Sophie Charlotte se sente tranquila por dividir posto de protagonista
Por Redação - 06/05/13 às 11:48
Experimentar o posto de protagonista na tevê é algo que Sophie Charlotte já vivenciou quando encabeçou o elenco de Malhação no final de 2007. Mas agora, sendo escalada pela primeira vez em um dos papéis centrais de uma novela, a atriz reconhece que a oportunidade veio com certa zona de conforto. Na pele da deslumbrada Amora de Sangue Bom, Sophie divide com outros cinco colegas a responsabilidade de movimentar a trama central do folhetim de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari: Marco Pigossi, que vive o florista Bento, Fernanda Vasconcellos, que interpreta a engajada Malu, Humberto Carrão, que encarna o revoltado Fabinho, Isabelle Drummond, que dá vida à invocada Giane, e Jayme Matarazzo, o engomadinho Maurício.
"Isso fortalece. Dividimos a parte boa e também a parte dos riscos. É mais gostoso e dá uma tranquilidade saber que um pode salvar o outro caso alguém se perca no meio", avalia.
Na história, Amanda é uma ex-menina de rua que foi para um orfanato criança, sendo adotada um ano depois por uma atriz que a transforma em uma celebridade. Com isso, seus valores se invertem e, em uma espécie de autodefesa, passa a abominar tudo que faz parte do universo de seu passado.
"Torço para que a gente veja uma história de redenção através da Amora. Alguns a veem como vilã, mas não há maldade ali. É só um meio de se proteger", defende.
Talento importado
A pele morena e a fala simpática fazem Sophie Charlotte passar fácil por carioca. Mas a atriz nem brasileira é. Sophie nasceu na Alemanha em 1989 e se mudou para o Brasil apenas aos 9 anos. Filha de pai brasileiro e mãe alemã, aprendeu português bem pequena, assim que começou a falar. Depois, se naturalizou brasileira. Mesmo assim, no início da carreira, precisou de ajuda profissional para eliminar o sotaque "gringo". Um exercício que deu certo, já que hoje fica imperceptível deduzir sua origem durante mais de meia hora de conversa. Algo que, na época em que viveu a romântica Angelina de "Malhação", ficava mais evidente.
"Mudei muito de lá para cá. Fiz trabalhos que me ajudaram demais e que foram fundamentais para que eu chegasse onde estou. Hoje, me sinto um pouco mais madura", avalia.
A boa safra de personagens na tevê – de 2008 para cá, Sophie já fez Caras & Bocas, Ti-Ti-Ti e Fina Estampa, além de protagonizar um episódio do seriado As Brasileiras – tem sabor especial para a atriz. Antes de conquistar o posto de mocinha de Malhação, ela fez testes ao longo de seis anos para o folhetim infantojuvenil. Não chegou a desistir da carreira principalmente porque, em 2006, conseguiu uma vaga no elenco de apoio de "Páginas da Vida", interpretando uma amiga da bulímica Gisele, de Pérola Faria.
"Tudo que a gente consegue fácil pode se perder da mesma forma. Dei passos do tamanho das minhas pernas. Não adianta querer mais do que a gente pode fazer. No meu caso, as coisas aconteceram no tempo certo", filosofa.
Jogo de aparência
Uma das preocupações de Sophie na hora de construir Amora foi com o visual da apresentadora de tevê. É que algumas referências de jovens que ditam tendências de moda são de pessoas que exageram um pouco nas roupas e acessórios. O que, no caso da personagem, poderia ficar caricato demais em cena.
"Muitas meninas se vestem como se estivessem em um desfile o tempo todo, com neon dos pés à cabeça. Na novela, adotamos um 'look' que eu denomino como o que não 'espanta bofe'. É o tipo de traje que nenhum homem vai ter vergonha de ver na namorada", explica.
Responsável pela caracterização dos personagens, Fernando Torquatto sugeriu um corte curto para a atriz, que sempre atuou com os fios longos. Uma mudança com a qual, aos poucos, Sophie vai se acostumando.
"Às vezes, me vejo no espelho e não me reconheço. Mas essa cara encaixou demais nesse papel, achei o resultado excelente", conta.
O Fuxico: Em Sangue Bom, você interpreta uma "it girl". Que preparação esse tipo de personagem demanda?
Sophie Charlotte: Eu costumo dizer que, enquanto a Fernanda Vasconcellos foi para as ONGs fazer trabalho voluntário, eu entrei na internet. Li textos e vi vídeos de várias dessas garotas que ditam tendências nos meios de comunicação. Hoje em dia, sigo várias nas redes sociais, estou ficando bem antenada nesse meio. É legal porque esse foco excessivo na aparência contrasta bastante com a pegada social que a novela tem, discutindo questões de um jeito que nem sempre se vê no ar.
OF: Que tipo de discussão social, por exemplo, você acha que pode se destacar em Sangue Bom?
SC: Não acho que seja o grande filão da novela, mas acho muito legal a forma como a adoção está sendo mostrada. Todo mundo incentiva a adoção e nem de longe eu condeno. Ao contrário, acho que é uma solução na vida de inúmeras crianças. Mas é preciso que se tenha um juizado de menores de olho em quem está adotando. Às vezes, uma pessoa tem todos os requisitos financeiros, mas falta controle emocional. Essa discussão é interessante.
OF: Sangue Bom faz uma crítica a pessoas que vivem de aparência e se preocupam mais com o "ter" do que com o "ser". E usa uma apresentadora de tevê para discutir um dos vértices dessa trama. Como lidou com essa crítica ao meio em que você trabalha?
