Sabrina Sato revela sentimento de impotência no caso Klara Castanho: ‘Até quando vamos continuar assim?’
Por Redação - 28/06/22 às 10:50
Na segunda-feira, 27 de junho, Sabrina Sato foi a convidada do “Papo de Segunda” e conversou com os apresentadores João Vicente de Castro (seu ex). Emicida e Fábio Porchat, na GNT.
O primeiro tema que Sato quis comentar foi o caso de Klara Castanho. Ela afirmou que teve um verdadeiro nó na garganta quando leu o relato emocionante da atriz, sobre estupro, parto e entrega do bebê para adoção.
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Sabrina falou que chegou escrever um texto para Castanho, sobre sua coragem, mas acabou não publicando.
“Me deu um nó, uma vontade de gritar. Foi uma sensação de impotência mesmo. No relato dela, ela conta que foi violentada pelo estuprador, depois pela imprensa, pela enfermeira e pelo médico. Até quando nós vamos continuar assim?”, disse Sabrina.
Fábio Porchat se solidarizou com a atriz: “A gente quer se solidarizar com a atriz Klara Castanho, que viu sua tragédia pessoal parar, por causa de uma fofoca, no tribunal da internet. Ela veio à público esclarecer que entregou a criança para adoção responsável. Além da violência física, ela continuou sendo exposta. A gente que a viu crescendo na TV sabe agora que ela é imensa de um jeito que não imaginávamos.”
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Porchat questionou Sato sobre como reagiu à exposição de Klara.
“Tudo o que diz respeito ao nosso corpo vai para a opinião pública. Eu até escrevi, mas acabei não postando para ela: que ninguém mais se sinta confortável para expor a privacidade dos outros nem julgar e o sofrimento que não viveram. É preciso respeitar a intimidade”, respondeu.
AMIGAS QUE PASSARAM PELO TERROR
Sabrina revelou que conversou com algumas amigas que já foram vítimas de assédio, assim como Klara: “Estamos caladas há muito tempo. A gente tem que se unir. Por que dos homens não falam nada? A mulher dar o filho para a adoção todo mundo quer está lá, mas com o homem nada. Por que¿”.
João Vicente de Castro falou que há tempos a mulher sofre e os casos são muito amplos.
“Se abortar, ela é assassina. Se entregar para adoção, é desnaturada. Não há saída a não ser se comportar como uma dona de casa, que respeita tudo o que o marido fala e calada. O negócio da Klara é que ela não teve a oportunidade de sofrer o maior trauma da vida dela em paz, o que já é uma violência brutal. Ela ainda teve que escrever uma carta para se defender, porque além do estupro, ainda estava sendo julgada na internet”, disse Porchat.
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PAPEL DA IMPRENSA
Emicida foi além e falou sobre a responsabilidade e o papel da mídia nesse caso.
“O que foi feito foi desumano. É importante falar que foi criminosa a forma como essa garota foi exposta. Que vergonha desses veículos que criaram essa ebulição em torno de um trauma sem nenhuma sensibilidade.”
ENTENDA O CASO
Tanto o jornalista quanto a bolsonarista, candidata a deputada federal, criticaram e ajudaram a expor Klara Castanho. Em entrevista exibida no programa “The Noite”, no último dia 16 de junho no SBT, Leo Dias afirmou ter uma informação “inacreditável” acerca de uma atriz, chegando a declarar que a “conta” dela iria chegar, já que o caso “envolvia vidas”.
Antônia, por sua vez, declarou em uma live que uma atriz global de 21 anos teria engravidado e doado o bebê para adoção: “Ela não quis olhar para o rosto da criança”, disse a loira.
Mesmo sem citar o nome de Klara, os internautas rapidamente associaram as declarações à atriz, e começaram a atacá-la.
CARTA ABERTA
Diante da onda crescente de ódio e mentiras sobre o caso, Klara Castanho sentiu a necessidade de compartilhar o que realmente havia acontecido. A atriz surpreendeu ao fazer uma carta aberta contando que foi vítima de um estupro, algo que resultou em uma gravidez indesejada há algum tempo. Além disso, Klara revelou que não fez o aborto e, após o parto, entregou o bebê à adoção.
Confira o relato de Klara Castanho, em carta aberta, na íntegra!
“Esse é o relato mais difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo. Sempre mantive a minha vida afetiva privada, assim, expô-la desse maneira é algo que me apavora e remexe dores profundas e recentes. No entanto, não posso silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e de um trauma que sofri. Fui estuprada. Relembrar esse episódio traz uma sensação de morte, porque algo morreu em mim. Não estava na minha cidade, não estava perto da minha família nem dos meus amigos.
