Rogéria: ‘Política? Nunca. Somos veados, não somos ladrões’

Por - 05/11/15 às 08:00

Globo/Tata Barreto

Nascido Astolfo Barroso Pinto, com muito orgulho, Rogéria é um verdadeiro monstro de interpretação, sinceridade e verdade em tudo que faz.Foi maquiadora, frequentou o Actors Studio, participou como jurada de vários programas de auditório e esteve em novelas e atrações como Tieta (1989), Desejos de Mulher (2002), A Grande Família (2002), Paraíso Tropical (2002), A Praça é Nossa (200), Pé na Cova (2014), Babilônia (2015), entre outros.

Sem papas na língua, sempre responde na lata tudo aquilo que lhe é perguntado e, em uma entrevista ao site OFuxico, Rogéria falou sobre política, vida pessoal e como anda sua agenda de shows. Confira!

OFuxico – Trabalho não falta na vida de Rogéria, que vive em constante viagem entre Rio de Janeiro, São Paulo…Rogéria: ‘Política? Nunca, nós somos veados, não somos ladrões’

Rogéria – Viajo a São Paulo, participo de dois programas de TV, volto ao Rio de Janeiro para apresentar meus shows. Minha vida está uma delícia, graças a Deus apesar de tantas dificuldades que vivemos. Minha vida está bastante ocupadinha até dezembro e janeiro.  Aliás, janeiro vem coisas novas por aí!

OF –  A agenda de trabalho está cheia pelo visto

R – Graças a Deus, minha filha! Em dezembro tenho até um show agendado no Piauí, terra querida. Estou com a vida bem tumultuada, mas no bom sentido.

OF – Com tantos anos de estrada isso é maravilhoso…

R –  Sim, é! Vejo aí tantos artistas que estouram e dez anos depois, às vezes nem isso, somem, não se houve mais falar.

OF – Quem tem chamado Rogéria para shows e mais trabalhos?

R – Muitas casas de shows. Mas também, sem me esquecer da parte social, muito importante.

OF –  Como assim?

R– Desde que comecei minha carreira, sempre, sempre, sempre doei meu trabalho em determinados lugares.  Seja para velhinhos, seja em prol de instituições que cuidam de pessoas com HIV, enfim, sempre dou um tempo do meu trabalho, me dedico sem cobrar nenhum tostão.

OF –  Mas há um pagamento para isso, não é?

R – Com certeza, meu amor! O que recebo de retorno em amor, em satisfação de ver aqueles sorrisos estampados no rosto de cada um que me olha, me respeita, respeita meu trabalho, não há dinheiro no mundo que pague. Em cima dos meus 72, quase 73 anos, me orgulho de ter sempre feito shows beneficentes em todos os lugares do Brasil.

OF – Qual o mais recente que fez e qual o retorno?

R – Foi em Madureira para senhoras. Ai, amadas senhorinhas!! Uma delas me olhou bem nos olhos e disse ‘Filha, você ainda tem peru?’, depois de uma enorme gargalhada, disse a ela que sou Astolfo Barroso Pinto e continuo com ele. Foi muito divertido.

OF –  A propósito, sobre esse assunto, você nunca pensou em fazer a cirurgia para mudar totalmente de sexo?

R – Nem pensar.  Estou bem sendo o que sou. Amo ser Astolfo Barroso Pinto, a dona Rogéria. Astolfo era o nome do meu avô, minha mãe me pariu em Cantagalo e fui tirada a fórceps. Quando me visto de mulher, sempre sou o Astolfo, que é gay, pois tem uma mulher na cabeça. Quando  me visto de Rogéria,  sou performance. Sou mulher quando acordo e de acordo com o que ouço. Se um homem disser no meu ouvido ‘Você é linda’, claro, terá minha reação feminina. Mas não penso em cirurgia para retirar nada.

OF – O que acha de quem opta pela cirurgia?

R – Acho que cada um tem sua vontade, sua opção e ponto. Nada de polêmicas, cada um tem a vida da maneira como entende que é e como quer. Não vou querer empatar a vida dos outros. Existem transexuais muito bem resolvidos.

OF – A única coisa que mudou foi o peito, não é?

R– Sim, mas isso foi em 1972, em Genebra. Nada de silicone. Lá, com um especialista profissional, tomei 3 injeções de hormônio e fiquei com o peito do tamanho que queria. E só.

OF – Rogéria não pensa em entrar para a política?

R – Política? Deus me livre, nunca, nem pensar. Somos veados não somos ladrões. Precisamos mesmo é cuidar do Brasil, dar mais estudos, e tirar gente que rouba do governo. Isso me dá tristeza. Pode olhar, não há nenhum trans no governo, porque não somos ladrões. Isso tudo é uma vergonha.  Fui convidada nos anos 70, não quis, não quero me  misturar. Não se tem escola pública decente, só vemos por aí crimes, roubos. Vergonhoso.

OF – A Rogéria pode ser definida como?

R – Como tudo!. Do Astolfo passa pelo traveco, pelo transexual , transgênero, tudo. Nado em todas essas praias. Transito inclusive pela área da mulher. Amo ser Astolfo e ser Rogéria.

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