“Sempre dei a minha cara a tapa”, diz Christina Rocha
Por Redação - 10/04/13 às 15:03
Christina Rocha é uma mulher sem papas na língua. Polêmica, autêntica e verdadeira, a apresentadora faz a alegria dos telespectadores do SBT com o Casos de Família, programa que promove debate, brigas, humor e traz à tona os problemas reais da vida de pessoas comuns.
Com mais de 30 anos de carreira, a loira se permite falar sério, rezar, desmaiar no palco, brincar e também protagonizar alguns barracos. Recentemente, expulsou uma mãe que disse que, se pudesse, mataria os filhos em função do marido. E também um homem que admitiu bater na mulher. Casos que, para ela, são inadmissíveis.
Em entrevista a O Fuxico, Christina Rocha fala sobre família, críticas, barraco, violência doméstica, filho gay e vida pessoal.
O Fuxico: Você é conhecida na tevê por sua personalidade forte e por se envolver nas histórias dos convidados. Na vida particular, você também é assim?
Christina Rocha: Sou completamente emoção e sou deste jeito desde pequena. Não sei ser meio termo, imparcial, ficar em cima do muro. E isso é em todos os sentidos da minha vida. Se eu sou amiga, serei amiga até a morte. Se eu ver alguma injustiça, eu entro no meio. É uma característica minha independente da minha profissão. É claro que, se for exigida determinada postura, mesmo que seja mais séria, eu vou me dedicar para seguir. Mas, no Casos de Família, o Silvio me convidou justamente porque sabe que sempre dei a minha cara a tapa, para bater.
OF: De 2004 a 2009, o Casos era exibido com uma versão soft e sem barracos por Regina Volpato. Quando foi convidada para assumir, ficou com medo de ser criticada pela versão mais apimentada?
CR: Vi a Regina duas vezes, conversamos e ela é um amor. Mas não assisti o Casos de Família antes, nem sabia que existia. Quando me chamaram para os pilotos, já disseram que era outro programa, com outra direção. A diferença é que a apresentadora deixou de ser apenas uma ouvinte. Hoje, fico em pé, a plateia fala comigo a hora que quiser e o palco é como a sala da casa. Não senti medo porque são dois programas que, apesar de falarem sobre a família, são diferentes.
OF: É o tipo de programa que você gosta de fazer? Se pudesse escolher o formato de um novo programa, qual seria?
CR: Tenho a honra de ser uma apresentadora popular, de ter nascido em uma emissora popular. Fiz o Povo na TV, o Aqui Agora, e estou adorando apresentar os Casos. Gosto de programa com plateia, sempre amei, porque me faz crescer. Recentemente estive no Quem Convence Ganha Mais, que sinceramente é muito parecido com o Casos de Família, diferença zero. É na verdade o primo rico, que dá prêmio para quem vai. Se eu sair do Casos de Família, gostaria de continuar com a comunicação para o povo.
OF: O que diria para quem fala que o programa é armado?
CR:Sou jornalista e, se fosse, eu ficaria bem quietinha, chegaria a uma entrevista como esta e desconversaria. Mas é claro que o programa não é armado. Eu jamais seria uma palhaça de ficar me exaltando na televisão por causa de dinheiro, não tenho estômago e nem me prestaria a um papel desses. Sou verdadeira e me irrito quando duvidam da credibilidade do programa. É um programa sério, feito por profissionais e estagiários competentes.
OF: Chegou a assistir ao vídeo que caiu na internet, em que você expulsa a mãe barraqueira no programa? O que achou da repercussão?
CR: É engraçado… As pessoas dizem que é armado, daí quando acontecesse um casos desses dizem que eu me exaltei (risos). Assisti, claro. Fiquei assustada porque não imaginava essa repercussão toda. Acho que poderia ter pensado um pouco mais, me exaltado menos, mas não me arrependo de nada que falei. Não admiti que aquela mãe dissesse que, se pudesse, mataria os filhos para ficar tranquila com o companheiro. Tenho horror a esse tipo de coisa, abomino. Sou mãe, mulher, ser humano e viro uma fera. Ela merecia ouvir tudo aquilo e o público ficou do meu lado.
OF: Em outro programa, você expulsou um homem que admitiu bater na mulher, que sequer cogitava sair de casa. Por que as mulheres ainda se submetem a esse tipo de relação em pleno século 21?
