma linha em que já sabiam que eu funcionaria. Dessa vez, o Jayme apostou em mim para valer. Acho que seria bem difícil outro diretor pensar no meu nome para esse papel. Assim que conversamos, ele falou que queria me desconstruir, me deixar distante de tudo que já tinham me visto fazendo. E esse foi o melhor presente que já recebi na carreira. A Doralice não tem sensualidade, não usa salto alto, roupa colada ou decote, nada disso.
OF: Isso não chega a mexer com sua vaidade?
RG: De forma alguma! Já fiz demais o oposto. E quando eu estava cheia de glamour, toda sensual e bonitona, me emocionava mesmo com os trabalhos mais minimalistas, verdadeiros. Eu ficava tão encantada que sonhava ter uma oportunidade assim um dia. Chegou agora.
OF: De qualquer maneira, você ainda é vista como uma mulher bonita e exuberante. O que é feito para amenizar isso nas cenas da novela?
RG: Eu quase não uso maquiagem. Só passamos o que é preciso para tirar brilho, essas coisas. Antes, eu levava duas horas me arrumando nos trabalhos. Agora, não passo de meia hora. O cabelo está quase sempre preso, nunca de maneira que possa parecer provocante. Eu propus que ficasse mais preso. O figurino todo é sem decote ou saia curta. Não tem nem cintura marcada, fica tudo reto e mais romântico. Até nos gestos eu me controlo, para não transmitir qualquer sensualidade.
OF: Fisicamente, você precisou mudar alguma coisa?
RG: Eu imaginei que seria bom se eu conseguisse mudar meu corpo e diminuir algumas medidas. Consegui perder cinco quilos, o que me deixou com menos curvas. Isso também ajudou na hora da composição e da caracterização.
OF: Você diz que sempre sonhou interpretar uma personagem sem sensualidade e isso acontece agora, aos 41 anos. Na sua opinião, a maturidade hoje é uma aliada na sua carreira?
RG: Sempre gostei da passagem do tempo. Você tem de saber envelhecer e aceitar todas as fases da sua vida. Até porque nada vai ser como antes, nunca. Aceitando as diferenças no corpo e na vida, tudo fica mais rico. Quando você amadurece, não perde mais tanto tempo com as coisas, tem outros valores. As pessoas respeitam mais você no trabalho e como ser humano. Essas quatro décadas me deram uma vivência que se reflete no meu trabalho. O que uso na tela são minhas experiências. Então, quanto mais envelheço, melhor fico como atriz.
OF: Para interpretar a Doralice, você passou por um laboratório intenso de cozinha. Aprendeu a cozinhar?
RG: Tive aulas com uma chef que a produção conseguiu para mim. Como não sabia cozinhar, isso era fundamental. Chamaram a Ana Rita Menegaz, que é a chef do Palácio da Guanabara (residência oficial do governador do Rio de Janeiro). Ela me ensinou a cortar como profissional e eu aprendi. Agora, corto tudo de olhos fechados. Mas é claro que cortei muito o dedo até chegar a esse ponto. E aprendi a fazer moqueca, pastel de santa clara, toucinho do céu, barriga de freira e mousse de frutas vermelhas light ou de goiaba com creme de queijo derretido. Quis aprender mais pela postura, queria saber como me comportar como uma chef de cozinha. Meu desejo era estar impecável e a produção conseguiu a Ana para me ajudar. Fizemos dois meses de treinos. Fiquei bem mais segura, juntando com a experiência de cinco anos de estudos nos Estados Unidos, onde eu estava morando.
OF: Você se arrepende de ter passado tanto tempo fora do Brasil?
RG: De forma alguma. Me valeu muito! Acho que as pessoas vão perceber isso agora. Primeiro, que só de morar fora, vivendo uma cultura diferente e tendo de me virar, já me mudaria. Fiquei cinco anos em Los Angeles e fui para estudar, esse sempre foi o meu objetivo. Está certo que eu não achei que fosse ficar tanto tempo, mas um namoro e os cursos que eu fazia começaram a me empolgar. Tive a oportunidade de estudar com coaches de nomes como Johnny Depp, Jack Nicholson e Halle Berry. Não se joga isso fora.
OF: Foi difícil chegar até essas pessoas?
RG: Quando eu cheguei lá, fiz cursos mais tradicionais, que todo mundo costuma procurar. Mas eu fui com meu trabalho todo documentado e traduzido para o inglês. Levei vídeos com cenas legendadas para ter o que mostrar na hora de tentar vagas em aulas que me interessavam.
OF: Que tipos de cursos você fez?
RG: De vários gêneros e tipos, o que me favoreceu. Lá, eu tinha de fazer as coisas em inglês e a língua diferente já dificulta. Se emocionar e passar emoção em um idioma que não é seu não é mole. Mas isso me fez bem como atriz. Hoje, consigo analisar melhor as cenas que tenho de gravar. Tive aulas de comédia e sitcom, de vilãs, de drama, de filmes de ação, enfim, investi a maior parte do meu tempo nos Estados Unidos na minha formação.
OF: Fazer novelas brasileiras fez com que você fosse bem vista nessas seleções? Nossa dramaturgia tem força entre os profissionais de lá?
RG: Sim, vi que a novela brasileira é mesmo bem aceita fora daqui, é um produto que chama atenção. Hoje, de uma maneira geral, a televisão está bem forte nos Estados Unidos. Antes, havia uma distinção entre cinema e tevê. Mas a programação deles deu um upgrade porque os atores de cinema, agora, estão topando fazer séries. Hoje, os canais americanos estão com nomes que impressionam. Antigamente, as pessoas não viam tanto o que a televisão exibia nos Estados Unidos.
OF: Chegou a tentar trabalhar lá?
RG: Não tentei porque, apesar de até ter vontade, esse nunca foi meu objetivo. Para ter acesso a essas coisas, não é fácil. Tem de ter um agente, assinar contrato, ter um visto de trabalho, enfim, uma burocracia tamanha que não estava com vontade de correr atrás. E não queria começar do zero de novo. Já fiz isso no Brasil e sou bem feliz com as coisas que tenho aqui.
Trajetória Televisiva
# "Despedida de Solteiro" (Globo, 1992) Bianca.
# "Olho no Olho" (Globo, 1993) Pinky.
# "Irmãos Coragem" (Globo, 1995) – Paula.
# "Quem É Você?" (Globo, 1996) – Irina.
# "Malhação" (Globo, 1997) – Luana.
# "Uga Uga" (Globo, 2000) Stella.
# "Bambuluá" (Globo, 2001) – Paula.
# "Malhação" (Globo, 2001) – Flávia.
# "Desejo de Mulher" (Globo, 2002) – Kênia.
# "Da Cor do Pecado" (Globo, 2004) Mariana.
# "Sítio do Picapau Amarelo" (Globo, 2004) – Amorzinho.
# "Alma Gêmea" (Globo, 2005) – Kátia (Anja).
# "Cobras & Lagartos" (Globo, 2006) – Cacá.
# "Eterna Magia" (Globo, 2007) Matilde.
# "Caminho das Índias" (Globo, 2009) – Delegada.
# "Malhação" (Globo, 2010) – Marlene.
# "Avenida Brasil" (Globo, 2012) Nicole.
# "Flor do Caribe" (Globo, 2013) Doralice.
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