STJ manda soltar Oruam e ele cita a força da favela

O rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido como Oruam, voltará às ruas a qualquer momento. Isso após decisão do Superior Tribunal de Justiça, cuja liminar saiu na sexta-feira, 26 de setembro. O ministro Joel Ilan Paciornik avaliou como frágeis os argumentos usados para manter a prisão preventiva.

Famoso juiz comandou a defesa de Oruam

Oruam estava detido havia 66 dias, desde julho, quando se apresentou à polícia após confronto registrado em sua casa no Joá, Zona Sudoeste do Rio.

Na noite da libertação, o artista apareceu com semblante emocionado e soltou a frase: “Hoje em dia a favela tem voz”. A fala repercutiu entre fãs e colegas da música, marcando o retorno de um nome que já vinha crescendo na cena do rap nacional.

Para o ministro do STJ, os autos não apontaram dados concretos que justificassem a custódia cautelar. Ele destacou ainda que a quantidade apreendida – 73 gramas de cocaína – não sustentava uma prisão prolongada, sobretudo porque Oruam é réu primário e se apresentou de forma espontânea.

Vigília e apoio da família

Enquanto a decisão não saía, a noiva do rapper, Fernanda Valença, manteve firme sua presença em frente à penitenciária de Bangu. Na noite anterior à soltura, ela fez orações e cantou louvores, gesto que logo emocionou quem acompanhava a mobilização.

A família do cantor esteve ao lado dele desde o início do processo, reforçando a estratégia de defesa e a narrativa de perseguição.

Durante a prisão, Oruam se apegou à fé

Oruam acabou indiciado por sete crimes, entre eles tráfico, associação ao tráfico, resistência, desacato e lesão corporal. O caso ganhou repercussão porque, durante a ação policial, um adolescente de 17 anos fugiu da viatura após resistência dos amigos do cantor. A Polícia Civil relatou que ele teria impedido a apreensão do menor, procurado por tráfico e roubo de veículos. Pedras foram arremessadas contra a equipe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, agravando a confusão.

O nome de Oruam também carrega peso por sua ligação familiar. Ele é filho de Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, condenado por assassinato e tráfico, apontado como um dos chefes do Comando Vermelho. O rapper tem tatuagens em homenagem ao pai e ao traficante Elias Maluco, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes. Apesar disso, a defesa insiste que o artista constrói uma carreira independente, longe do crime.

Até o fechamento desta reportagem, Oruam ainda não havia deixado o complexo de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

‘Vou dar a volta por cima’

No momento em que se entregou em julho, acompanhado da mãe e da namorada, Oruam falou sobre arrependimento e prometeu mudança.

“Só pedir desculpa mesmo. Dizer que eu amo muito meus fãs. Eu vou dar volta por cima, tropa. Estou com Deus e tá tranquilão. Sou forte!”, disse, mostrando firmeza diante da imprensa.

A soltura, agora, abre caminho para que ele retome a trajetória na música. Segundo a decisão, a prisão preventiva será substituída por medidas cautelares, previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal.

Entre elas, estão o comparecimento periódico em juízo, a proibição de mudar de endereço e a entrega de documentos pessoais. O juiz responsável no Tribunal de Justiça do Rio ainda deve definir quais serão aplicadas.

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Para o STJ, o juiz de primeira instância usou justificativas genéricas, sem elementos concretos que indicassem risco de fuga ou de reincidência. O ministro Joel Paciornik citou a primariedade, os antecedentes e a postura do rapper ao se entregar como fatores que pesaram a favor da liberdade.

Com a decisão, o rapper deixa para trás 66 dias em regime fechado, período marcado por incertezas e orações da família. O episódio, embora polêmico, reforça o impacto de sua imagem na cena musical e a relação direta com a favela.