Síndrome de Silvana: quando um hobby se transforma em vício

Por - 09/01/21 às 10:10 - Última Atualização: 6 abril 2021

TV Globo/Estevam Avellar

Se você acompanha os capítulos da reprise de A Força do Querer, já notou o martírio que é a vida de Silvana, arquiteta vivida pela brilhante atriz Lilia Cabral.

A personagem é bem sucedida profissionalmente, tem um marido super apaixonado e a única filha torce por sua felicidade, mas sempre atenta aos mínimos detalhes do cotidiano da mãe.  

Contudo, esta mulher tão esclarecida e dona de uma inteligência ímpar no trabalho, deixou-se sucumbir pela jogatina. O que antes era um simples hobby, que lhe proporcionava prazer, transformou-se em um terrível vício que já a colocou nas piores enroscadas.

Em alguns desses complexos episódios, a cunhada de Eugênio (Dan Stulbach) fugiu da policia, machucando as pernas ao pular de um muro do cassino. Além das inúmeras mentiras que já contou ao seu parceiro de vida.

Na semana passada, depois de perder todo seu dinheiro no carteado, em um lugar mega perigoso, ficou devendo 30 mil reais ao dono do estabelecimento clandestino, e sem ter como quitar a considerável cifra, foi mantida em cativeiro, no próprio espaço. Se não fosse a interferência da amiga Bibi Perigosa (Juliana Paes), a patroa de Dita (Karla Karenina) talvez não estivesse nem viva para contar a história…

A família inteira sofre com as consequências do vício de Silvana

A Força do Querer: Silvana é impedida de sair de cassino

Palavra do especialista

Para entender melhor sobre a doença que acomete Silvana na ficção – representando por meio da arte, a dura realidade de muitas pessoas, OFuxico entrevistou a Psicóloga Veruska Ghendov, que nos detalhou pontos importantes do problema que reflete em muitas famílias.

Confira!

 

OFuxico: Como identificar quando um simples hobby se transforma em vício?

Veruska Ghendov: Todos nós temos comportamentos habituais que ditam a nossa rotina diária, e são elaborados pelo nosso estilo e forma de ser e agir, que variam para cada indivíduo mediante sua personalidade. Quando nosso comportamento habitual começa a apresentar modificações e apresentam mais intensidade, descontroles, compulsividade é importante perceber o sinal de alerta. Quando pensamos nos vícios em jogos, a mudança comportamental se faz presente por meio de sinais de descontroles dos impulsos emocionais, que passam a focar o prazer, proporcionando uma espécie de recompensa emocional ao jogar, comportamento esse que leva os viciados em jogos a buscar a satisfação, algo que se torna constantemente. O ato de jogar para quem apresenta este vício, desenvolve no cérebro um aumento de hormônios de prazer, ocasionando um imenso ciclo vicioso criado pela realização dos seus impulsos, vontades e desejos despertados por tal ato. Esse sinal de descontrole é o maior alerta que cada um de nós precisa ter, quando percebemos que perdemos nossa percepção de si juntamente com os nossos próprios impulsos.

OF: De que forma o cérebro entende esse processo?

VG: É importante salientar que a mesma área do cérebro que proporciona prazer, com as coisas boas, podem por outro lado também proporcionar pelas coisas que são consideradas ruins, por isso a importância de ficar atento aos sinais emitidos pelas ações. Vale ressaltar que em se tratando de entretenimento, diversões, hobbys, distrações, que estimulam no ser humano prazer e dependendo da forma como as pessoas lidam com essas satisfações, por se tratar de sistemas de recompensa emocional, podem se tornar vícios intensos, compulsivos e obsessivos.

OF: Quais são os sintomas de que a pessoa está trilhando um caminho sem volta?

VG: Quando existem sinais de comportamentos obsessivos, impulsivos de descontrole que começam a se tornar cada vez mais constantes, a frequência pela busca dos vícios começa aumentar muito, o que significa que a pessoa está entrando no ciclo de adoecimento mental proporcionando alterações emocionais como agressividade, irritação, ansiedade, estresse agudo, aumento dos conflitos familiares gerados pelo vício, as mentiras que envolvem o vício patológico e isolamento. Assim como sinais fisiológicos como alterações no sono, memória, falhas no raciocínio lógico, e prejuízos financeiros, visto que a maioria dos jogos envolvem dinheiro, causando um verdadeiro caos financeiro tanto pessoal quanto familiar. E prejuízos sociais, na perda de amigos, vivendo desta forma uma vida de solidão, se não se cuidar para evitar tudo isso.

OF: No caso de Silvana, ela é uma arquiteta de sucesso, tem um marido amoroso, uma filha carinhosa, contudo, se viciou no jogo de forma compulsiva. Porém, ela não se considera uma viciada. O que fazer nesses casos?

VG: É importante para que todos entendam que o vício é um processo desenvolvido internamente, a personagem Silvana mostra exatamente como essa situação ocorre, externamente ela vive uma vida social, familiar e profissional estabilizada, cercada de afeto e boas condições. Porém, internamente, não consegue controlar seus impulsos, mesmo não se considerando viciada em jogos, ela mantém uma alta frequência de descontrole de seus impulsos buscando cada vez mais pelo seu vício em jogar. A personagem também mostra o caminho da degradação e adoecimento, que é exatamente como ocorre nesses casos, onde o vício pelo jogo ocasiona a destruição financeira, familiar, social e principalmente pessoal.

OF: Como família e amigos podem ajudar?

VG: Nesses casos é muito importante que a família perceba o que está acontecendo com o seu ente querido, e que busque agir o quanto antes, visto que o viciado não apresenta condições de sair sozinho desta situação. O paciente precisa perceber seus pontos de descontroles, suas sequelas e perdas, para que com ajuda possa mudar esta história. O exemplo da personagem Silvana nos mostra claramente que perdas agudas vão acontecer se a rotina comportamental não for modificada, e só uma família que ama e busca o melhor pode proporcionam esse apoio pela busca de profissionais especializados, para vencer esse vício tão destruidor de vidas e de sonhos. Qual é o vício que escraviza a sua vida? Que tal mudar essa história?

Sobre a fonte

Psicóloga Veruska Ghendov (@draveruska)

Veruska Ghendov é Psicóloga Clínica (CRP: 06/ 59039).

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Youtube: Veruska Ghendov

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