Sérgio Chapelin: “Me sinto um sobrevivente por ainda estar no ar”

Por - 25/08/12 às 09:45

Jorge Rodrigues Jorge / Carta Z Noticias

A voz límpida e a postura firme de Sérgio Chapelin ocultam seus 71 anos de idade e 40 na tevê. Fluente e sem grandes doses de nostalgia, ele reage com simpatia e surpresa ao ser questionado sobre suas quatro décadas de televisão, completadas este ano.

"Me sinto um sobrevivente por ainda estar no ar. Muitos acham que eu já deveria ter me aposentado. Mas isso é uma decisão que só compete a mim e à emissora. Quando ela quiser, vai me avisar. Quando eu sentir necessidade, peço para sair", argumenta, entre risos, o apresentador do "Globo Repórter".

Natural de Valença, sul-fluminense, a carreira de Sérgio começou na Rádio Clube da cidade. Amparado pela boa voz, aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como locutor em grandes estações da época, como a Rádio Nacional e a Rádio Jornal do Brasil.

"Foi onde aprendi a falar as notícias de forma correta. Essa segurança foi importante na hora de encarar as câmaras", conta Sérgio, que teve sua primeira experiência na tevê em 1972, no Jornal Hoje.

Com passagem por jornalísticos como Fantástico, Jornal da Globo e Globo Repórter – ele já comandou o programa em três fases: de  1973 a 1983, de 1986 a 1989, e de 1996 até os dias atuais , Sergio se tornou conhecido nacionalmente pelos quase 20 anos em que esteve, ao lado de Cid Moreira, na bancada do Jornal Nacional. Com sua carreira televisiva quase toda na Globo, ele lembra com bom humor sua rápida passagem pelo SBT, onde apresentou o programa de variedades Show Sem Limites, de 1983 a 1984.

"Estava fazendo a mesma coisa há muito tempo. Aí me apareceu o Silvio Santos com um salário tentador. No entanto, não foi uma experiência legal. Sem brigas, pedi para voltar aos noticiários globais", relembra.

O Fuxico: Este ano você completa 40 anos de carreira na tevê. O que o motiva a continuar no comando do "Globo Repórter"?

Sérgio Chapelin: Tenho um contrato a cumprir (risos). Confesso que, pela minha idade, o corpo já demonstra alguns sinais de cansaço. Mas, na verdade, aliado ao respeito a esse vínculo empregatício com a Globo, eu também gosto muito do que faço. E essa paixão me dá forças para sair da minha casa, no interior de Minas Gerais, e vir toda semana ao Rio de Janeiro gravar o Globo Repórter. Tenho uma excelente relação com todos na produção e por ser um programa semanal, me garante um esquema de trabalho muito tranquilo.

OF:  Apesar de atuar como apresentador, você é do tipo que sugere pautas ou se envolve no desenvolvimento das matérias do programa?

SC:  Eu confio demais nos repórteres, redatores e produtores do "Globo Repórter". Em alguns momentos, na hora de gravar, dou apenas uma leve modificada no roteiro e só. Nas reportagens, tenho até tido uma participação bem mais ativa em programas especiais. Fiz algumas viagens no projeto dos biomas brasileiros, também entrevistei alguns nomes para o programa em homenagem aos 60 anos da telenovela. Quando o assunto me instiga, sinto muito prazer em ter uma participação mais efetiva, como foi também o caso da edição sobre a história dos trens do Brasil.

OF: Você foi o primeiro apresentador do "Globo Repórter". Como avalia as mudanças no programa ao longo dos anos?

SC:  Assim como todos os programas de televisão, ele foi se adequando ao surgimento de novas tecnologias e novas linguagens de mídia. É essencial dizer que é um programa que deu certo, muitas coisas entraram e saíram da grade da emissora ao longo desses anos. No início, ele tinha um caráter mais artístico, muito influenciado pelo cinema documental. Depois passou a ter uma "pegada" mais investigativa e aventureira, extremamente factual. Hoje em dia, o "Globo Repórter" tenta unir tudo de melhor que já foi feito, mas com um apelo ao entretenimento e de olho na internet.

OF: Como assim?

SC:  As pessoas hoje assistem ao programa enquanto navegam por seus computadores e celulares. Eu não tenho nenhum domínio sobre esses objetos (risos), mas sei das modificações que eles causaram na tevê. Enquanto o programa está no ar, chovem críticas, elogios e sugestões, que são devidamente analisadas, para adequar o formato ao telespectador. A televisão, como um todo, deixou de fazer programas para um público passivo. Essa interação modificou tudo: texto, enquadramento de câmara, ilustrações, apresentação. É tudo muito mais informal.

OF: Sua origem é o rádio, mas foi na televisão que sua carreira se desenvolveu. Qual a importância da tevê na sua trajetória?

SC:  É total. Me tornei conhecido de todos os brasileiros assim que entrei para o "Jornal Nacional". Além disso, apresentei os jornais mais importantes da emissora. Conheci várias pessoas ao longo desses anos, fiz algumas amizades e passei momentos muito marcantes a frente desses telejornais. Eu e Cid (Moreira) não estávamos na reportagem, mas éramos o ponto de encontro entre o telespectador e a notícia. Da bancada do "JN", vimos a televisão e o mundo mudar. Fico feliz de fazer parte disso.

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