CR: Na hora, eu fico com um misto de raiva, por ela se submeter a isso, e pena, por ela passar por isso. Mas fico muito triste, porque a gente faz o programa, a mulher vai embora e certamente vai apanhar de novo. A doutora Anahy (D'amico, psicóloga do programa) diz que as pessoas que cometem e sofrem com a violência doméstica nasceram e cresceram vendo a mãe sendo massacrada pelo pai. Pela criação, eles acham normal bater na mulher, e as próprias mulheres acham normal apanharem. Hoje em dia, muitas mulheres aguentam porque não tem para onde ir, não tem dinheiro, estão com muitos filhos, nem sabem o que fazer… A Lei Maria da Penha precisa melhorar muito, porque ela denuncia o marido, mas pouca coisa é feita. O que eu faço no programa não é solucionar, é alertar: “Cuidado com quem você está namorando, o cara que começa a ser agressivo, abre o olho…”
OF: Apesar das brigas, o Casos também provoca muitas risadas nos convidados e nos telespectadores. As brincadeiras de ajoelhar, rezar e até “desmaiar” diante de um convidado mais desbocado foram propostas por você?
CR: Tenho um lado engraçado, sou espirituosa, venho de uma família de seis mulheres divertidas. A brincadeira de rezar é algo que eu faço em minha casa. Quando alguém fala algo muito cabeludo, eu boto todo mundo para ajoelhar e falo para fazer uma oração (risos). Eu, os convidados e os telespectadores nos divertimos… Tudo é criado na hora.
OF: Quais são os casos preferidos?
CR: Quem não se lembra da menina do “naite bruique”, que foi comprar um notebook e confundiu os nomes? (risos) Me divirto com as mulheres que não são tão bonitas, mas se acham maravilhosas, mostram o corpo e dizem que todas as outras sentem inveja (risos). Das mulheres que sabem exatamente que os maridos não vale nada, mas afirmam que gostam deles. Sabe, a gente reclama de tanta coisa, mas existem pessoas que fazem de um limão, uma limonada. São felizes do jeito que são.
OF: Você tem algum contato com os participantes depois dos casos?
CR: Não tenho, mas gostaria de saber o que aconteceu com eles… Às vezes um chega e diz “A tal finalmente separou do marido” ou “O outro continua do mesmo jeito” (risos). Mas eu gostaria de rever algumas pessoas, sim. Não para saber se solucionou – porque a gente não faz o programa para resolver problema, é para debater e servir de exemplo para quem está em casa – mas pela curiosidade de saber como ele lidou com o seu problema.
OF: A presença de gays e lésbicas em seu programa é forte. Como reagiria se tivesse um filho gay?
CR: Aceitaria numa boa. É claro que ficaria triste e chocada em um primeiro momento, porque mãe é preparada para assistir o casamento do filho com mulher, mas tenho horror à discriminação e morro de amor pelos meus filhos. Se ele aos 25 anos chegar e disser que é gay, eu perguntaria: “Você é feliz?”, pois é isso que importa. Ficaria com ele até o fim, aceitaria e viraria uma leoa se alguém viesse falar mal dele. Aceitaria o namorado, tudo e o amaria com todo o amor de uma mãe que respeita demais o seu filho.
OF: O programa trouxe algum aprendizado para a sua vida?
CR: Aprendo muito, pois é um laboratório. Vejo que tem tanta gente que tem tudo, dinheiro, carros, apartamentos, mas não é feliz. E tem gente que não tem dinheiro, não tem uma casa maravilhosa, mas faz um churrasquinho gostoso na laje e está sempre sorrindo. Aprendi que não importa qual problema temos, é possível levar uma vida feliz, com momentos de felicidade.
OF: O que ninguém sabe sobre você? Como é a Christina fora da tevê?
CR: Ai, eu adoro ficar em casa, sou muito caseira. Adoro esporte, andar à cavalo… É verdade, eu monto, participo do campeonato brasileiro! Adoro assistir televisão, ver biografias, estar com amigos e adoro bichos. Mas se quiser me ver feliz é me levar para o mato, ficar em uma montanha, olhando a natureza… Admito que também sou meio porra-loca e topo tudo. Se me chamar para assistir um filme, eu aceito. Se quiser me chamar para uma balada GLS, eu vou. Sou bem geminiana.
OF: Daria alguma mensagens para os seus fãs superarem os próprios casos de família?
CR: Olha, não sou de ficar chorando, me fazendo de coitada, eu sempre penso positivo. Meus pais eram muito fortes e me ensinaram que, independente de qualquer obstáculo, temos que ser fortes. Já passei por muita coisa e não vejo nada como derrota. A peteca pode cair, mas calma… Ainda tem muita coisa pra acontecer. É importante ir atrás, sacodir tudo, saber que se está ruim hoje, amanhã pode ser melhor. Se não deu certo, é porque não tinha que dar. Mas não desista, tem muita coisa por vir ainda. Este é o meu lema.
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