Roberta Miranda sobre a situação do Brasil: ‘Tenho ânsia, indignação’

Por - 08/08/17 às 10:12

Divulgação

Roberta Miranda é a maior representante das mulheres na música sertaneja. Tanto que leva o título de Rainha Sertaneja. Em 2015, ela foi eleita como a Melhor Cantora do Ano, no Prêmio da Música Brasileira,

Nascida na Paraíba, única menina numa família de 3 irmãos homens, Roberta apostou em seu talento como cantora e compositora e, logo ao lançar o primeiro álbum que levava seu nome, vendeu  mais de um milhão e meio de discos 

Neste ano, ela comemora seus 30 anos de carreira, lançando CD e DVD que traz no repertório composições próprias inéditas e alguns sucessos consagrados, como Majestade, o Sabiá, São Tantas Coisas, Vá com Deus, entre outras.

OFuxico conseguiu uma brechinha na agitada agenda de shows e divulgação do trabalho da cantora e bateu um papo com Roberta, que contou um pouco sobre as mudanças ocorridas nesses 30 anos de estrada, ,o sucesso nos palcos e nas redes sociais, além de revelar sua indignação em relação à política do nosso país. Confira!

OFuxico – Os Tempos Mudaram é sua nova canção, seu novo trabalho. O que mudou nesses tempos de 30 anos de carreira?

Roberta Miranda: Tudo mudou. Se o calor muda, mudam as estações do ano, de verão a inverno, imagine em 30 anos de carreira! Acredito que posso citar a experiência.  E também ver que hoje tudo é mais fácil em qualquer situação. Hoje é mais confortável começar.

OF: Por quê é mais fácil?

RM: Porque hoje, mesmo nem tendo muito talento, a mídia investe, você tem maior abertura em rádio, TV. Os investidores fazem isso. Eu ralei durante 25 anos para chegar onde estou.

OF: Na época que começou, eram poucas as mulheres que entravam no mundo sertanejo. Você teve muita dificuldade de se adaptar e de mostrar seu talento?

RM: Foi difícil, mas em 2 ou 3 anos já finquei respeito perante todos. Em um ano tive 5 músicas estouradas. No meu tempo, não tinha essa história de enfiara as coisas goela abaixo: ou tinha ou não tinha talento.

OF: Mas em relação à aceitação do público, essa foi imediata, não foi?

RM: Em um ano sim.

OF: Como você classifica as mulheres que hoje vem ganhando espaço nesse estilo sertanejo?

RM: Bom, hoje temos o new sertanejo, uma proposta diferenciada, uma ramificação do sertanejo da minha época, que era Chitãozinho & Xororó, Zezé e Luciano, César Menotti e Fabiano que estão há mais de 30 anos na estrada. Agora temos também o sertanejo universitário, tudo muito diferenciado, então não da para classificar, cada um segue um estilo e uma busca no sertanejo de raiz.

OF: O sertanejo raiz está intrínseco nas canções do novo estilo do sertanejo?

RM: Quem gosta do sertanejo de raiz cria coisas novas com ele. O sertanejo raiz vem numa evolução de respeito, principalmente na poesia. Tem que conhecer Pena Branca e Xavantinho, entre outros, para se envolver nas coisas. E também tem um detalhe: onde tem publico e o público compra, ninguém pode ir contra.

OF: Existe disputa entre as cantoras de sertanejo?

RM: Eu não sei dizer. Por mim, todas terão colo, parceria e não uma concorrente. Se existe entre elas, eu não tempo pra entender, porque finco na minha vida. Digo que a concorrência saudável é válida, mas se a concorrência destrói, aí e falta de caráter.

OF:Quais as coisas que mais te deixam grata nesses 30 anos de estrada?

RM: Meu público, a fidelidade deles. Essa é minha gratidão.

OF: Seu público se renova sempre…

RM: O natural é a renovação de um público. Vejo mães, pais, tios irmãos que indicam aos pequenos a minha música e eles crescem ouvindo, porque já ouvia em casa. A renovação que vejo nas redes sociais é extraordinária.

OF: Você é um dos grandes sucessos nas redes sociais ao postar suas imagens…

RM: Tenho uma pesquisa do próprio Instagram, que meus seguidores de 25 a 35 anos estão em primeiro lugar e os de 18 a 25 anos estão em segundo.

OF: E a que você atribui esse sucesso de seguidores?

RM: Acho que ao meu lado de humor. Meu dia a dia é para poucos. Coloco coisas divertidas, quando não estou trabalhando. A essência é postar coisas serias. Dou broncas pra outras coisas. Não quis fazer uma rede social chata, só com coisas de trabalho. Gosto de ter uma rede com uma pitada de humor, que é  importante na vida e no todo. Muito colega está na vibe de fazer careta, biquinho, posar sem maquiagem,. Gosto de fazer isso quando estou com tempinho livre.

OF: A redes ajudam a mudar algo em nosso país?

RM: Nosso país está vergonhoso. Tenho ânsia, indignação, quando paro pra ver essa bandalheira, essa falta de respeito em relação ao ser humano. Falo como a cidadã Maria Miranda e como artista também, por ser somadora de opinião. É nojento o que estão fazendo com o povo. Já que querem imitar os Estados Unidos em multas, ou quando passam coisas a mais em aeroportos, na cobrança do peso das malas, deviam seguir outros exemplos também. Querem só por dinheiro no bolso, mas não tem respeito. Se lá fora, por exemplo, o presidente aumenta alguma coisa em alguns centavos, o povo vai todo pra rua reivindicar. Aqui não. Eu queria saber o que acontece, porque em algum lugar isso pega. Como explica que você coloca um cara desse no poder e não tem poder de tira-lo de lá?. Porque brasileiro é bonzinho?

OF: Como acha que isso tudo poderia mudar?

RM: Na Bíblia tem uma parte que diz ‘Faça por onde que te ajudarei’. Em que curva está o lixo do rio que não se tira esse povo que você mesmo colocou no poder? Como o cara pega nosso dinheiro, faz conchavo, uma engrenagem absurda, promete casa, coisas, dentro do próprio métier dele pra ser absolvido? Porque não usa o dinheiro para a educação, para o povo que morre nos corredores de hospitais? A culpa é desse mesmo povo. Tenho ânsia, vontade de vomitar. Uma andorinha só não faz verão. Quando povo tomar atitude de parar de se sentir agredido na essência e na dignidade, não terá mais politico ‘fdp’. Imita nisso também, não só nas taxas que outros países usam.

OF:O que te dá saudade dos tempos lá de trás?

RM: Da minha inocência. Eu digo que comeram ela com farinha. Agora sou atenta a tudo pra não levar tantas facadas.

OF: Há ainda um sonho de fazer um dueto com alguém?

RM: Roberto Carlos. Ele está na minha veia.

Roberta Miranda sobre a situação do Brasil: ‘Indignação'

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