Estava completamente sozinha. Não, eu não fiz boletim de ocorrência. Tive muita vergonha, me senti culpada. Tive a ilusão de que se eu fingisse que isso não aconteceu, talvez eu esquecesse, superasse. Mas não foi o que aconteceu. As únicas coisas que tive forças para fazer foram: tomar a pílula do dia seguinte e fazer alguns exames. E tentei, na medida do possível e da minha frágil capacidade emocional, seguir adiante, me manter focada na minha família e no meu trabalho. Mas mesmo tentando levar uma vida normal, os danos da violência me acompanharam. Deixei de dormir, deixei de confiar nas pessoas, deixei uma sombra apoderar-se de mim.
Uma tristeza infinita que eu nunca tinha sentido antes. As redes sociais são uma ilusão e deixei lá a ilusão de que a vida estava ok enquanto eu estava despedaçada. Somente a minha família sabia o que tinha acontecido. Os fatos até aqui são suficientes para me machucar, mas eles não param por aqui. Meses depois, eu comecei a passar mal, ter mal-estar. Um médico sinalizou que poderia ser uma gastrite, uma hérnia estrangulada, um mioma. Fiz uma tomografia e, no meio dela, o exame foi interrompido às pressas”, ainda escreveu a atriz.
Fui informada que eu gerava um feto no meu útero. Sim, eu estava quase no término da gestação quando soube. Foi um choque. Meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Eu não tinha ganhado peso e nem barriga. Naquele momento do exame, me senti novamente violada, novamente culpada. Em uma consulta médica contei ter sido estuprada, expliquei tudo o que aconteceu. O médico não teve empatia por mim. Eu não era uma mulher que estava grávida por vontade e desejo, eu tinha sofrido uma violência.
E mesmo assim esse profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo. Essa foi mais uma da série de violências que aconteceram comigo. Gostaria que tivesse parado por aí, mas, infelizmente, não foi isso o que aconteceu. Eu ainda estava tentando juntar os cacos quando tive que lidar com a informação de ter um bebê. Um bebê fruto de uma violência que me destruiu como mulher. Eu não tinha (e não tenho) condições emocionais de dar para essa criança o amor, o cuidado e tudo o que ela merece ter. Entre o momento que eu soube da gravidez e o parto se passaram poucos dias. Era demais para processar, para aceitar e tomei a atitude que eu considero mais digna e humana.
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No dia em que a criança nasceu, eu, ainda anestesiada do pós-parto, fui abordada por uma enfermeira que estava na sala de cirurgia. Ela fez perguntas e ameaçou: ‘Imagina se tal colunista descobre essa história’. Eu estava dentro de um hospital, um lugar que era para supostamente para me acolher e proteger. Quando cheguei no quarto já havia mensagens do colunista, com todas as informações. Ele só não sabia do estupro. Eu ainda estava sob o efeito da anestesia. Eu não tive tempo de processar tudo aquilo que estava vivendo, de entender, tamanha era a dor que eu estava sentindo. Eu conversei com ele, expliquei tudo o que tinha me acontecido. Ele prometeu não publicar. Um outro colunista também me procurou dias depois querendo saber se eu estava grávida e eu falei com ele”.
Mas apenas o fato de eles saberem, mostra que os profissionais que deveriam ter me protegido em um momento de extrema dor vulnerabilidade, que têm a obrigação legal de respeitar o sigilo da entrega, não foram éticos, nem tiveram respeito por mim e nem pela criança. Bom, agora, a notícia se tornou pública, e com ela vieram mil informações erradas e ilações mentirosas e cruéis.
Vocês não têm noção da dor que eu sinto. Tudo o que fiz foi pensando em resguardar a vida e o futuro da criança. Cada passo está documentado e de acordo com a lei. A criança merece ser criada por uma família amorosa, devidamente habilitada à adoção, que não tenha as lembranças de um fato tão traumático. E ela não precisa saber que foi resultado de uma violência tão cruel. Como mulher, eu fui violentada primeiramente por um homem e, agora, sou reiteradamente violentada por tantas outras pessoas que me julgam. Ter que me pronunciar sobre um assunto tão íntimo e doloroso me faz ter que continuar vivendo essa angústia que carrego todos os dias.
A verdade é dura, mas essa é a história real. Essa é a dor que me dilacera. No momento, eu estou amparada pela minha família e cuidando da minha saúde mental e física. Minha história se tornar pública não foi um desejo meu, mas espero que, ao menos, tudo o que me aconteceu sirva para que mulheres e meninas não se sintam culpadas ou envergonhadas pelas violências que elas sofrem. Entregar uma criança em adoção não é um crime, é um ato supremo de cuidado. Eu vou tentar me reconstruir, e conto com a compreensão de vocês para me ajudar a manter a privacidade que o momento exige. Com carinho, Klara Castanho”, finalizou.
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