SC: Achei natural. Na verdade, se a gente for analisar, qualquer campo profissional está muito em cima das aparências, do que você tem. Essa não vai ser só uma brincadeira com relação ao meio artístico, mas a qualquer um. É algo que a gente vê na medicina, na justiça, na engenharia e tantas outras áreas. Não vou ser hipócrita e dizer que não há atores assim, mas acho até que outros profissionais lidam de uma maneira pior com esse jogo de poder e interesse do que os artistas.
OF: A Amora, pelo jeito como trata as pessoas, é vista como uma espécie de vilã entre os seis personagens principais. Como você enxerga a personagem nessa reta inicial da trama?
SC: Não a vejo como vilã, até porque a Amora tem um passado que justifica a maioria das suas atitudes. E eu espero que a gente veja uma redenção dela ao longo da novela. Ali, temos três personagens que sofreram com o abandono. No caso dela, ficaram muitos traumas. Isso mexe com os valores, não consigo julgar essa posição. O grande problema é que ela não consegue olhar para o outro. Na teledramaturgia, normalmente, essa é uma das características dos vilões. Mas não é maldade, é mais defesa.
OF: Você fala em redenção e, pela história, essa parece mesmo a proposta. Em que caminho você tem investido para tentar conquistar a torcida do público?
SC: Eu não estou preocupada, por enquanto, em ganhar o telespectador. Mas, sem dúvidas, é na relação dela com o Bento que aparecem suas fragilidades e sua pureza. Tanto que esse reencontro dos dois faz com que se perceba que, apesar de ela ser aparentemente ftil e superficial, estou interpretando alguém que já teve uma leveza e pureza. E se a novela caminhar para mostrar isso, acho que vou poder trabalhar bastante em cima dessa transformação.
OF: Apesar de ser uma trama das sete, o humor não parece estar tão forte no ncleo principal. Existe abertura para isso mudar?
SC: Pelo que estou vendo, a comédia, de fato, não é a linha dos seis personagens centrais. Talvez aumentem isso com algum efeito de edição ou sonorização em determinadas sequências, mas o nosso foco não é fazer graça. A Amora, por exemplo, tem essa loucura por sapatos, com alguns até iguais. E a preocupação exagerada dela e da mãe com a imagem até rende umas situações cômicas. Mas nada muito caricato. É um tom bem diferente do que eu experimentei às 19 horas em Ti-Ti-Ti.
OF: Em Ti-Ti-Ti, que a Maria Adelaide Amaral também escreveu, você interpretou uma mulher com um comportamento fútil e deslumbrado. Chegou a sentir receio de se copiar em cena?
SC: Não bateu esse tipo de coisa porque lá era uma personagem que não tinha muita lógica. E isso abria a possibilidade de eu trabalhar um monte de coisas. Eram excentricidades e loucuras misturadas a armações que não davam em nada, mas com esse canal da total falta de lógica. Aqui, não. Desta vez, interpreto uma mulher inteligente e isso fica evidente o tempo inteiro. O Dennis Carvalho tem me ajudado muito a encontrar o tom certo.
OF: Essa é a quarta novela seguida em que você trabalha com Marco Pigossi, segunda em que fazem par romântico. Isso facilita ou atrapalha vocês?
SC: São papéis completamente diferentes, então não rolou uma preocupação. O Marco já é um grande parceiro, um ator que admiro bastante. Acho que a gente consegue tirar o melhor um do outro. E estamos crescendo juntos, começamos mais ou menos ao mesmo tempo na tevê e passamos por muitos trabalhos em comum. A nossa carreira é parecida, o que acaba nos aproximando. Então, é um facilitador, sem dúvida. Talvez se não fosse ele e se não rolasse essa energia que rola entre a gente, pudesse atrapalhar. Mas, do jeito que vem acontecendo, só tem nos favorecido.
OF: Dividir o posto de protagonista com cinco pessoas ameniza a responsabilidade da função?
SC: O fato de serem seis pessoas encabeçando a trama central nos fortalece. É uma união, estão todos no mesmo barco querendo e fazendo de tudo para dar certo. A Fernanda Vasconcellos já viveu isso várias vezes e a experiência dela ajuda a gente nisso. É uma divisão tanto das responsabilidades e inseguranças quanto das descobertas e alegrias. É muito mais gostoso e dá uma tranquilidade, sim, saber que um pode salvar o outro caso alguém se perca no meio.
OF: Desde que protagonizou Malhação, entre 2007 e 2008, você vem emendando uma novela em outra, sendo reservada antes mesmo de sair do ar. Como analisa essa trajetória em apenas seis anos de televisão?
SC: Olha, eu fico orgulhosa, sim, mas tento não pensar nessas coisas. Eu sei que chega uma hora em que a gente para, reflete o que fez até ali, o que ainda quer fazer e eu tenho mil planos. Só que agora o que me deixa mesmo feliz é poder circular por equipes diferentes. Conheci pessoas novas, repeti algumas parcerias nesses trabalhos, como com o Jorge Fernando, que me dirigiu duas vezes. Você falou seis anos agora e me senti estranha. De verdade, não tenho essa consciência de tempo. O que eu fiz foi seguir um caminho de acordo com as portas que se abriam.
Trajetória Televisiva
# Malhação (Globo, 2005) – Azaleia.
# Sítio do Picapau Amarelo (Globo, 2006) – Cinderela.
# Páginas da Vida (Globo, 2006) – Joyce.
# Malhação (Globo, 2007) – Angelina Maciel.
# Caras & Bocas (Globo, 2009) – Vanessa.
# Ti-Ti-Ti (Globo, 2010) – Stéfany.
# Fina Estampa (Globo, 2011) – Maria Amália.
# As Brasileiras (Globo, 2012) – Esplendor, protagonista do episódio A Sambista da BR-116.
# Sangue Bom (Globo, 2013) – Amora.
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